Medalhas e símbolos



O Homem de hoje procura testemunhas
e mesmo escolhe mestres que são testemunhas.
bem-av. João Paulo II1


Com uma arrancada espetacular a atleta de Sérvia-Montenegro deixa para trás a que tinha tido a supremacia da corrida por todo o percurso. Na linha de chegada, sagrada campeã da Corrida de São Silvestre, traça sobre si, com gestos largos, os três sinais da cruz ao estilo oriental. 

Ainda na mesma prova atlética, o jovem paraibano, com simplicidade e sem demonstrar nenhum cansaço, cruza a prova com o mesmo símbolo que o tinha acompanhado toda a corrida: o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, visível sobre a camisa.

Simples gestos, simples provas de uma religiosidade simples. Fé esta vivida nos momentos marcantes e mesmo os mais simples da vida. 

Somos simples no trato com nossos símbolos? Somos abnegados em demonstrar aquilo que somos interiormente? Ou usamos uma “máscara” para cada ambiente em que visitamos?

Máscaras para o ambiente de trabalho, máscaras para nossos amigos, para nossos colegas, para nossa escola, para a rua aonde moramos, etc. Uma mascara para cada dia, para cada momento, para cada pessoa. No final, qual é nossa verdadeira face? Sabemos qual no meio de tantas outras caras?

Nosso querido Brasil é tristemente conhecido como o local aonde os que tem o grau de doutorado em alguma área de conhecimento – os doutores propriamente ditos – não gostam de serem chamados de “dr. Fulano” ou “dr. Sicrano”. “Chame-me de professor ou de Mário, deixemos de formalidades!", diz alegremente o intelectual. Mas também é o país que os que não são doutores, mas uma “liturgia” do cargo o alcunha, adoram ser chamados assim: os delegados de polícia, advogados, engenheiros de estatais, diretores-administrativos do serviço público, etc. Outros que não tem “anel de doutor” compram uma cópia e o usam até na praia. Certos dentistas colocam nas paredes de seu consultório diplomas e certificados de todos os cursos e palestras que participaram – uma forma de compensar a falta de outros diplomas. 

Essas atitudes vaidosas provocam nos corações sinceros uma certa repulsa a exibirem os justos sinais de suas conquistas pessoais, mesmo se tais conquistas forem apenas fruto da constância em determinada atividade, como o marinheiro que em sua farda usa uma comenda de serviços prestados por tantos anos à Pátria e se sente desconfortável ao demonstrar isso no peito. 

Nós, membros da congregação Mariana, não devemos ser como estes “falsos humildes”. Digo “falso” porque muitos querem que a revelação de tal surpresa – seja a graduação acadêmica, a distinção de algum cargo ou outras – seja realmente impactante e atraia comentários do tipo: “puxa, nem parece que o João é juiz de direito, veja como ele serve o churrasco!”. Falsa humildade que em quantos já percebemos isso, não ?

Abandonemos as máscaras que tantos usam e sejamos simples no demonstrar o que somos. Sou congregado: por que não usar minha medalha naquela liturgia? Quão edificante será para outros. Sou congregada: por que não ter aquele distintivo “de sobra” na bolsa? Aquele momento pede. 

Alguns bons sacerdotes se privam de elogiar publicamente as Congregações Marianas em publico, com o receio de “ofender” católicos que não o são. Mas não estarão se envergonhando dessas cidades de Maria? Pobres homens de Deus... Não sabem que deixam de alentar uma vocação ou mesmo de servir de exemplo a novos movimentos eclesiais? Bem referia a elas, sem nenhum respeito humano (e sem máscaras) o bispo, e também Congregado mariano, são Carlos Borromeu:
quando alguém me pergunta o meio para ser mais católico e santo, digo: ingresse numa Congregação Mariana.”

 

O cônego Manoel Eugênio Moreira, pároco da cidade de São Gonçalo(RJ), sempre atribuía a sua vocação sacerdotal – tanto sua descoberta quanto a manutenção – a ser membro da Congregação Mariana. Isto, dito em muitas de suas homilias, acalentava o coração de muitos jovens congregados e de outros não tão jovens assim. Vocações sacerdotais e religiosas viram naquele exemplo o quanto de bem pode fazer uma associação da Igreja no coração de jovens almas levando-as a cumprir o chamado do Senhor... Um Cônego que usava seu anel e sua batina especial2 sempre que a ocasião pedia. Não usava nenhuma máscara: era autêntico como deve ser um bom Congregado.

Hoje em dia, o Mundo vive imerso na matéria; portanto é preciso que nós lhe façamos conhecer o bem que vamos realizando. Se um homem com as suas orações multiplicar milagres, mas dentro do próprio quarto, ninguém dará por isso. E, no entanto, o Mundo, para sua salvação, precisa ver e tocar essas maravilhas.”3

Portanto, usemos nossos símbolos. Se todas as Congregações Marianas colocassem ao menos uma frase “obra da CM”, em suas atividades, assim como nos produtos vemos um “made in Brazil”, veríamos o quanto de bem que estas quadrisseculares associações fazem à Igreja e ao mundo atual. 

Que a Virgem Senhora, mestra de humildade, nos ensine a realizar a verdadeira humildade, aquela que, como diz o radical da palavra “terra”, em grego, nos coloca no lugar aonde devemos estar: aquele lugar que Deus quer que fiquemos e, a partir dele, possamos fazer no mundo a obra de Maria, que nada mais é que a obra de seu Filho, Jesus.

Alexandre Martins, cm.





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1- citado por D. Estêvão Bettencourt, OSB, homilia em 4/7/1998
2- o anel de um Cônego é semelhante ao episcopal, com pedra vermelha; a batina negra tem frisos vermelhos como a dos bispos e ainda veste roquete branca.
3- s. João Bosco, Vida, págs. 390-391

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