Vinícius: o Poetinha ex-Congregado mariano


Alexandre Martins, cm.

No dia do Centenário de Vinícius de Morais, rapidamente escrevo sobre o antigo aluno dos Jesuítas do Rio de Janeiro (RJ).
Vinicius de Moraes nasceu em 1913 no bairro da Gávea, cidade do Rio de Janeiro, filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta e violinista amador; e de Lídia Cruz, pianista também amadora. Segundo de quatro filhos, mudou-se com a família para o bairro de Botafogo em 1916, onde iniciou os seus estudos na Escola Primária Afrânio Peixoto, onde já se interessava em escrever poesias. Em 1922, a sua mãe adoeceu e a família de Vinicius mudou-se para a Ilha do Governador, ele e sua irmã Lygia permanecendo com o avô, em Botafogo, para terminar o curso primário.
Vinicius ingressou no Colégio Santo Inácio em 1924, onde passou de, além de participar da Congregação Mariana colegial, a cantar no coral e montar pequenas peças de teatro. Três anos mais tarde, tornou-se amigo dos irmãos Haroldo e Paulo Tapajós, com quem começou a fazer suas primeiras composições e a se apresentar em festas de amigos. Em 1929, concluiu o ginásio e no ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito do Catete - atual Faculdade de Direito da UFRJ. Na chamada "Faculdade do Catete", conheceu e tornou-se amigo do romancista Otavio Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.Três anos depois era censor cinematográfico junto ao Ministério da Educação e Saúde.
Na década de 1930 Vinicius de Moraes estabeleceu amizade com os poetas Manuel Bandeira, Mário de Andrade (também Congregado mariano) e Oswald de Andrade. Em sua fase considerada “mística”, recebeu o Prêmio Felipe D'Oliveira pelo livro “Forma e Exegese” (1935). No ano seguinte, lançou o livro “Ariana, a Mulher”.
Em 1936 Vinicius ganhou bolsa do Conselho Britânico para estudar Língua e Literatura inglesas na Universidade de Oxford. Em 1941, retornou ao Brasil empregando-se como crítico de cinema no jornal "A Manhã". Tornou-se também colaborador da revista "Clima" e empregou-se no Instituto dos Bancários.
No ano seguinte, foi reprovado em seu primeiro concurso para o Ministério das Relações Exteriores. Em 1943, concorreu novamente e desta vez foi aprovado. Em 1946, assumiu o primeiro posto diplomático como vice-cônsul em Los Angeles. Com a morte do pai, em 1950, Vinicius de Moraes retornou ao Brasil. Nos anos 1950, Vinicius atuou no campo diplomático em Paris e em Roma, onde costumava realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque de Holanda.
Em 1954, Vinícius publica sua coletânea de poemas, Antologia Poética, e também sua peça teatral Orfeu da Conceição, premiada no concurso do IV Centenário de São Paulo.
Do encontro entre Vinícius e Tom Jobim (à época com 29 anos) nasceria uma das mais fecundas parcerias da Música Brasileira, marcando-a definitivamente.
Em 1957 teve sua carreira diplomática transferida para Montevidéu, onde permaneceu por três anos.
No final de 1968 foi afastado da carreira diplomática tendo sido aposentado compulsoriamente pelo Ato Institucional Número Cinco (AI-5). O poeta estava em Portugal, a dar uma série de espetáculos, alguns com Chico Buarque e Nara Leão, quando o regime militar emitiu o AI-5. O motivo era seu comportamento boêmio que atrapalharia sua carreira. Estudantes salazaristas estavam aglomerados na porta do teatro para protestar contra o poeta. Avisado disto e aconselhado a se retirar pelos fundos, preferiu enfrentar os protestos e, parando diante dos manifestantes, começou a declamar "Poética I" ("De manhã escureço/De dia tardo/De tarde anoiteço/De noite ardo"). Então, um dos jovens tirou a capa do seu traje acadêmico e a colocou no chão para que Vinicius pudesse passar sobre ela. Ato imitado pelos outros estudantes e que, em Portugal, é uma forma tradicional de homenagem acadêmica.
Vinicius começou a se tornar prestigiado com sua peça de teatro "Orfeu da Conceição", em 25 de setembro de 1956. Além da diplomacia, do teatro e dos livros, sua carreira musical começou a deslanchar em meados da década de 1950 - época em que conheceu Tom Jobim (um de seus grandes parceiros) -, quando diversas de suas composições foram gravadas por inúmeros artistas. Na década seguinte, Vinicius de Moraes viveu um período áureo na MPB, no qual foram gravadas cerca de 60 composições de sua autoria. Foram firmadas parcerias com compositores como Baden Powell, Carlos Lyra e Francis Hime. Na década de 1970, já consagrado e com um novo parceiro, o violonista Toquinho, Vinicius seguiu lançando álbuns e livros de grande sucesso.
Na noite de 9 de julho de 1980, acertando detalhes com o violonista Toquinho, seu parceiro musical desde 1970, sobre as canções do álbum "Arca de Noé", Vinicius alegou cansaço e que precisava tomar um banho. Na madrugada do dia seguinte Vinicius foi acordado pela empregada, que o encontrara na banheira de casa, com dificuldades para respirar. Toquinho, que estava dormindo, acordou e tentou socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso (última esposa do poeta), mas não houve tempo e Vinicius de Moraes morreu pela manhã.
Vinícius foi anistiado post-mortem em 1998. A Câmara dos Deputados aprovou em Fevereiro de 2010 sua promoção póstuma a "ministro de primeira classe" do Ministério dos Negócios Estrangeiros - o equivalente a embaixador, cargo mais alto da carreira diplomática.
Um exemplo de “desistência mariana”, o Poetinha trocaria a Congregação Mariana da juventude pelo animismo panteísta dos terreiros de Candomblé.

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