A fita que não uso
porque usar a fita
Sinais
externos são úteis e por vezes necessários em várias ocasiões e
ambientes. Na lIturgia Católica o uso de simbolos e sinais são
amplamente utilizados e apenas a vestimenta de um sacerdote faz
brotar em n[os sentimentos de piedade e devoção. Por exemplo, a
túnica branca que é usada pelos presbíteros e diáconos lembra-nos
a pureza com que devemos pautar nossa vida para que possamos servir a
Deus. As cores do tempo litúrgico indicam as predisposições que
devemos ter nesses mesmos tempos: vermelho, o amor; verda, a
esperança, roxo, a penitência, branco, a alegria...
As
associações de fiéis católicos, dentre as quais consta as
Congregações Marianas, possuem sinais externos de pertença e de
devoção. As Congregações Marianas do Brasil usam, desde fins do
século XIX, uma medalha prateada na ponta de uma fita azul que
circunda o pescoço. Vários textos foram escritos sobre uma certa
mística que a envolve e sua ostentação sempre foi motivo de júbilo
de mesmo de profecias: “a fita azul salvará o Brasil” é a
famosa frase do Cardeal Leme, referindo-se que a atitude de
apostolado e de busca de santidade dos congregados marianos seria a
salvação para um país de desmandos e pouca fé.
razões apresentadas para usar
não
faltam motivos para ser usada frequentemente: serve para propaganda
das Congregações Marianas, para servir de referencial na assembléia
paroquial, para colocar o congregado como um autêntico devoto, para
demonstrar a falta de respeito humano (que tantas vezes é pedido
pela Igreja ao fiel cristão), para demonstrar amor à Virgem Maria,
à Igreja e também uma santo orgulho de ser um filho dileto da Mãe
de Deus.
Se
muitos sacerdotes não sabem da existência das Congregações
Marianas, deve-se em grande parte da falta de fitas azuis nas Missas.
para não usar
Estranhamente,
há alguns que usam de justificativas para o seu não uso nas
ocasiões adequadas. Talvez movidos por uma compreensão equivocada
do que seja piedade ou mesmo estado de Graça, alegam esses que não
usam da fita por não quererem ofender os que não são congregados,
por não estarem eles frequentando a Congregação como deveriam, por
não quererem aparecer (alegam que a Virgem não apareceu diante do
Mundo então eles também devem imitá-la).
Nada
mais equivocado! A Mãe de Deus apareceu quando era nacessária sua
intervenção: perante os Sacerdotes do Templo para recriminar o
jovem sábio que tinha abandonado seus pais; nas Bodas de Caná, para
evitar vergonha dos anfitriões, suscitando do seu Filho o início do
Ministério antes da hora prevista; no Calvário, apresentando-se
como “a mãe do criminoso” e suscetível a ofensas e agressões;
etc.
Quem
acha que o “segredo de Maria é o silêncio”, não entendeu quem
foi a Virgem.
Entre
os sacerdotes, há os que creem que seu uso sobre as vestes
sacerdotais seria algo de anti-litúrgico ou mesmo profanador. Nada
há, na história da Igreja, contra o uso de um sacramental sobre as
vestes sacerdotais ou anexo a elas. E a fita azul é justamente isso,
um sacramental, assim como o Escapulário do Carmo, com suas
indulgências e bênçãos próprias.
exemplos de pessoas e suas práticas exteriores
Um
famoso exemplo de como uma prática move corações é o famoso caso1
de Ampére:
Um jovem de dezoito anos chegava em Paris. Ele não era incrédulo, mas sua alma já tinha sido mais ou menos ferida pelo que o Padre Gatry chamava de "crise da fé". Um dia, o rapaz entrou na Igreja de Santo Estevão do Monte (Saint-Etienne du Mont), e percebeu um senhor, que, piedosamente ajoelhado, rezava o terço num canto, junto ao santuário. Aproximando-se do idoso, percebeu que se tratava do senhor Ampère, seu ídolo; Ampère2 representava, para ele, a ciência viva, a sabedoria e a genialidade.Esta visão o emocionou até o fundo da alma. Ele, então, se ajoelhou, atrás do mestre, cioso de não fazer nenhum ruído. A oração e as lágrimas brotavam do seu coração. Esta foi a vitória plena da fé e do amor a Deus. Após esta experiência, Ozanam3 - era este o seu nome - se comprazia em relatar : "O terço de Ampère fez muito mais por mim do que todos os livros e até mesmo do que todos os sermões."
praticas exteriores incentivadas por santos
São
Josemaría Escrivá, famoso por indicar a discrição na piedade,
recomenda o uso constante do Escapulário de Nossa Senhora do Carmo
ao pescoço.
Santa
Catarina Labouré era a fabricante de um sem-número de “medalhas
milagrosas” e incentivava seu uso constante e visível.
São
Luís Grignion de Montfort incentivava o uso das “pequenas
correntes” pelos que haviam feito a sua Consagração Pessoal à
Santíssima Virgem, mesmo visíveis.
Por
mais pessoal que fosse uma devoção, muitos santos incentivavam sua
propaganda para que outros se sentissem motivados a tê-las. É um
erro achar que uma piedade escondida é mais meritória que uma
piedade divulgada. Os que usam de argumentos da Sagrada Escritura da
“oração em silêncio no quarto” esquecem do mandamento de “vá
e anuncie o que viu”.
utilidade hoje
Num
mundo aonde o visual impera e que a qualidade na maioria das vezes
cede à imagem, usar de uma insígnia de piedade serve, como no caso
de Ozanam e Ampére, para reavivar ou mesmo suscitar bons pensamentos
e nobres ideais.
Não
por acaso, quase a totalidade das chamadas “novas comunidades
eclesiais” possuem alguma espécie de cordão ou símbolo que
ostentam mesmo em ambientes irreligiosos, como shopping-centers.
Devemos
salientar que, no Brasil, o uso da fita azul é algo como que
“solene”, isto é, de uso em ocasiões especiais. As celebrações
eucarísticas são o momento clássico para o seu uso. Mas em
adorações ao Santíssimo Sacramento, na celebração da Liturgia
das Horas, e mesmo na recitação do Pequeno Ofício ou do Rosário
em conjunto, seu uso é indicado.
Dependendo
da utilidade pastoral dos Congregados, ou seja, o avivamento da
devoão e pertença a uma associação tão importante quanto a
Congregação, o uso da fita azul nas reuniões pode ser feito com
bastante proveito.
Em
reuniões públicas e solenes, tais como as assembléias, o uso da
fita azul é um sinal bonito e edificante.
Conclusão
O uso
coerente e consciente da Fita Azul é de muita utilidade para todos –
sacerdotes, leigos, congregados – e de uma propaganda que
dificilmente poderemos medir.
Seu
uso coerente e contínuo indica falta de respeito humano e de orgulho
de ser contado entre os filhos prediletos da Santíssima Mãe de
Deus.
A
própria piedade do Congregado se torna mais sensível e delicada.
Sua postura se torna mais digna nas celebrações e atos piedosos.
Se
foi criado tal objeto como a medalha e a fita azul, foi por pessoas
que, no passado, viram e constataram sua utilidade. Continuemos essa
tradição nos séculos que vêm.
Santa
Maria, virgem fiel, rogai por nós.
_____________________________________
1-
A. Larthe-Ménager, in André-Marie Ampère nos Contemporâneos, T.
4.
2- André-Marie Ampère (1775 - 1836), matemático e físico francês,
fundador do eletromagnetismo.
3-
Frederico Ozanam, fundador das Conferências Vicentinas