A fita que não uso




Alexandre Martins, cm.

  porque usar a fita

 Sinais externos são úteis e por vezes necessários em várias ocasiões e ambientes. Na lIturgia Católica o uso de simbolos e sinais são amplamente utilizados e apenas a vestimenta de um sacerdote faz brotar em n[os sentimentos de piedade e devoção. Por exemplo, a túnica branca que é usada pelos presbíteros e diáconos lembra-nos a pureza com que devemos pautar nossa vida para que possamos servir a Deus. As cores do tempo litúrgico indicam as predisposições que devemos ter nesses mesmos tempos: vermelho, o amor; verda, a esperança, roxo, a penitência, branco, a alegria...

As associações de fiéis católicos, dentre as quais consta as Congregações Marianas, possuem sinais externos de pertença e de devoção. As Congregações Marianas do Brasil usam, desde fins do século XIX, uma medalha prateada na ponta de uma fita azul que circunda o pescoço. Vários textos foram escritos sobre uma certa mística que a envolve e sua ostentação sempre foi motivo de júbilo de mesmo de profecias: “a fita azul salvará o Brasil” é a famosa frase do Cardeal Leme, referindo-se que a atitude de apostolado e de busca de santidade dos congregados marianos seria a salvação para um país de desmandos e pouca fé.


razões apresentadas para usar

 não faltam motivos para ser usada frequentemente: serve para propaganda das Congregações Marianas, para servir de referencial na assembléia paroquial, para colocar o congregado como um autêntico devoto, para demonstrar a falta de respeito humano (que tantas vezes é pedido pela Igreja ao fiel cristão), para demonstrar amor à Virgem Maria, à Igreja e também uma santo orgulho de ser um filho dileto da Mãe de Deus.
Se muitos sacerdotes não sabem da existência das Congregações Marianas, deve-se em grande parte da falta de fitas azuis nas Missas.

para não usar

Estranhamente, há alguns que usam de justificativas para o seu não uso nas ocasiões adequadas. Talvez movidos por uma compreensão equivocada do que seja piedade ou mesmo estado de Graça, alegam esses que não usam da fita por não quererem ofender os que não são congregados, por não estarem eles frequentando a Congregação como deveriam, por não quererem aparecer (alegam que a Virgem não apareceu diante do Mundo então eles também devem imitá-la).
Nada mais equivocado! A Mãe de Deus apareceu quando era nacessária sua intervenção: perante os Sacerdotes do Templo para recriminar o jovem sábio que tinha abandonado seus pais; nas Bodas de Caná, para evitar vergonha dos anfitriões, suscitando do seu Filho o início do Ministério antes da hora prevista; no Calvário, apresentando-se como “a mãe do criminoso” e suscetível a ofensas e agressões; etc.
Quem acha que o “segredo de Maria é o silêncio”, não entendeu quem foi a Virgem.
Entre os sacerdotes, há os que creem que seu uso sobre as vestes sacerdotais seria algo de anti-litúrgico ou mesmo profanador. Nada há, na história da Igreja, contra o uso de um sacramental sobre as vestes sacerdotais ou anexo a elas. E a fita azul é justamente isso, um sacramental, assim como o Escapulário do Carmo, com suas indulgências e bênçãos próprias.

exemplos de pessoas e suas práticas exteriores

Um famoso exemplo de como uma prática move corações é o famoso caso1 de Ampére:

Um jovem de dezoito anos chegava em Paris. Ele não era incrédulo, mas sua alma já tinha sido mais ou menos ferida pelo que o Padre Gatry chamava de "crise da fé". Um dia, o rapaz entrou na Igreja de Santo Estevão do Monte (Saint-Etienne du Mont), e percebeu um senhor, que, piedosamente ajoelhado, rezava o terço num canto, junto ao santuário. Aproximando-se do idoso, percebeu que se tratava do senhor Ampère, seu ídolo; Ampère2 representava, para ele, a ciência viva, a sabedoria e a genialidade.
Esta visão o emocionou até o fundo da alma. Ele, então, se ajoelhou, atrás do mestre, cioso de não fazer nenhum ruído. A oração e as lágrimas brotavam do seu coração. Esta foi a vitória plena da fé e do amor a Deus. Após esta experiência, Ozanam3 - era este o seu nome - se comprazia em relatar : "O terço de Ampère fez muito mais por mim do que todos os livros e até mesmo do que todos os sermões."


praticas exteriores incentivadas por santos

São Josemaría Escrivá, famoso por indicar a discrição na piedade, recomenda o uso constante do Escapulário de Nossa Senhora do Carmo ao pescoço.
Santa Catarina Labouré era a fabricante de um sem-número de “medalhas milagrosas” e incentivava seu uso constante e visível.
São Luís Grignion de Montfort incentivava o uso das “pequenas correntes” pelos que haviam feito a sua Consagração Pessoal à Santíssima Virgem, mesmo visíveis.
Por mais pessoal que fosse uma devoção, muitos santos incentivavam sua propaganda para que outros se sentissem motivados a tê-las. É um erro achar que uma piedade escondida é mais meritória que uma piedade divulgada. Os que usam de argumentos da Sagrada Escritura da “oração em silêncio no quarto” esquecem do mandamento de “vá e anuncie o que viu”.

utilidade hoje

Num mundo aonde o visual impera e que a qualidade na maioria das vezes cede à imagem, usar de uma insígnia de piedade serve, como no caso de Ozanam e Ampére, para reavivar ou mesmo suscitar bons pensamentos e nobres ideais.
Não por acaso, quase a totalidade das chamadas “novas comunidades eclesiais” possuem alguma espécie de cordão ou símbolo que ostentam mesmo em ambientes irreligiosos, como shopping-centers.
Devemos salientar que, no Brasil, o uso da fita azul é algo como que “solene”, isto é, de uso em ocasiões especiais. As celebrações eucarísticas são o momento clássico para o seu uso. Mas em adorações ao Santíssimo Sacramento, na celebração da Liturgia das Horas, e mesmo na recitação do Pequeno Ofício ou do Rosário em conjunto, seu uso é indicado.
Dependendo da utilidade pastoral dos Congregados, ou seja, o avivamento da devoão e pertença a uma associação tão importante quanto a Congregação, o uso da fita azul nas reuniões pode ser feito com bastante proveito.
Em reuniões públicas e solenes, tais como as assembléias, o uso da fita azul é um sinal bonito e edificante.

Conclusão

O uso coerente e consciente da Fita Azul é de muita utilidade para todos – sacerdotes, leigos, congregados – e de uma propaganda que dificilmente poderemos medir.
Seu uso coerente e contínuo indica falta de respeito humano e de orgulho de ser contado entre os filhos prediletos da Santíssima Mãe de Deus.
A própria piedade do Congregado se torna mais sensível e delicada. Sua postura se torna mais digna nas celebrações e atos piedosos.
Se foi criado tal objeto como a medalha e a fita azul, foi por pessoas que, no passado, viram e constataram sua utilidade. Continuemos essa tradição nos séculos que vêm.
Santa Maria, virgem fiel, rogai por nós.



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1- A. Larthe-Ménager, in André-Marie Ampère nos Contemporâneos, T. 4.
2- André-Marie Ampère (1775 - 1836), matemático e físico francês, fundador do eletromagnetismo.
3- Frederico Ozanam, fundador das Conferências Vicentinas

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