O não-Apóstolo
Alexandre Martins, cm.
Certa
vez, um membro da Congregação disse em uma reunião que não tinha
vocação para o apostolado. Disse isso momentos depois de dizer e
mostrar-se disponível a qualquer cargo na Congregação.
Respondi
a ele que ele não entendia o que era realmente apostolado, o que era
bom, e o bem que isso produzia para os homens.
Muitos
agem da mesma forma: não entendem a real imagem do apostolado, do
ser apóstolo.
Há
diversos tipos de apostolado, como também há diversos tipos de
“apóstolos”.
Embora
essa palavra tenha sido quase esvaziada do seu belo significado, seja
por protestantes que usam apostolado e evangelismo da mesma forma,
seja por leigos desinformados que fazem qualquer atividade na Igreja
achando que é apostolado, o apostolado é algo característico do
leigo católico. O apostolado é por assim dizer o fruto de uma vida
interior corretamente vivida.
Não
admira que tantos façam atividades religiosas sem fruto e que tantos
percam até a Fé após anos de trabalho de apostolado. São pessoas
que não entenderam o que realmente é o assunto.
Mas
que tipo de apostolos existem? Quais suas características?
Há
os que recem descobriram a Igreja e sua atividade no Mundo. Podem ser
neo-convertidos ou pessoas que se engajaram em algum movimento
eclesial.
Há
os que fazem do apostolado o seu trabalho voluntário ou mesmo seu
hobby de fim-de-semana, seu futebolzinho do sábado.
Há
os que sonham que estão fazendo um trabalho santificador como se
fossem monges sem hábito.
Há
os que veem no apostolado uma atividade que os fará membros de algum
tipo de Baixo Clero, assemelhados aos graus da Hierarquia.
Há
os que usam das atividades da Igreja para uma promoção de um ideal
pessoal, como se fosse um partido político ou ONG ambiental.
Há
os que veem a utilidade do apostolado para a transformação do
Mundo.
Além
desses, outros sub-tipos existem, mas já temos um panorama até
aqui.
Sobre
os tipos de apostolado, existem vários, pois a essencia do
apostolado é levar os homens a uma compreensão do amor de Deus para
com a Humanidade.
Neste
ponto o Congregado acima não havia ainda entendido: sua atividade
dentro da Congregação também é apostolado. Se não houver pessoas
que coloquem a associação para funcionar internamente, ela mesma
não atuará externamente. È como um desportista que se preocupasse
com exercícios de musculação e definição corporal mas esquecesse
de se alimentar corretamente e de ter horas de sono suficientes.
E que
tipos de apostolado podem existir, partindo do princípio de levar a
Boa-Nova aos homens e de mostrar o amor cristão para o Mundo?
Se
partirmos da lista acima, poderemos indicar o apostolado como forma
de desenvolver a própria Fé, pois o neo-convertido precisa de
fomentar a prática do amor a Deus e o ato de amar o próximo é uma
forma de ver com os próprios olhos e de sentir com os sentidos esse
amor. Assim ele pode desenvolver sua Fé para que não fique em uma
Fé egoísta.
O
apostolado não pode ser tratado como algo à parte de nossa vida,
pois qualquer lugar aonde estivermos haverá pessoas que não
compreendem a Religião ou mesmo não conhecem a Fé. De acordo com
as possibilidades de cada momento, de cada abertura de coração,
devemos mostrar o amor de Deus por nossos atos e palavras. Se
visarmos o apostolado como algo reservado aos sábados e Domingos,
perderemos oportunidades de sermos a luz do Mundo que os padres
conciliares tanto insistiam que os leigos fossem.
Fazer
alguma atividade de apostolado, evangelização, catequese ou do
gênero não nos assemelha a cavaleiros templários ou monges
beneditinos. Não é algo que nos possa encher de um orgulho humano,
como se estivessemos trajando capas de veludo ou hábitos cingidos de
corda quando andamos nas ruas. O apostolado é algo amoroso e
dedicado, não feito de qualquer maneira, mas com atenção e
cuidado, assim como é o trato com a pessoa amada. Um homem casado
não ostenta sua aliança perante todos como se quisesse dizer que é
mais feliz que todos, mas apenas age como alguém que está junto da
pessoa amada, e isso comove a outros. É uma tentação diabólica
frequente essa atitude de superioridade desses ditos monges de calça
perante outros que não atuam publicamente.
O
trabalho de apoio à Hierarquia, como a ajuda às Missas, seja como
acólito ou músico, não faz do leigo alguém mais importante que
aquele que está nos bancos da assembléia. Surgiu na década de 2010
um costume de usarem capas da cor litúrgica para os leitores e
salmista nas Missas dominicais. Algumas capas assemelham-se às
casulas góticas, mas de material mais simples e de comprimento
menor. Os leitores participam da Procissão de Entrada e ficam em
lugares especiais ao lado dos Ministros da Eucaristia que ostentam
seus casacos durante toda a celebração. Além de fora da Liturgia,
tal atitude frequentemente instiga ao leigo um sentimento de pertença
a algum grau que não é para qualquer pessoa. O Sagrado Concílio
não incentivou isso, pelo contrário, colocando a leitura da
Escritura e o canto do Salmo para os leigos, quis promover uma
participação mais frequente da assembléia de fiéis no Sacrifício
Eucarístico, assim como a posição dos cantores mais perto do povo,
tirando-os do coro. A idéia dos padres conciliares era de comunhão
eclesial e não de segregação hierárquica.
O
apostolado muitas vezes é puramente assistencial ou de educação e
cultura. Isso tornou-se um campo fértil para aquelas pessoas
doutrinadas por uma cartilha gramcista ou mesmo marxista nas escolas
do ensino médio exercitarem um pensamento de luta de classes e
ativismo político. Não é de se espantar que muitos partidos
políticos tenham como militantes pessoas que eram leigos engajados
em atividades comunitárias e que, após perderem a Fé, dedicam-se à
política partidária. O que a Igreja pretende com a transformação
cristã da sociedade não é estabelecer algo como um cristianismo
socialista, mas mostrar que um mundo melhor pode ser vivido se for
vivido pelos valores do Evangelho. Fazer uma atividade de apostolado
como um trabalho de uma ONG social é reduzir algo santificador e
santificante a uma ação humana e terrena. Lembremos que se Deus-Pai
“vê que qualquer obra serve de obstáculo ao aumento da caridade
na alma que dela se ocupa, prefere às vezes deixar desaparecer essa
obra.”1
Da
mesma forma que os que veem nas atividades de apostolado social uma
escola prática para idéias marxistas, há os que desejam mudar algo
que não gostem na Sociedade agindo de forma comunitária, mas
agregando-se a pessoas que pensam da mesma forma. Eles não sentem
força para fazer individualmente essas mudanças de coisas que os
desagradam pessoalmente então se unem para mudar algo que acreditam
que seja do agrado de todos. Um exemplo disso são os propagadores
das Missas em latim, pois muitos deles pensam que somente elas são
adequadas para o povo e não a chamada “Missa Nova”. Partem de um
gosto pessoal e usam esse gosto como bandeira de apostolado. O
apostolado, nunca é pouco dizer, é algo que é para o bem de todos
e o bem da Igreja de Cristo e não para satisfazer desejos pessoais.
Façamos
apostolado sempre e mesmo assim não nos chamemos de apóstolos.
Apóstolos são os senhores Bispos, pois são os sucessores dos
primeiros seguidores de Cristo. Denominar-se de apóstolo pode
suscitar no coração do leigo católico uma soberba que prejudicará
o seu trabalho e, pior, sua própria alma. Tudo o que é para
manifestar o amor de Deus ao homem é apostolado, “somente com o
desejo de exercer a Caridade”2,
mesmo aquela conversa piedosa que ocorreu no elevador do prédio da
empresa.
Santa
Maria, Rainha dos Apóstolos, rogai por nós.
1-
Chautard, abade J.B., in “A Alma de Todo Apostolado”, pág. 37.
2-
Chautard, abade J.B., in “A Alma de Todo Apostolado”, pág. 49.
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