O Apostolado dos Eméritos




Quão belo, para os cabelos brancos, saber julgar
e, para os anciãos, saber dar conselhos!
Que bela coisa a sabedoria dos velhos,
e a reflexão e o conselho naqueles que honramos!
A coroa dos velhos é uma experiência rica,
e sua ufania o temor do Senhor.
Eclesiástico 25, 4-6


A Regra de Vida de 1994 trouxe para a tradição das Congregações Marianas um fato novo: o Congregado mariano Emérito.
Diz a regra 52. São considerados eméritos os Congregados marianos que, pela idade, condições de saúde ou outro motivo relevante, ou porque emitiram a Profissão Religiosa, já não podem mais participar das atividades normais da vida da Congregação Mariana. São também Eméritos os Congregados marianos que deixam o estado laical ao receberem as Ordens Sacras. Esses Congregados Eméritos continuam participando de todos os bens espirituais das Congregações Marianas e podem ser apresentados a todos como modelos de fidelidade e testemunho de Vida Mariana.”
Embora a Regra expanda esta nomenclatura também para os que emitem a profissão religiosa e para os que recebem o sacramento da Ordem, é mais específica para os Congregados marianos que estão em idade avançada, na chamada Terceira Idade. A estes é permitida uma participação moderada na Congregação Mariana, em favor da idade e saúde.
Em tempos de valorização de uma “juventude eterna” aonde mais e mais pessoas buscam a permanência da vitalidade juvenil e se vestem e agem como jovens ainda que por mais décadas que acrescentem a sua idade, costuma-se esquecer do papel que os anciãos tem em nossa Sociedade.
Ora, é por meio dos antigos que temos a manutenção de um conhecimento adquirido e é por meio dos mais velhos que temos a preservação da memória histórica. “Um povo sem história é um povo sem alma”, diz um ditado.
Nas Congregações Marianas, temos a oportunidade quase única de estar em um ambiente onde coexistem as várias gerações. Desde os adolescentes (os “marianinhos”), passando pelos jovens e até os chamados eméritos, todos têm a sua colaboração para a completa e profunda educação cristã das consciências a que se propõe uma real Congregação Mariana. Se os mais jovens amadurecem com o convívio dos mais velhos, estes por sua vez remoçam na companhia dos mais novos.
É, se pergunta, uma atitude correta relegar o Congregado a uma “aposentadoria compulsória”? Não seria isto que muitos podem compreender do termo “Congregado emérito”? Não seria um desperdício para a vida da Congregação Mariana dispensar estes congregados só por que estão em idade avançada? Quantos exemplos podem nos dar aqueles que acumulam os anos de perseverança na Consagração Marial? Não estimula aos mais jovens, ainda aspirantes, talvez, a visão daquelas estrelinhas de jubileu nas fitas azuis dos mais antigos?
O apostolado dos eméritos é um apostolado silencioso. O silêncio eloquente que tanto se refere na compostura adequada do servo de Maria. Não é necessário que se peça muito daquele Congregado ancião. Basta a sua presença em uma reunião mais ampla que muitos o reconhecerão como um perseverante. Não te desvies da conversação dos velhos, pois também eles aprenderam com seus pais. Deles é que aprenderás a compreensão, e a dar a resposta no momento oportuno. (Eclo 8,9)
Os mais novos na Congregação Mariana verão até mesmo uma pequena estrela de prata ou ouro na fita daquele Congregado, simbolizando os anos perseverantes de serviço à Causa da Virgem Maria. Como desejarão ser assim no futuro! Isso tem tido o elogio dos Papas: “Nos alegramos de grande maneira do grande número de adultos Congregados, especialmente de leigos que, como anciãos, servem de exemplo aos jovens e lhes ensinam como devem cumprir seus deveres civis e religiosos”. (papa Pio XI, “Discurso aos Congregados Húngaros”, Roma, 25/04/1925).
Tive exemplo de vários antigos Congregados marianos antes da atual nomenclatura. O sr. Bezerra de Menezes, antigo Presidente nacional, que mesmo abalado pela idade era jovialmente ansioso em ir de Congregação em Congregação para que todo o Congregado fosse assinante da revista “Estrela do Mar”; O sr. Alarídio Domingues, perpétuo Porta-bandeira da Congregação, sempre fidelissimamente presente em todos os Atos Oficiais com seu terno branco, talabarte e fita azul; A sra. Lenir, com sua idade avançada ainda querendo aprender como ser uma melhor Porta-bandeira (como se já não o fosse); e tantos outros Congregados e Congregadas.
Deve-se evitar alguns extremos, como acreditar que ser “emérito” é ser “encostado”. Só por estar o Congregado mariano por assim dizer “dispensado” de uma presença mais ativa nos atos oficiais da Congregação, não quer dizer que esta deva deixá-lo de lado. Isso nunca pode acontecer. Não devemos nós, membros das Congregações Marianas, fazer com que em nossas associações aconteça o mesmo triste quadro de abandono que vemos na Sociedade civil, que deixa os anciãos abandonados em asilos. Se queremos transformar a Sociedade à luz de Cristo devemos começar a mostrar a todos como se deve fazer uma Sociedade justa a partir das próprias Congregações Marianas que serão o exemplo.
Outro extremo a ser evitado é o de deixar o Congregado mais velho sempre nas formações de Diretoria, como se somente ele tivesse responsabilidade e os mais jovens não. É como o “time que está ganhando não se mexe”. Analisado caso a caso, poderemos ver que, se em alguns momentos isso pode servir para a preservação de uma identidade de Congregação Mariana, mas por outro lado, pode manter a Congregação em um estado de apatia e imobilidade. Há muitos Congregados antigos que não mudam suas atitudes de apostolado porque simplesmente não veem as mudanças da Sociedade. É limitação pessoal. Não “mudar por mudar”, mas sim verificar conscientemente as transformações das mentalidades e fazer alguns ajustes para que a mensagem cristã seja assimilada em novos tempos, diferentes dos tempos onde viveram a sua juventude. Por exemplo, para que usar de cartas para comunicar os Congregados marianos, se a maioria usa o correio eletrônico na Internet? E ainda há os casos em que estão retornando as “práticas de sempre”, como se diz, que são as Ladainhas, Cânticos Marianos antigos e outras coisas que somente os mais velhos nos orientarão.
Diz a Escritura: Se não ajuntaste na mocidade, como encontrarás alguma coisa na velhice?” (Eclo 25, 3). Diz-se sempre que “o jovem não é tão responsável quanto os mais velhos”. Daí tiramos duas análises. A primeira é: a Congregação Mariana está formando o jovem corretamente? Se está, por que não formou nele aquela generosa responsabilidade que caracteriza o Congregado mariano? A segunda análise é: os mais antigos foram também jovens. Eles adquiriram esta responsabilidade somente com o acúmulo de anos? Ou foi um processo longo que começou na juventude? Será que já não eram responsáveis quando jovens e isso continuou na maturidade? Ora, não é isso que deve acontecer com os mais novos?
O mais velho educa o jovem e o jovem consola o mais velho. Isso deve ser uma tônica permanente nas Congregações Marianas. E isso será mais um apostolado que estas quadricentenárias associações prestarão perante tantas pastorais da Igreja no Brasil. Os mais velhos sejam sóbrios, ponderados, prudentes, fortes na fé, na caridade, na paciência.(Tito 2,2) Não está nas venerandas cãs a sabedoria, e a prudência nos velhos? (Jó 12,12)
Aos Congregados marianos eméritos, fica a firme promessa do Senhor: “Por mais velhos que vos torneis, permanecerei O mesmo, e vos carregarei até ficardes de cabelos brancos: Eu o tenho feito, e Eu vos continuarei carregando, Eu carrego e ponho a salvo”. (Is 46,4).

Alexandre Martins, cm.




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