O Celeiro de Vocações

jovens Congregados marianos no Encontro Nacional em Aparecida (SP), 2012


Alexandre Martins, cm.


Em um artigo publicado pelo jornal italiano L'Osservatore Romano em 2013 (“Crise das vocações religiosas? É culpa do zapping”) o franciscano José Carballo1 apresenta números preocupantes: em cinco anos, a Pontifícia Congregação para a Vida Consagrada concedeu 11.805 dispensas entre indultos, decretos de renúncia ou secularizações. No mesmo período, a Pontifícia Congregação para o Clero concedeu 1.188 dispensas de obrigações sacerdotais e 130 de obrigações do diaconato. Ou seja, em cinco anos, 13.123 religiosos ou religiosas abandonaram a vida religiosa, mais de 2.600 por ano.
Em 2014, ocorreu o 2º Seminário sobre a Formação Presbiteral, em Aparecida (SP). Uma iniciativa da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (Osib) e da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB. Grupos com a missão de animar a formação dos futuros sacerdotes e dos formadores na Igreja do Brasil. O arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da Conferência dos Bispos, cardeal Raymundo Damasceno Assis, participou da solenidade de abertura, no subsolo do Santuário Nacional. A proposta do evento foi refletir sobre a formação dos seminaristas na perspectiva humana e cristã, a partir do tema “Presbíteros segundo o Coração de Jesus para o mundo de hoje” e lema “Corramos com perseverança com os olhos fixos em Jesus” (Hb 12, 1-2). O objetivo principal é contribuir com ações efetivas na formação presbiteral. O assessor da Pastoral Vocacional da CNBB, padre Valdecir Ferreira, disse que o encontro é para avaliar a formação presbiteral no Brasil no contexto atual. “Percebemos o quanto essa juventude que ingressa em nossos seminários passa por mudanças significativas. Portanto, olhamos com muita esperança para a formação e ao mesmo tempo com preocupação”. O presidente da Osib, padre Domingos Barbosa Filho, explicou que após 13 anos da realização do último seminário é necessário buscar novos métodos formativos: “Diante das novas diretrizes da formação presbiteral, conforme o Documento 93 da CNBB e considerando os novos tempos, se julgou oportuno que fosse repensada a formação: os tempos mudaram, surgiram novos desafios, os jovens que recebemos nas casas de formação trazem problemáticas novas”.
Neste seminário uma pergunta foi insistentemente feita a todos e ao que parece ficou sem resposta ou, pior, saíram do evento com a resposta que “depende”... O relativismo impera inclusive nas determinações de alguns encontros.


sacerdotes e diáconos das Congregações Marianas no Corpus Christi 2012
O celeiro de vocações
Todo o Congregado mariano, já escutou a famosa frase; “as Congregações Marianas são celeiro de vocações”. Mesmo que os da cidade não saibam o que seja celeiro ou, se o sabem , não veem a relação com o assunto, entendem que essas associações dão vocações à Igreja.
Um celeiro é um lugar aonde se armazenam os grãos que serão consumidos, bem como o estoque das mais variadas coisas que serão úteis à fazenda ou que serão comercializadas. Os grãos, por exemplo, ficam lá, armazenados, quietos, esperando que o fazendeiro faça uso deles quando precisar.
È isto que os papas viam nas Congregações Marianas: os celeiros aonde estavam estocadas as vocações religiosas ou sacerdotais que iriam ser usadas na hora propícia.
No Século XX o próprio Papa Pio XI oferecia uma solução:
“...a penúria de sacerdotes é, por desgraça tal, que em absoluto já não alcança a remediar as necessidades das lamas, é quando mais devemos confiar na (Congregação Mariana) para que ajude e supra, oferecendo e multiplicando, com numerosos colaboradores deste estado laical, tão considerável escassez de Clero.”2

Hoje em dia é proibitivo dar preferência a esta ou aquela associação, não se pode favorecer a nenhum movimento, então os sacerdotes em sua maioria promovem encontros genéricos, aonde jovens são chamados quase sem critério, confiando nas luzes do Espírito Santo. É uma idéia romântica, e o que se vê são jovens que ainda não amadureceram a sua vida espiritual ou são apoiados por outros padres que os têm como “plantinhas em cultivo”. Na realidade, mesmo um padre zeloso não terá perto de si, em acompanhamento espiritual mais do que 3 ou 4 jovens vocacionados.

As associações de fiéis
Mas, procurando responder a pergunta dos padres do encontro, aonde e como resolver o problema das vocações sacerdotais?
A nosso ver, pela experiência e conhecimento conseguidos, são as associações religiosas que são as fornecedoras de vocações sacerdotais e religiosas. Simples assim.
Mas como as Congregações Marianas, várias associações e mesmo os movimentos eclesiais são aonde brotam e se desenvolvem as verdadeiras vocações. São em seus ambientes piedosos e genuinamente cristãos que um jovem sente o chamado para o Altar. São nas associações religiosas que uma vocação é colocada à prova e se verifica que não foi apenas uma ideia passageira, mas uma semente que se transformará numa árvore frondosa e forte.
Um extrato3 do relato de apostolado do fundador dos Padres Dehonianos exemplifica:
Em agosto de 1877 Pe. Dehon explicou no Instituto Lecompte, depois Instituto São João, as grandes linhas pedagógicas de sua obra. Queria dar à juventude da classe dirigente uma formação marcadamente cristã. Para conseguir estes objetivos, ele segue a mesma linha do Patronato e do grupo de jovens do Liceu: uma forte peso à piedade e ao apostolado, a criação de pequenos núcleos que animam os outros. A 16 de janeiro de 1878 foi fundada uma Conferência Vicentina como meio de apostolado. Geoffroy foi seu primeiro presidente. Dos doze primeiros membros saíram muitos sacerdotes: Geoffroy, Waguet, Delloue. Eugênio Lecomte morreu como seminarista. Pouco depois foi iniciada uma Congregação Mariana a qual também preparou muitas vocações, por exemplo, Emílio Black, que morreu poucos meses depois de professar na Congregação.
À guisa de conclusão da pastoral vocacional de Pe. Dehon nos diversos grupos de jovens, tanto na paróquia quanto no colégio, podemos afirmar que uma vocação normalmente nasce:
- num ambiente marcadamente cristão.
- na formação de lideranças em pequenos grupos.
- no apostolado junto aos outros.
- no acompanhamento que se dá aos jovens.
Os métodos daquele tempo são diferentes dos atuais. Os princípios, porém, são estáveis. Se quisermos ter vocações temos que formar a juventude. (grifo nosso)

jovens Congregados marianos em palestra de formação (São Paulo, 2011)
O valor inestimável das Congregações Marianas para as vocações
Como Congregado mariano, evidente que posso indicar as Congregações Marianas como uma “torneira de vocacionados” para a Igreja, pois a história de mais de quatrocentos anos de nossa associação assim o demonstra.
São fundadores de Ordens e Congregações religiosas os Congregados marianos Vincente Pallotti, Afonso de Ligório, Camilo de Lélis, João Eudes, Luís Maria Grignion de Montfort, Antonio Maria Claret, Pedro Chanel, Julião Eymard, Madalena Sofia Barat, Júlia Billiart, Francisca Xavier Cabrini, Vicenza Gerosa, Bartoméia Capitânio, Guilherme Chaminade, dentre vários outros.
(Na Congregação Mariana) há de querer-se, com razão, como um caminho e método que a Igreja utiliza para comunicar as nações toda a sorte de benefícios, caminho e método, dizemos, que parece pronto pelo favor e providência de Deus para que a Igreja mova e atraia docemente à Lei e à Doutrina Evangélica aos que, por não ter relação nem convívio com sacerdotes, se iriam facilmente atrás dos enganos e ardis perversos dos homens agitados.”4
Consultada a história, conhecemos florecentíssimas Congregações Marianas de sacerdotes. Também hoje existem magníficas Congregações destes em muitos países. Muitos são os Seminários donde tem vigor extraordinário as Congregações Marianas. Acomodam-se às exigências ministeriais e circunstâncias locais e de tempo. Delas tem saído fundadores de Ordens religiosas iniciadores de grandes obras de apostolado católico.”5

Uma solução simples
Então, para conseguir novas vocações precisa-se de encontros, caminhadas e tantas atividades? Cremos que não. Basta apenas o bom sacerdote ser zeloso com as associações de sua paróquia, dar mais atenção a cada um de seus membros e necessariamente as vocações irão surgir em tanta quantidade quanto os peixes na rede dos apóstolos.
È mais fácil do que se pensa.

Salve, Maria!


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1- secretário da Congregação para a Vida Consagrada, pe. José Rodríguez Carballo, OFM
2- Papa Pio XI em Carta ao Cardeal Bertran (13 de novembro de 1928)
3- Disponível em http://www.scj.org.br/pastoral-vocacional-do-padre-dehon/ Acesso em 1/2/14
4- ibid. Nota 2
5- D. Pablo, Bispo de Bilbao, Espanha, em Apresentação à edição espanhola do livro “Magistério Pontifício das CCMM”, Espanha, 1959.

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