Maria e os Guaranis


Alexandre Martins, cm (org)


O Paraguai é a terra dos Guaranis onde os Jesuítas fundaram a “República dos Santos” no século XVII.
Durante 150 anos que estiveram os Jesuítas presentes, os índios viveram na dignidade cristã, trabalhando 30 horas semanais, segundo uma organização comunitária e igualitária impensável para a época. Suas inúmeras comemorações festivas davam lugar ao culto sagrado, à música e ao esporte.
Esse cristianismo nascera sob a insígnia de Maria, pois a primeira fundação se referia a “Loretto”, isto é, à santa casa de Nazaré da Galiléia, aonde a tradição afirma que viveu a Sagrada Família.
O dia em uma Missão guarani se iniciava com a oração do Ângelus e findava com a do Rosário. As Congregações Marianas (à época, chamadas Congregação do Rosário e Congregação do Escapulário) se reuniam aos Domingos, após o meio-dia. Nos dias de festa, organizavam-se procissões pelas ruas embelezadas com flores e plumas multicores de pássaros, e seguiam até a igreja, guarnecida de ouro e perfumada com incenso.
Em 1767, os jesuítas foram expulsos de toda a América Latina por conta das maquinações políticas da época. Alguns reis europeus não gostavam da independência que os indígenas tinham nas Américas e visavam o domínio e a ganância dessas terras. Pressionado por calúnias, pela bula Dominus ac Redemptor (21 de julho de 1773), o Papa Clemente XIV suprimiu a Companhia de Jesus.
Todos os sacerdotes deixaram as Missões. Uma parte dos Guaranis foi escravizada e parte dispersou-se pela floresta, mas levava consigo as imagens de Jesus e de Maria, companheiros do exílio e da agonia.
Os Guaranis somam 65% da população atual do Paraguai, que soube guardar a espiritualidade mariana.

Oração à Virgem das Missões

Ave Maria! Teu servidor te saúda em nome dos anjos e patriarcas, dos profetas, dos mártires, dos confessores, das virgens e dos castos; e eu te saúdo por todos os Santos gloriosos!
Ave Maria! Trago-te as saudações de todos cristãos, justos e pecadores. Os justos te saúdam porque és digna de ser saudada e porque és, para eles, a esperança de vida eterna; os pecadores, porque pedem o teu perdão e vivem na esperança de que teus olhos misericordiosos se voltarão para teu Filho, para pedir-Lhe que tenha piedade e misericórdia, ao lembrar-se da dolorosa Paixão que sofreu para a salvação dos homens e o perdão de seus pecados e culpas.
Ave Maria! Trago-te as saudações dos Sarracenos, Judeus, Gregos, Mongóis, Tártaros, Búlgaros, dos húngaros da Humgria menor, dos Nestorianos, Russos, Georgianos. Eles te saúdam por mim, pois deles sou o procurador. Na saudação que estou a dirigir-te, cedo-lhes um lugar para que teu Filho se disponha a lembrar-se deles, e para que tu possas obter d´Ele o envio de mensageiros que os encaminhem ao conhecimento e ao amor dedicado a ti e a teu Filho. De tal forma que eles possam obter a salvação e que, neste mundo, saibam e queiram vos servir, saibam vos honrar, com todo ânimo, vontade e poder, a ti e a teu Filho.1



O fascinante rosto de Nossa Senhora de Itati, na Argentina



Em 1615, dois missionários espanhóis, Irmão Alonso de Buenaventura e Irmão Luis de Bolanos, chegaram em Itati, pequena aldeia às margens do rio Paraná, onde fundaram uma Missão. 
 
Levavam consigo uma estátua da Virgem Santa e para ela construíram pequeno oratório, montado com seixos do rio.
Porém, alguns dias depois, o oratório foi saqueado pelos índios e a efígie de Maria desapareceu. Dias mais tarde, duas crianças Guaranis, quando, numa piroga, desciam o rio Paraná, perceberam a estátua, entre as águas, sobre uma pedra do rio. Ela se apresentava bem mais bela do que antes, cingida por radiante luz. Avisaram aos sacerdotes da Missão; toda a aldeia veio, em procissão, acolher a Virgem, milagrosamente reencontrada.
Um santuário verdadeiro foi erigido para Nossa Senhora de Itati e, pouco tempo depois, aconteceu um prodígio, que se repetiu inúmeras vezes, envolvendo a efígie de Nossa Senhora: eram transformações em seu rosto. A primeira ocorreu no Sábado Santo, em 1624.
Padre Gamarra, que oficiava naquele dia, dera o seu testemunho: o rosto da Virgem recebera um esplendor jamais visto até aquele dia, enquanto o Sacerdote entoava a antífona do "Regina Coeli". O Padre chamou os indígenas da aldeia e todos sentiram o mesmo encantamento: esta manifestação se estendeu até a primeira quinta-feira após a Páscoa, ocasião em que a face da imagem retomou o seu estado habitual. As transformações fascinantes do rosto da Virgem de Itati foram presenciadas por, pelo menos, sessenta pessoas, sendo confirmadas por testemunhos e consignadas nos Anais do Santuário.
A Virgem de Itati foi coroada no dia 16 de julho de 1900, por graça obtida do Papa Leão XIII. Em 1910, Nossa Senhora de Itati foi aclamada como a Santa Padroeira da nova diocese criada, a Diocese de Corrientes. Atualmente, um magnífico santuário se ergue em Itati, nesta pobre região, para onde afluem numerosos peregrinos, muitos chegando de longe, a pé, alguns muito pobres, igualmente, mas ligados de forma filial e singela à Mãezinha do Céu. A festa de Nossa Senhora de Itati é celebrada no dia 9 de julho.

Os guaranis são um povo que soube manter a Fé católica pois estavam sempre firmados na sua fé na Mãe do Redentor.

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1- Raymond Lulle, Le Livre d´Ave Maria (O livro da Ave-Maria) Extraído em Marie, julho-agosto de 1953

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