A Fita na Gaveta
Alexandre Martins,
cm.
No
Brasil, o uso de uma fita azul é característico dos Congregados
marianos desde os tempos do Império. É nossa melhor propaganda e
não devemos deixá-la na gaveta como apenas uma lembrança.
História
Não
se tem precisão desde quando uma Congregação Mariana iniciou o uso
de fitas azuis como suporte para a medalha que simboliza a
Consagração Perpétua à Virgem Maria. A medalha é citada desde o
século XVI, mas não o objeto que a sustenta.
O
que se sabe é que o impacto que o uso desta insígnia teve na
Cristandade foi tanto que influenciou a muitas outras associações.
O Apostolado da Oração, por exemplo, começou a usar fitas
vermelhas por influência do uso de fitas azuis pelos Congregados, ao
invés de somente o “detente”, que ficou estampado1
na fita dos Zeladores. Outros países usaram, e ainda usam, cordões
para suportas as medalhas, e outros lugares, como no Brasil, são
fitas azuis. Mas somente no Brasil há o costume de larguras
diferentes. De aspirante até Congregado as larguras aumentam
simbolizando, dentre outras coisas, o crescimento no amor à Virgem
Maria.
Influência positiva
Mas,
desde o momento que alguém coloca a sua primeira fita no pescoço,
percebe que sua presença começa a afetar outros à sua volta.
A
presença de uma insígnia religiosa em um ambiente religioso provoca
certa comoção nos presentes. Estes percebem que aquele não é
alguém comum, mas, pelo contrario, uma pessoa especial. É alguém
que fez uma opção mais radical de vida de santidade, e mais ainda,
não tem vergonha de demonstrar isso.
As
pessoas percebem suas atitudes, modos, e veem que poderão ser esses
os corretos. Em decorrência, começam a imitá-lo. É uma saudável
imitação de atitudes. O Congregado torna-se, assim, um exemplo
positivo para os demais. É um grande apostolado que a fita azul nos
faz fazer sem sentirmos.
Há
vários exemplos na História das Congregações:
“Ao lhes impor a medalha num dia tão frequentado ajuda também
muitíssimo que percebam que são Congregados e assim humildemente
vivendo forçam a seus familiares a cumprir os mandamentos e a
frequentar a Comunhão”.2
Um
fato bem comentado é do então Presidente Getúlio Vargas, quando de
uma concentração de congregados no Rio de Janeiro, em 1934,
admirou-se tanto com o número de homens de terno branco e tas
azuis que exclamou:“Parecem um exército ! Que será de
nós se eles vierem a se rebelar !” Ao que prontamente
um prelado ao seu lado replicou:“São o exército branco da
paz de Nossa Senhora, sr. Presidente. Não precisamos temer e,
sim, confiar. Eles estão sempre dispostos a ajudar nossa nação
!” 3
Manuel
Lubambo (...)Mariano cheio de amor à Rainha Aparecida do Brasil, via
na sua fita azul uma insígnia de chefe, tinha no seu terço a força
para as lutas, buscava nas suas regras as diretrizes de sua vida.
Essas lutas eram reais e sua vida era intensa. Era Congregado
escritor e orador, combatente, chefe dos movimentos contra a
Maçonaria, o Comunismo, a falta de patriotismo cristão.4
As sandálias do anti-triunfalismo
Houve,
na historia recente da Igreja na América Latina, uma atitude de
despojamento material como se o uso do belo e das honrarias fosse
algo que afrontasse a figura de um Cristo pobre e desprezado que
seria, segundo os adeptos dessa tendência, o Cristo “real” e não
o Jesus Cristo Rei do Universo.
Com
esta mentalidade – nada oficial na Igreja mas fruto de pensamento
pessoal de alguns padres e bispos – o termo “anti-triunfalismo”
foi disseminado e sutilmente colocado nas mentes dos leigos. O
resultado prático desse pensamento, dentre outros resultados
maléficos, foi que as pessoas começaram a frequentar as igrejas com
roupas desleixadas e até com roupas velhas e chinelos. Foi uma forma
de serem mais “pobres” e assim participar de uma Igreja
“preferencial pelos pobres”. Foi daí que surgiu o uso de
camisetas, calças jeans desbotadas e chinelos no Espaço sagrado.
Num
ambiente tão desleixado assim, o uso das insígnias religiosas como
a fita azul foi perdendo o seu espaço e, com isso, a perda da melhor
propaganda visual das Congregações Marianas. Não é de se espantar
que fossemos desconhecidos pela maioria dos religiosos nos anos 1990.
A fita, o decoro e a Liturgia
Então
o uso da fita azul promove também o decoro nas vestes na igreja?
Sim, pois certas combinações não caem bem com o uso da fita azul.
Não se trata de gosto pessoal mas de bom senso. Isso é visto nas
moças que optam pelo véu nas Missas: abandonam as calças jeans e
usam saias.
Da
mesma forma a fita azul dá ares de dignidade à pessoa que a usa. E
realmente um Congregado mariano é uma pessoa digna, pela opção de
doação que fez.
Diz o Catecismo Mariano:“O
Congregado deve ver a medalha da Congregação como uma comenda, uma
distinção de honra dada por uma rainha a seu combatente”.5
E
seu uso com as vestes litúrgicas? Nada há na Liturgia que o
desaprove. Muito pelo contrário, há bispos e padres que usam a fita
azul sobre os paramentos. D. Raimundo Damasceno a usa sobre o pálio
episcopal quando das Missas com os Congregados. Sabendo do
significado do pálio, a atitude não é pouca coisa.
Conclusão
O
Congregado mariano possui um apostolado simples e eficaz: o uso da
fita azul. É um apostolado que pode ser feito por qualquer um, a
todo o momento, sem precisar de mais nada. Teólogos e homens
simples, moças e empresários, jovens e idosos, todos podem fazer
este apostolado. As Congregações Marianas seriam mais conhecidas
com esse gesto e, em decorrência, mais cristãos poderiam conhecer o
caminho de santidade da Consagração à Virgem Maria nas suas
Congregações.Não
deixemos a nossa fita azul na gaveta.
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1-
o "Detente!",um recorte de pano onde se pinta ou borda a
figura do Coração divino emoldurado pela frase: "Detém-te!
O Coração de Jesus está comigo!" Santa Margarida Maria
Alacoque (Congregada mariana francesa) transcreve um desejo que lhe
fora revelado por Nosso Senhor: “Ele deseja que a Senhora mande
fazer uns escudos com a imagem de seu Sagrado Coração, a fim de
que todos aqueles que queiram oferecer-Lhe uma homenagem, os
coloquem em suas casas; e uns menores, para as pessoas levarem
consigo”. Nascia, assim, o costume de portar esses pequenos
Escudos. Ela confeccionou muitas dessas imagens e dizia que seu uso
era muito agradável ao Sagrado Coração.
2-
in “Carta del Pe Jaime Valles ao Pe. Provincial” - Butúan,
Espanha - 9/12/1913.
3-
D. José Gonçalves da Costa, CSSR, Arcebispo de Niterói (RJ),
Homilia no Dia Nacional do Congregado Mariano, Basília de
Nossa Senhora Auxiliadora, Niterói, RJ,1989. Citado no livro
“Perguntas a um Congregado”, deste autor.
4-
pe. Pedro Américo Maia, SJ, in “História das congregações
Marianas no Brasil”, Edições Loyola, São Paulo , SP, 1992,
pág.145
5-
“Union” - boletim do Colégio Nsa. Sra. De Lourdes, Valladolid,
Espanha, 1/12/1953