Prêmios e Presentes



Alexandre Martins, cm.


Há coisas que ganhamos. Outras, que conquistamos.
Presentes são coisas que ganhamos. Os motivos são variados: desde agradecimento até mesmo por piedade.
Prêmios são coisas que conquistamos. Não nos é dado senão por merecimento. Não se entende um atleta ganhar uma medalha de ouro por acreditarem que ele “fez algo de bom” mas porque ele foi melhor do que todos os demais, de que provou ser digno daquele prêmio. Por isso alguns campeonatos serem criticados quando o público nota algum favorecimento desleal...
Na Congregação Mariana tem-se divulgado infelizmente uma prática muito equivocada: “Dá-se fita” para qualquer pessoa que queira ser congregado.
No caso de sacerdotes, “dá-se fita” apenas porque o clérigo é o pároco e ele teve a obrigação de assumir a direção espiritual da Congregação apenas porque não tinha nenhum outro padre próximo. Pode-se entender o quanto isso deprecia um ato tão belo quanto o de ingresso numa Congregação Mariana. Um ato que foi louvado por tantos santos e pontífices.
A Consagração a Nossa Senhora, como o entende a Congregação Mariana, é uma atitude que deve ser provada de seu merecimento por parte do candidato. Por esse motivo que existem estágios anteriores de preparação, para discernimento e prova de atitudes. A preparação para a Consagração se dá no mínimo por meio de reuniões de instrução, nas quais se aprimora o conhecimento da Doutrina Cristã, da vida sacramental, da vida eclesial, para formar um bom cristão que será o ponto de partida para um bom congregado.
O discernimento se desenvolve em meditação por parte da pessoa interessada em ser um congregado mariano, usando para isso de todas as práticas inacianas de discernimento do espírito, respondem naturalmente a questões como “para que quero”, “por quê quero”, “o quanto quero”, etc.“ A Fé supõe o exercício da razão, da inteligência.”1
A prova de atitudes se demonstra na vida na Congregação Mariana, no conjunto preparatório comumente chamado de “Aspirantado” – ouvinte, aspirante e candidato – durante o qual a pessoa dá provas palpáveis e visíveis de seu comprometimento. “A Fé exige a fidelidade do comportamento”.2 Essas provas são várias e de acordo com a vida da Congregação aonde está, como por exemplo as visitas aos hospitais, a participação assídua nas reuniões e atos oficiais, a representação de seu caráter de Congregação no meio (o uso constante da fita azul é um exemplo clássico) e etc.“A fraqueza da Fé de muitos nasce de seus maus costumes”3
Tem-se visto com tristeza pessoas serem admitidas à Congregação Mariana apenas por serem “senhores ministros da Eucaristia”, “senhoras que eram Filhas de Maria”, “jovens engajados” sem passarem por estes estágios de preparação e discernimento. Percebemos que muitos usam da fita azul como mais um símbolo que adicionam aos vários que já ostentam, parafraseando o que o padre Jesus Urteaga classificava de carolas: “Beato...é aquele que pertence a oito confrarias e não descansa enquanto não entra na nona.”4
Tendo estes exemplos na comunidade eclesial, não é de se espantar que os jovens não sintam admiração pelos que são Congregados... “O homem de hoje procura testemunhas e mesmo escolhe mestre que são testemunhas”.5
Outro fato que vem disseminando-se é a admissão dos “bonzinhos”. São aqueles que apenas aparecem na Congregação, participam das reuniões (talvez pelo bom nível de doutrina demonstrada) mas não passam disso. Há alguns até com problemas que nunca poderiam participar efetivamente de nenhuma Ação Católica e muito menos de uma Congregação Mariana e que, talvez por medo dos diretores em diminuir o número de Congregados, são admitidos à Consagração.
Quanto aos sacerdotes, quão dista da atitude generosa e honrosa que os antigos clérigos – padres, bispos e até cardeais – tinham para com as Congregações Marianas, usando de toda a pompa das suas épocas para ingressarem como Congregados. A história nos dá vários exemplos:
Os Núncios da Sé Apostólica em Viena pertenciam quase todos à Congregação; sendo um deles recebido na Congregação de Grätz, foi, no mesmo dia da sua entrada solene, imitado por cinco bispos; outro, sendo arcebispo de Cápua em 1603, entrou na de Praga com o Arcebispo local em 1607, e ambos escreveram pelo próprio punho o seu nome no Catálogo; em 1611 entrava na de Cambrai o Arcebispo, acompanhado pelo Governador e principal nobreza da cidade.
Em Colônia, em 1666, era o Núncio o Presidente da Congregação, que se compunha de toda a nobreza da cidade. A de Nápoles teve começo em 1587 com o Núncio, três bispos, dois príncipes, o Almirante do Reino, dois duques e muitas outras pessoas de famílias ilustres. A de Cahors era presidida pelo próprio bispo, servindo-lhe de [vice-presidentes] as duas principais dignidades do seu Cabido, e tinha mais quarenta pessoas da mais luzida nobreza...
Em 1615 o príncipe Carlos de Lorena, bispo de Verdun, foi um dos Congregados mais fervorosos e elevou-se a tão subido grau de perfeição que, alcançando do Papa licença para deixar o governo da sua diocese, entrou na Companhia de Jesus, na qual morreu em odor de santidade. Costumava dizer que não sabia o que tinha feito para merecer tão especial favor do Céu, e que só explicava esta graça por ter o Senhor inscrito o seu nome entre os de sua divina Mãe.
A Congregação de Paris teve a honra de receber no seu princípio o venerável cardeal La Rochefoucault, cujo exemplo foi pouco depois seguido por mais de trinta arcebispos e bispos ilustríssimos por letras e virtudes; todos os dias repetia aquele santo prelado com particular devoção a fórmula grande da Consagração, e pouco antes de expirar repetiu-a pela ùltima vez com grande confiança, expirando santamente nos braços da Mãe de Deus.
O cardeal Alexandre Ursini, depois de ser por muitos anos Presidente da Congregação de Braciano, edificando a todos com as mais heróicas virtudes, teve a felicidade de espirar na oitava da Assunção, assistindo-lhe então visivelmente a Santíssima Virgem.”6

Vê-se que não é esta a atitude de muitos sacerdotes que, dotados talvez de um sentimento paternal, aceitam participar das Congregações Marianas para “não fazer feio” perante mais um grupo dentre tantos de sua paróquia. Uma prova prática desta atitude podemos verificar deste modo: quando aquele sacerdote que ingressou na Congregação Mariana da paróquia “A” é transferido para a paróquia “B” (onde não há nenhuma Congregação) ele participa mesmo que à distância da vida da Congregação Mariana aonde se consagrou? Ou melhor, ele procura fomentar uma nova Congregação Mariana na paróquia aonde está agora? Se a resposta for negativa para as duas perguntas anteriores não temos um Congregado “de fato” mas “de fita”, mesmo sendo um sacerdote. “Eles saíram de nós mas não eram dos nossos” (1Jo 2,19) E quantos sacerdotes são Congregados marianos de fato, promovendo as Congregações Marianas, incentivando-as entre os seus irmãos no sacerdócio, participando das romarias com outras Congregações Marianas...
O prêmio é dado aquele que merece. O presente é dado àquele de quem gostamos.
A Consagração marial é concedida àquele que a pede e da qual se faz merecedor. Um escapulário do Carmo é dado a todos aos quais queremos bem. Não confunda-se aumento da piedade mariana entre o povo com a multiplicação de congregados.
Santa Maria, Virgem escolhida, que sejamos dignos de tão grande escolha: as suas santas Congregações.


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1- d. Estevão Bettencourt, OSB, homilia em 30/4/2000.
2- d. Estevão Bettencourt, OSB, homilia em 30/4/2000.
3- s. Afonso de Ligório, “Prática do Amor a Jesus Cristo”, pág, 128
4- Jesus Urteaga, in “O Valor Divino do Humano”, ed. Quadrante
5- papa Paulo VI, cit. por d. Estevão Bettencourt, OSB, homilia em 4/7/1998.
6- Emíle Villaret, SJ cit pelo autor.

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