santa Teresinha do Menino Jesus: uma congregada mariana colegial



Alexandre Martins, cm

Maio de 2010


É sabido que dezenas de santos e bem aventurados participaram das Congregações Marianas e muitos ainda as fizeram florescer e as divulgaram o mais que puderam. Dos Pontífices, outras dezenas foram Congregados marianos e talvez o maior deles seja o Venerável Pio XII, por sua defesa intransigente das Congregações de Maria.

Porém, uma dificuldade em saber qual foi realmente um membro de uma Congregação Mariana - e, por conseguinte, um Congregado mariano, pois antigamente somente permanecia na associação quem se consagrava à Virgem Maria – é a falta de uma documentação adequada. Os hagiógrafos coletam muita informação e tendem a deixar de lado vários pormenores para focar numa atitude ou obra que seria o mais interessante para os leitores na sua opinião. De santa Rita de Cássia, por exemplo, falam muito da chaga da Paixão na sua testa, mas quase nada do ramo seco que ela regava como se vivo por obediência. Se escreve muito sobre a bilocação de são Pio de Pietrelcina, mas nada sobre sua conversa real e presencial com o seu Anjo da Guarda desde criança. Que diremos então da quase inexistência das citações sobre a participação de um santo nas Congregações Marianas?. No caso específico de santa Teresinha, mesmo as ditas “cronologias completas” de sua vida nada dizem de seu ingresso na Congregação Mariana no mesmo dia de sua Primeira Comunhão, ou seja, aos 8 de maio de 1884, aos 11 anos.

A bem da justiça nem sempre é culpa do escritor, pois somente alguém que conhece a fundo a história das Congregações Marianas pode distinguir aquela citada “associação mariana” de uma autêntica Congregação de Maria. Isto porque os nomes diferiam á época: Congregação de Maria, Pia União de Maria, Sodalício Mariano, etc. Mas uma leitura atenta de um especialista sabe diferenciar que agremiação é aquela.

Em santa Teresinha do Menino Jesus temos uma grande documentação de sua vida. E toda confeccionada pela própria por obediência a suas superioras. Na carta que reproduzimos aqui a própria Teresa nos dá a informação de sua Consagração marial em uma Congregação Mariana.

Santa Teresinha cita o termo “filhas de Maria”, o nome das participantes das Pias Uniões das Filhas de Maria1. À época eram associações que agrupavam moças solteiras e que se dedicavam primeiramente à Catequese paroquial, cultivando hábitos piedosos e morais que as distinguiam das demais jovens católicas.

Mas como sabemos que a “pia-união” de que fala a Flor de Alençon é realmente uma Congregação Mariana e não outra associação? Simples.Na Abadia beneditina a associação era dirigida somente às alunas. Isso é uma característica peculiar das Congregações Marianas. À época era comum em vários colégios as Congregações de Maria para alunos.

Sanada a dúvida, vejamos a carta autógrafa da santa francesa a Madre São Plácido2


Jesus

Carmelo, Dezembro de 18883


Minha Querida Mestra


Muito me sensibiliza a vossa amável atenção. Foi com prazer que recebi a carta circular das Filhas de Maria4 . De certo não deixarei de assistir em espírito a esta linda festa. Pois, não foi nesta capela bendita que a Santíssima Virgem se dignou adotar-me por a filha, no belo dia da minha primeira Comunhão e da minha recepção na Congregação das Filhas de Maria.

Não poderia esquecer, minha querida Mestra, que bondosa fostes comigo, nessas grandes épocas da minha vida, e não posso duvidar que a graça insigne da minha vocação religiosa germinou nesse feliz dia, em que rodeada das minhas boas Mestras, fiz a Maria consagração de mim mesma, ao pé do seu altar, escolhendo-A de um modo especial por Mãe, no dia em que pela manhã tinha recebido a Jesus pela primeira vez. Gosto de pensar que Ela não olhou então para a minha indignidade, e que na sua grande bondade se dignou tomar em consideração a virtude das caras Mestras, que com tanto cuidado me prepararam o coração para nele receber seu Divino Filho. Gosto de pensar que foi ainda por esta razão que Ela me quis tornar ainda mais perfeitamente Sua filha, concedendo-me a. graça de me conduzir ao Carmelo.

Creio, minha cara Mestra, que vos puseram ao corrente da doença de meu Pai muito querido. Temi durante, alguns, dias, que Nosso Senhor o arrebatasse à minha ternura; mas Jesus dignou-se fazer a graça de o restabelecer para o momento de minha vestição.

Todos os dias contava escrever-vos, para vos dar parte da minha recepção no Capítulo5, mas não sabendo o momento que o Senhor Bispo se dignaria fixar 6, esperava sempre.

Espero, minha querida Mestra, que não tomastes atraso por indiferença. Oh! não, o meu coração é sempre o mesmo; creio que depois da minha entrada no Carmelo se tornou ainda mais terno e amante. Assim, penso muito em todas as minhas boas Mestras e gosto de as nomear em particular a Jesus, durante as horas benditas que passo a seus pés. Ouso pedir-vos, minha querida Mestra, a fineza de serdes minha intérprete junto delas para me recordarem em sua religiosa lembrança em particular à Sra. Priora à qual conservo a mais filial e reconhecida afeição. Dignai-vos também não me esquecer junto de minhas companheiras das quais sou sempre a irmãzinha em Maria.

Adeus, minha querida Mestra. Espero que não olvidareis em vossas santas orações a que é e será sempre vossa reconhecida filha.


Sor. Teresa do Menino Jesus

post. carm. ind.7



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1- Embora há registros das Pias Uniões desde princípios do século XII, patrocinadas pela Ordem dos Cônegos regulares. O início mais aceito das Pias Uniões é da paróquia de Santa Inês Extra-muros em Roma, Itália. Em 1864, sobre o túmulo da própria virgenzinha, foi a Pia União, por cuidado do Pe Passéri, canonicamente ereta com regras e manual aprovado pela autoridade eclesiástica. O novo título foi de “Pia União das Filhas de Maria sob o patrocínio da Virgem Imaculada e de santa Inês, virgem e mártir”. Esta Pia União foi enriquecida com muitas indulgências e privilégios pelo papa Pio IX em Breve de 16/1/1866. O mesmo, em Breve de 16/2/1866, a elevou à dignidade de Primária, concedendo ao pároco de Santa Inez e, depois por Breve de 4/2/1870, ao Abade geral dos Cônegos regulares de Latrão, a faculdade de agregar todas as outras eretas ou a erigir em qualquer parte do mund, e de lhes comunicar as indulgências e os privilégios de que goza a mesma primária. Atualmente, há poucas Pias Uniões no Mundo em comparação à época, mas ainda tem o mesm o ideal de antes.

2 - Diretora do Pensionato na Abadia das Beneditinas de Lisieux, falecida a 10 de Dezembro de 1900.

3 - Carta dos começos de Dezembro de 1888. - in “Cartas de S. Teresa do Menino Jesus”, tradução do pe. Mariano Pinho , SJ., Obra das Vocações Sacerdotais, Salvador, BA, 1952, pp. 112-113

4 - A Abadia das Beneditinas de Lisieux preparava-se para celebrar a 13 de dezembro de 1888 o vigésimo aniversário de fundação das Congregação Mariana feminina para alunas do Pensionato. Teresa, como todas as antigas alunas que tinham feito parte desta associação, recebeu o bilhete de convite para a festa.

5 - trata-se da admissão à tomada de hábito que se dependia do Capítulo conventual.

6 - Para a cerimônia de Vestição de hábito a que monsenhor Hugonin devia presidir.

7 - esta carta e as outras lembranças de s. Teresa, conservadas pelas Beneditinas de Lisieux, desapareceram com os bombardeios que destruíram a Abadia em junho de 1944.

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