Bernardo de Hoyos, o Congregado enamorado do Sagrado Coração.
Bernardo de Hoyos
Alexandre Martins, cm.
Eu não saio do Sagrado Coração;
quer este Divino Dono que eu seja
discípulo do Sagrado Coração de Jesus,
e discípulo amado:
s. Bernardo de Hoyos
Bernardo é considerado como o principal apóstolo do Sagrado Coração de Jesus na Espanha e, apesar de sua breve vida, pode ser considerado um extraordinário místico. Não escreveu grandes tratados. Somente instruções e documentos espirituais, alguns sermões, apontamentos e várias centenas de cartas - possivelmente mais de duzentas - ao seu diretor espiritual, o jesuíta João de Loyola.
Nasceu Bernardo em Torrelobatón em 21 de agosto de 1711, no dia seguinte à memória de São Bernardo de Claraval. Pela proximidade da festa os pais do nosso Bernardo lhe deram este nome. Mas também tem seu segundo nome de Francisco, por sugestão do Pároco da igreja de Santa Maria de Torrelobatón, onde foi batizado, pondo o menino sob a proteção de São Francisco Xavier. Seu pai chamava-se Don Manuel de Hoyos, nascido em Toro chamada então de Hoyos, daí seu nome canonico. Sua mãe era D. Francisca de Seña y Fuica, nascida em Medina del Campo em 1693.
Aos 9 anos de idade, Bernardo recebeu o sacramento da Confirmação em Torrelobatón, conforme costume da época. Tomás, seu tio paterno, influenciou a que Bernardo fosse estudar em Villagarcia.
Estando em Medina del Campo, Bernardo renunciou a todos os seus bens em favor de sua irmã Maria Teresa, então com seis anos. Seu pai faleceu aos 25 de abril de 1725. Numa parte do testamento de D. Manuel de Hoyos se lê:“...a meus filhos recomendo que sejam tementes a Deus e da própria consciência, trabalhando e procedendo segundo suas obrigações, porque assim merecerão o maior alívio e, sobretudo, o agrado da misericórida de sua Majestade que lhes guiará e lhes iluminará para seu santo serviço e para permanecer nele até sua morte, guardando obediência, respeito e veneração a sua mãe, avô, tio, e todas as outras pessoas, a fim de que consigam nesta vida o afeto de todos e na outra o descanso eterno”.
Sobre sua mãe, D. Francisca, lemos: “D. Francisca criou Bernardo com especial esmero e cuidado, dizendo algumas vezes que teria gravíssimo escrúpulo do menor descuido, porque se perdesse aquele filho, lhe diria o Céu que perdia um grande Santo”.
Aos dez anos, no Colégio Jesuíta em Medina del Campo, aprenderá a amar a Virgem, a quem “seus professores exortavam aos alunos a devoção a Maria Santíssima, Nossa Senhora”. O menino Bernardo sempre contemplava piedosamente no altar da igreja uma bela tela da Imaculada.
Em Villagarcía de Campos rezava com seus amigos de alojamento as Letanias da Virgem – uma prática diária, iniciada ao toque das oito horas. Era congregado mariano e se reunia com seus companheiros na capela da Congregação Mariana do colégio para as orações aos sábados.
Bernardo era um estudante colegial com destaque em três coisas: era baixinho, piedoso e vivaz. Na Colegiata, a igreja do Colégio, os alunos tinham a sua Missa diária às sete da manhã.
Mas por quê decidiu-se Bernardo a ser um jesuíta?
Além de sua vida na Congregação Mariana (Missa diária, comunhão nos Domingos e Festas, confissão frequente, etc), lhe impressionava o exemplo daqueles jovens noviços sempre alegres, levando as crianças do povo ao Catecismo, pedindo esmolas nas ruas. Além disso, seus professores eram todos jesuítas.
Não foi fácil a Bernardo seguir sua vocação. Precisava do aval de seus pais. Achavam que era apenas uma “paixão adolescente”. Mas não era. Conscientes disso, deram a permissão.
Em 11 de julho de 1726 seu nome é inscrito no Livro do Noviciado de Villagarcia. Quem mais teria influência em Bernardo seria o padre João de Loyola,. Sendo profundamente espiritual e com um tino de discernimento de almas, soube dirigir corretamente a Bernardo, que lhe tinha uma confiança total a ponto de lhe abrir o mais íntimo de seu coração.
Bernardo foi estudar em Medina com um claro propósito, tirado da vida do também congregado mariano são João Berchmans: “Não me envergonharei de praticar o que me ensinaram no Noviciado”. Terminou o Noviciado com quase 17 anos, emitindo os Votos simples perpétuos.
Nos três anos seguintes, grandes coisas aconteceram. No exterior era o mesmo Bernardo: alegre, vivaz, bom camarada, estudante dedicado, piedoso... Mas no interior ocorriam grandes experiências místicas, tanto dolorosas quanto gozosas.
Bernardo seguia os elevados propósitos da Companhia desde quando na Congregação Mariana: “a mediocridade não existia na visão de Inácio.” Possuía o jovem jesuíta uma inteligência viva. Mas não somente nos estudos era Bernardo um destaque: também no trato social e na pregação.
Bernardo a viveu nos sete anos na Companhia e de um modo mais intenso a partir de 3 de maio de 1733, quando da descoberta do Coração de Jesus e se deixará transformar por ela. A Eucaristia foi a raiz de sua descoberta da devoção ao Coração de Jesus, quando o amor e veneração da Eucaristia cresceu admiravelmente no nosso Bernardo.
No dia 15 de agosto, festa da Assunção de Maria, nosso Bernardo teve uma visão em que pode admirar a glória da Virgem no Céu. Viu Bernardo durante a Santa Missa e lhe disse Nosso Senhor: “O que hoje sentiu, é algo que aconteceu no Céu quando nele entrou minha Mãe. Tenha-a por sua: tudo o que me pedir por seu intermédio, não duvides que alcançarás, se é pela minha glória.”
Bernardo foi um grande enamorado da Virgem Maria e, de uma maneira especial do mistério da Imaculada Conceição. Isto percebemos desde seu ingresso na Congregação Mariana do colégio e de suas Letanias perante a tela da Imaculada. Mas parecia que tudo isso não lhe bastava. O amor à Virgem Maria que lhe ensinara a Congregação Mariana aumentava cada vez mais e queria fazer algo mais por Ela.
Em 1733, recebeu uma carta de seu amigo Agostinho Cadaveraz, sacerdote e professor de Gramática em Bilbao, que lhe pediu um sermão para a Oitava do Corpo de Cristo. Para que pudesse prepará-lo, padre Agostinho pediu a Bernardo que copiasse certos fragmentos dum livro - “De cultu Sacratissimi Cordis Iesu”, um livro sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus - e que os enviasse a ele. o irmão Bernardo pegou o livro na biblioteca da escola e o levou para casa para copiar os parágrafos que eram pedidos.
Eis o relato de Bernardo:“Eu, que não havia ouvido jamais coisa assim, comecei a ler a origem do culto do Coração de nosso amor Jesus, e senti em meu espírito um extraordinário movimento forte, suave e nada arrebatado nem impetuoso, com o qual me fui logo ao ponto diante do Senhor Sacramentado a oferecer-me a seu Coração para cooperar o quanto pudesse ao menos com orações para a extensão de seu culto. (...)Todo o dia transcorreu em notáveis afetos ao Coração de Jesus, e ainda estando em oração, me fez o Senhor um favor (...) Mostrou-me seu Coração todo abrasado em amor, condoído do pouco que se lhe estima.”
Bernardo de Hoyos trabalhou então para que a devoção ao Coração de Jesus fosse conhecida em Espanha, na América Espanhola e em todo o mundo. Pediu a seu diretor, padre Loyola, que escrevesse um livro entitulado “Tesouro Escondido no Sacratíssimo Coração de Jesus”. A primeira edição do livro foi publicada em Valladollid em 1734. Foram enviados exemplares à Casa Real de Espanha, a bispos e arcebispos, e a muitas parte da Espanha e também da América. Numerosos bispos e arcebispos concederam indulgências aos que o lessem.
O êxito editorial do “Tesouro Escondido” foi impressionante. A primeira edição, de 1734 em Valladolid, foi seguida por outra em Barcelona no ano seguinte. No ano de 1738 foram feitas oito edições!
Em 2/01/1735 foi ordenado Presbítero, celebrando sua primeira Missa no colégio de S. Inácio de Valladolid, em 6 de janeiro.
Em Agosto, passa para o Colegio de santo Inacio, dos Jesuitas, em Valladolid. É completamente infectado pelo tifo. Em 19 de novembro se agrava sua saúde, recebe o Viático e a Unção dos enfermos. Em 29 vem a falecer com a idade de 24 anos, 3 meses e 9 dias. Em tão pouco tempo de vida chegou a ser o iniciador e o grande apóstolo da espiritualidade do Coração de Jesus na Espanha.
O processo de canonização foi iniciado em Valladolid em 1895. O papa João Paulo II o declarou Venerável em 12/01/1996, lendo o decreto de suas virtudes heróicas.
Foi beatificado em 10 de abril de 2010 por Bento XVI na mesma diocese de Valladolid..
Bem-aventurado Bernardo de Royos, rogai por nós!
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