A Pastoral do “Não Julgar”



Alexandre Martins, cm.

É comum irmos a alguma Missa dominical e ficarmos espantados com a postura inconveniente de algumas pessoas que se portam como estivessem em sua própria casa: de chinelos e bermuda, tomando água no cantil, usando o tablet para jogar, etc. Outras conversam animadamente como se estivessem em alguma festa, dando gargalhadas. É comum também nos perguntarmos do por quê não serem essas pessoas corrigidas pelos agentes de pastoral, ministros ou outros.
Bem, após o Concílio Vaticano II houve, no Brasil, uma tendência de “abrir as portas para todos” na Igreja. Isso, na prática, era chamar qualquer um a participar daquela “festa que era considerada a Liturgia e à qual todos deveriam ser convocados. Usava-se muito o texto do Evangelho segundo Mateus1 para justificar essa atitude. Como era uma época de relativismo religioso, procurava-se aceitar qualquer atitude do outro que aparecia, não o corrigindo, mas acreditando que seus atos eram “ puros” e que seus erros seriam “expressão particular de sua fé”.
Os Congregados marianos sofreram com essa atitude, e outras associações piedosas também.
Ora, eram justamente as associações pias, por meio de seus membros, agiam como que reguladoras dos excessos do povo: eram as Filhas de Maria que corrigiam as roupas das jovens moças e os Congregados que sugeriam a postura adequada dos rapazes. Em decorrência, cada um dos fiéis, por sua vez, orientava ou até mesmo criticava atitudes do povo nas celebrações, em especial os que eram “visitantes de ocasião”. “A Congregação é um corpo vivo: nenhum de seus membros deve estar inerte”, diz o pe. Villaret, SJ. 2
Após o Sagrado Concílio, os sacerdotes, segundo seu próprio pensamento, tomaram uma atitude diferente: proibiram que se fizesse qualquer tipo de censurar a quem quer que seja. O efeito prático foi que qualquer ia com qualquer roupa à igreja, e as atitudes litúrgicas do lugar sagrado foram abandonadas por quase todos. Num efeito decorrente, a famosa “defesa da Igreja” feita por várias associações, em especial os Congregados, foi abandonada quase por completo.
Surgiu o que se pode chamar de “pastoral do não julgar”, isto é, se a Igreja sem pre foi referencia de um lugar onde o correto era ensinado – mesmo contra as modas do Mundo – a partir daquele momento se tornara o ambiente das paroquias apenas mais um local com o tantos outros, pois o “não julguemos para não sermos julgados” era repetido à exaustão. Pior foi que esta atitude justamente veio em uma época aonde os costumes foram se degradando rapidamente, pois foi a época da masculinização da mulher, da androgenia, da pílula anticoncepcional como forma de liberdade sexual, do divórcio legalizado...
Por isso, hoje, as associações de fiéis não tem tanto vigor em corrigir seus membros nos costumes e muito menos manifestar-se publicamente em defesa da Igreja perante os ataques da Sociedade. São os frutos de épocas de mordaça imposta, infelizmente, por setores do Clero.
Por isso não há mais nenhuma pessoa reclamando ou corrigindo alguém que fala ao celular na Missa, ninguém retirando educadamente as crianças dos corredores laterais para qu enão corram ou seja a apatia se firmou e todo o tipo de distrações acometem o fiel nas Missas de Domingo sem que ninguém venha a intervir. “A partir dos anos da reforma litúrgica depois do Concílio Vaticano II, por um mal-entendido no sentido de criatividade e de adaptação, não se têm faltado os abusos, dos quais muitos têm sido causa de mal-estar”3
A solução está em uma atitude de zelo pelo espaço sagrado4 – usando uma denominação conciliar – que como sagrado deve ser preservado das modas do mundo, os sacerdotes podem e devem inculcara nos membros das associações e pastorais uma atitude de vigilância neste sentido de zelo pelo local e, mais ainda, de consideração e respeito pelos fieis que são frequentadores do local, se devemos respeitar o visitante com suas “esquisitices”, mais ainda devemos respeitar o frequentador assíduo que se sente incomodado com a atitude inconveniente do visitante.
A Liturgia cativa o meu corpo inteiro. Por meio de um conjunto de cerimônias, de inclinações, de símbolos, de cantos, de textos que se dirigem aos olhos, aos puvidos, à sensibilidade, à imaginação, à inteligência, ao coração, ela me orienta todo para Deus, ela me recorda que tudo em mim - olhos, língua, mente, sensibilidade, vigor físico e mental – se deve referir a Deus.”, nos recorda o Abade5 de Sept-Fons.

Lembremos que a maioria dos visitantes são pessoas que erram sem o saber e que, se não os corrigirmos, continuarão errando, e muitos deles começaram a frequentar a Igreja para justamente isso: serem corrigidos pela Verdade.
Que a Virgem Maria nos ensine a bem orientar os pecadores; Ela que, como Mãe, orientou Aquele sem pecado.


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1- “Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida que usardes para medir a outros, igualmente medirão a vós.” (Mt 7, 1)
2- citado em “Cuatro Siglos de Apostolado Seglar”, pág, 45.
3- Instrução Redemptionis Sacramentum sobre alguns aspectos que se deve observar e evitar acerca da S. Eucaristia, Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, 25 de março do 2004, §30
4- “O espaço celebrativo, por si, torna-se espaço sagrado. Deve, por isso, expressar a fé e a cultura: tornar presente o mistério da salvação no contexto concreto, situando-o no aqui e no agora. O espaço celebrativo deve conduzir à experiência do Mistério de Deus, em comunidade.” (Pastoral Litúrgica da Arquidiocese de Florianópolis/SC)
5- Jean Baptiste Chautard, in “A Alma de Todo Apostolado”, pág. 163

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