Regras fundamentais das honras conferidas a Maria
Alexandre Martins, cm.
Jacques
Benigne Bossuet nasceu em uma família de magistrados em 1627, em
Dijon, França.
Recebeu
educação num colégio jesuíta, aonde ingressou nas Congregações
Marianas.
Destinado
à vida religiosa, recebeu tonsura aos 10 anos, conforme costume da
época. Aos quinze foi para Paris estudar teologia no College de
Navarre, onde presenciou os motins da Fronde (um levante de
amotinados contra o absolutismo real). Em 1652 foi ordenado
presbítero e recebeu seu doutorado em Teologia. Seu pai obteve-lhe a
indicação para cônego na Mogúncia (Metz) onde ficou popular como
orador em controvérsia com os protestantes. Dividiu o tempo entre
Metz e Paris até 1659 e a partir de 1660 raramente deixava a
capital. Lá, pregou os sermões da Quaresma em dois famosos
conventos, dos franciscanos mínimos e dos carmelitas, e em 1662 foi
chamado a pregar para o rei Luís XIV.
Ficaram
famosas suas orações fúnebres, principalmente nos funerais de
Henrietta Maria de France, rainha da Inglaterra e de sua filha
Henrietta Anne da Inglaterra, cunhada de Louis XIV; da princesa Anne
de Gonzague, do chanceler Michel Le Tellier, e o do grande Condé .
Foi
designado bispo de Condom (1669), no sudoeste da França, mas,
escolhido para tutor do Delfim - o filho mais velho do rei -
renunciou ao bispado e ingressou à Corte, onde teve a oportunidade
de aperfeiçoar seus conhecimentos e integrar-se na política. Eleito
para a Academia Francesa, foi também nomeado Conselheiro do Rei. Foi
designado bispo de Meaux em 1681, deixando a Corte. Manteve amizade
com o Delfim e o Rei. Foi um bispo dedicado, pregando e ocupando-se
de organizações de caridade, poucas vezes deixando sua diocese.
Promoveu uma assembleia geral do Clero francês em 1681, cujo
documento final redigiu e na qual ficou definido que o papa era
autoridade em matéria religiosa somente.
Se
envolveu também em outras questões como o Jansenismo1
e o Quietismo2,
esta pregada pelo arcebispo de Cambrai, Francois Fenelon, condenada
por Roma em 1699. Contra Fenelon escreveu Instruction sur les
etats d'oraison (1697) e Relation sur le quietisme (1698).
Também atacou violentamente o teatro francês como “imoral” no
seu Maximes et reflexions sur la comedie (1694).
Seu
livro “Política tirada das Santas Escrituras” (1708) valeu-lhe a
reputação de “teórico do Absolutismo”3
. Nessa obra ele desenvolve a doutrina do Direito Divino segundo a
qual qualquer governo formado legalmente expressa a vontade de Deus é
sagrado, e qualquer rebelião contra ele é criminosa. Em
contrapartida, o Soberano deve governar seus súditos como um pai, à
imagem de Deus, sem se deixar afetar pelo poder. Escreveu também
“Exposição da Fé Católica”, “História das Variações das
Igrejas Protestantes” e “Discurso sobre a História universal”.
Bossuet
faleceu em Paris em 12 de abril de 1704. É famosa sua frase:
“A Igreja (é uma) cidade
edificada para os pobres; é a cidade dos pobres. Os ricos (são)
somente tolerados...”
Os
extratos a seguir são parte de sua obra La dévotion à la Sainte
Vierge (A devoção à Virgem Santíssima):
“A regra fundamental das
honras que conferimos à Virgem Santíssima e aos espíritos
bem-aventurados, é que devemos atribuí-las, inteiramente a Deus e à
nossa salvação eterna. Pois, se ela não fosse atribuída a Deus,
seria, então, um ato puramente humano, e não um ato religioso; e
nós sabemos que os santos, vivendo plenos de Deus e de Sua eterna
glória, não recebem cumprimentos puramente humanos.
Assim, toda a nossa devoção
à Santíssima Virgem é inútil e supersticiosa, se ela não nos
conduzir a Deus, para que possamos possuí-Lo para sempre e
usufruir a Herança celeste.
Nós adoramos um só Deus,
todo-poderoso, criador e dispensador de todas as coisas, em nome do
qual fomos consagrados pelo santo Batismo...
Nós veneramos os santos e a
bem-aventurada Virgem Maria, não por meio de um culto de servidão e
de sujeição; pois somos submissos somente a Deus, nas regras da
religião. "Nós honramos os santos - diz Santo Ambrósio - com
veneração de caridade e de sociedade fraternas."
E reverenciamos, neles, os
milagres saídos das mãos do Altíssimo, a comunicação de sua
graça, a efusão de sua glória, e a santa e gloriosa dependência
pela qual os santos permanecem eternamente sujeitos a este primeiro
Ser, a quem levaremos todo o nosso culto, como único princípio de
todo o nosso bem, e fim único de todos os nossos desejos.
Não sejamos como aqueles que
pretendem diminuir a glória de Deus e de Jesus Cristo, quando
dedicam altos sentimentos à Virgem Santíssima e aos santos.
Mas eis uma outra regra do
Cristianismo, que peço, graveis em vossa memória. O cristão
deve imitar todo o seu objeto de veneração: tudo o que é
objeto de nosso culto, deve ser modelo para a nossa vida.
Quando celebramos os santos,
será que é para aumentar a sua glória? Eles já estão plenos,
realizados e felizes; o fato de os celebrarmos nos incita a seguir o
seu exemplo. Assim, em proporção ao respeito que temos por eles, e
isto, por amor a Deus, nós nos engajamos a imitá-los.
Este é o desígnio da Igreja,
nas festas celebradas em honra aos santos, intenção declarada, por
meio desta bela oração: "Ó Senhora, dai-nos a graça de
imitar aqueles que veneramos..." Eis, então, a tradição e a
doutrina constante da Igreja católica, que considera que a parte
mais essencial do mérito dos santos é a de saber aproveitar seus
bons exemplos.
Se não tentarmos nos adaptar à
paciência dos mártires, nós os celebraremos em vão. É necessário
que sejamos penitentes e mortificados como os santos confessores,
quando celebramos a solenidade dos santos confessores; é necessário
que sejamos humildes, pudicos e modestos como as virgens, quando
veneramos as virgens, mas principalmente quando veneramos a Virgem
das virgens.
Ó filhos de Deus, vós que
desejais, em toda felicidade, ser adotados pela Mãe do nosso
Salvador, sede fiéis imitadores dela, se quereis estar entre os seus
devotos.
Recitai, diariamente, o
admirável cântico da Virgem Santíssima, que se inicia com estes
termos: "Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta
em Deus, meu Salvador." Ao recitarmos este cântico, estaremos
copiando a sua piedade - diz, de forma primorosa, Santo Ambrósio:
"Que a alma de Maria esteja em todos nós para glorificarmos o
Senhor; que o espírito de Maria esteja em todos nós, para nossa
alegria e regozijo em Deus."
Nós admiramos, a cada dia, a
sua pureza virginal que a tornou tão maravilhosamente fecunda, que
ela concebeu o Verbo de Deus em suas entranhas. "Sabei, diz o
mesmo Pai, que toda alma casta e pudica que conserva sua pureza e
inocência, concebe a Sabedoria eterna em si, e que está plena de
Deus e de sua Graça, assim como Maria."
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1
- heresia que surgiu na França e Bélgica, no século XVII e se
desenvolveu no século XVIII. Tem esse nome porque seguia as ideias
do Bispo Jansênio. Para o Jansenismo, os homens já nasciam
predestinados ao céu ou ao inferno, nada podendo mudar esse
destino. Deus então era cruel e injusto, pois que já criava alguns
para irem ao inferno. Para o jansenismo, no fundo, o homem não
teria livre arbítrio, não teria liberdade: estava destinado a
fazer o que lhe acontecia na vida.
2
- heresia do século XVII, criada pelo padre espanhol Miguel de
Molinos. Segundo ela, se alcança Deus através da oração
contemplativa e da passividade da alma. Assim ficaria reduzida toda
responsabilidade moral. Foi condenada pelo Papa Inocêncio XI.
3
- teoria política em que uma pessoa ( um monarca) deve obter um
poder absoluto, independente de outro órgão - judicial,
legislativo, religioso ou eleitoral.
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