O cristão da calça jeans


Afinal, que se deve querer do jovem católico ? O jovem católico - é isto mesmo, aquele ou aquela de calça jeans e camisa branca com a palavra “jesus” bordado, usando cordão sempre aparente com uma cruz de madeira e uma medalha da Virgem...
Frequentemente somos acometidos de esterótipos. Duvida? Veja os comerciais de televisão. Eles desnudam nossos preconceitos: o papai que chega em casa do trabalho sempre está de gravata com uma pasta preta. A mulher que é decidida usa cabelo grande e roupa vermelha. A criança para ser inocente e pura é gordinha e loira, mas para ser traquinas é morena. O pobre é um preto velho, se for desafortunado. O pobre, se for bandido, é um preto magro e ágil. Discorda? Pense um pouco: você já viu algum comercial de restaurante com uma família de negros? Já viu um comercial mostrando um operário sem este ser gordo e barbudo? Já viu um padre na televisão sem ser velho, careca, de óculos ou sem um sotaque italiano? Exageros à parte, somos bombardeados a toda hora por preconceitos e figuras que nos fazem ter atitudes pouco humanas e pouco cristãs.
Em uma reunião de Congregação, num debate entre dois congregados, um deles perguntou lá pelas tantas que faria o outro se conhecêssemos alienígenas: se estaríamos dispostos a evangelizá-los como os europeus fizeram com os indígenas americanos. O outro respondeu, prontamente: “se eles forem pacíficos...”. Pobre homem ! Para ele, um extra-terrestre sempre quererá dominar o planeta Terra!
O congregado mariano, como ser humano, não está imune a este tipo de atitude, como vimos. Isto também se reflete em certas Congregações que desejam fazer insígnias especiais, uniformes e um sem-números de atitudes externas que são, em última análise, uma forma de se destacar na multidão. Devemos nos preocupar em ser não em aparentar -sem dúvida, a aparência de limpeza deduz que uma pessoa é asseada; da mesma forma, uma Congregação ativa deduz que é adepta da oração e do estudo - mas o congregado deve se abster de criar certo estereótipo sobre si mesmo. Vários congregados que são executivos não comparecem às reuniões de sua empresa de distintivo, como várias congregadas usam bermudas para as compras do supermercado. Como a Congregação forma a personalidade cristã, esta é ensinada a exercer uma atitude cristã, não um estereótipo cristão.
Mas qual o parâmetro? Como saber se estamos no caminho certo e não influenciados por A ou B? Simples. Retifiquemos a intençào com que fazemos alguma coisa. Para isso a meditação diária nos é necessária. Se não usamos o distintivo na Faculdade porque iremos nos destacar como “católicos oficiais” e afastaremos a oportunidade de diálogo com algum não-crente, é correto. Se deixamos de usar o distintivo em uma reunião paroquial porque não queremos “impor nossa oponião” aos demais, é errado.
Os Congregados eram conhecidos no Brasil-Colônia como aqueles que eram “comerciantes honestos, trabalhadores eficientes”1. Em nossa Sociedade pervertida e dispersiva, um jovem de atitude sadia, com vestes não-ofensivas, dedicado à seu trabalho e à sua família, é um exemplo de algo que um Congregado deve ser no dia-a-dia.
A experiência mostra algo de interessante: alguém, Congregado mariano, dá vários sinais que está enfraquecendo na vida consagrada justamente pelo uso das insígnias. Por mais estranho que seja, um Congregado que abandona sua vida de oração evita, digamos “esquece” frequentemente de usar sua fita. Curioso, não? E, pasmem, aquela Congregada que descura de sua pureza acha cada vez mais a fita “incômoda”. Estereótipos? Traumas? Psicose? Nada disso, apenas um fato. Se os símbolos nos ajudam a fortalecer nossa personalidade, ela como paasar do tempo deve não se basear neles e, ao invés, de aboli-los, deve usá-los para uma nobre finalidade.
O Congregado não precisa de calça jeans para dizer que é jovem. Não precisa usar terços pendurados no pescoço para dizer que reza frequentemente. As atitudes falam por si. Afinal, não usaremos distintivos no calção de praia, embora um Congregado é ele próprio mesmo na casa de veraneio.
Que a Virgem do Silêncio nos ensine a agir como ela agiu com Isabel e a esconder-nos como quando escondeu-se dos olhos dos homens para que somente o seu Filho aparecesse.



Alexandre Martins, cm.
31/12/1998


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1 - “Breve História das CC.MM.”, Antônio Maia, Rio, 1957.

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