Aproveitar
Muito
já se falou dos “filhos pródigos”, das “ovelhas desgarradas”,
dos “desistentes”. Nosso mundo contemporâneo está repleto dos
covardes, dos meias-palavras, dos libertinos.
Hoje
em dia muitos casamentos terminam mais por covardia do que por outra
coisa. Os cônjuges são covardes em lutar por ficarem juntos, por
crescerem juntos e por construir uma família juntos. Curioso que
alguns são os mesmos que se queixam da apatia do povo em melhorar o
país e construir uma sociedade mais justa...
Se
justifica aquele que abandona a faculdade. “Afinal, diploma não dá
dinheiro”, dizem. Na verdade, a incompetência é a marca
principal do desistente. Pois, se fosse competente para algo, saberia
se poderia ou não iniciar empreender alguma coisa.
Se
justifica os “desistentes” da Igreja: professoras de catequese,
os ministros eucarísticos, os cantores de coral e membros de grupos
que de uma hora para outra “jogam a toalha” e partem para uma
vida ordinária e mundana.
“Ora,
ele viu que o seu caminho não era aquele”, dizem. Tolice. Muitos
estão por estar, simplesmente. Como exemplo, há de uma moça que
fora chamada a participar da Pia-União de Filhas de Maria. Como viu
que suas amigas usavam uniforme branco aos domingos, rezavam o terço
e davam aulas de catequese para crianças, percebeu que não poderia
continuar sua vida de praias nos fins-de-semana, cabular aula para
tomar cerveja e usar calças apertadas. Disse que aquela vida não
era para ela. Compreensível, não?.
Outra
moça, membro da Congregação Mariana, participando de todas as
atividades, palestras, formações, ativa no apostolado, de repente
desistiu de tudo e dedicou-se somente ao trabalho e nada mais além
de uma praia no Domingo. Erro da Congregação que não foi, digamos,
“atraente” e de seus membros que não a trataram como filha
mimada, ou dela própria que fez “ouvidos de mercador” e nada
aproveitou de útil para sua vida e nada aprendeu ?
Deixemos
de ser críticos contumazes de grupos católicos ou mesmo da própria
Igreja por não conseguirem converter as pessoas e transformar o
Mundo.
Lembremos
que o próprio Cristo não conseguiu fazer de todos os seus
escolhidos os Apóstolos da Igreja: Judas Iscariotes desistiu, por
exemplo. Culpa do Messias? Não, culpa do próprio Judas. Dois Judas
existiam. Os dois viram os milagres de Jesus, os dois escutaram suas
palavras de sabedoria, os dois tiveram o seu amor. Um é dos santos
mais populares da Igreja, o Tadeu, reverenciado por milhões. O
outro, Iscariotes, somente é lembrado por chacota ou por ofensa a
alguém, pois seu nome virou sinônimo de “traidor”. Livre
escolha. Judas Tadeu escolheu a felicidade com Deus. O outro Judas
preferiu as moedas de prata. “Cada um sabe o que é melhor para
si”, dirão os arautos da liberdade pessoal. Será que foi melhor
para Judas Iscariotes enforcar-se ?
Se
“viver é sentir-se fatalmente forçado a exercer a liberdade”1,
então essa liberdade deve ser realmente libertadora.
Muitos
não se convertem porque não o querem. Não são felizes porque não
querem. Parecem como cegos a tatear as luzes de uma árvore de natal:
por mais que desejem, não conseguem sentir a beleza, pois lhes falta
a visão.
E
nós? Que faremos perante essas realidades, a essas visões
deturpadas de Mundo? Devemos em primeiro rezar por eles, para que o
Senhor Deus converta seus corações, como fez com o Faraó do Egito
no tempo de Moisés. Em segundo, procuremos ocasiões para falarmos
do assunto com naturalidade, como falamos da política ou de
pensamentos filosóficos. Sejamos contumazes em mostrar a beleza do
servir a Deus e sua utilidade e necessidade para nossas vidas, “mesmo
que me canse, mesmo que não possa, mesmo que arrebente, mesmo que
morra...”2
E, por final, tiremos preconceitos: nem todos serão congregados
marianos ou devotos propagadores do Rosário. A muitos assistir a
Santa Missa dominical e frequentar os Sacramentos é um passo
colossal.
Nós,
Congregados, entendemos que “o princípio do aperfeiçoamento seja
o princípio geral da nossa vida”3.
Sabemos que “uma vida que não procura não vale a pena ser
vivida”4.
Prometemos “servir e fazer com que dos mais sejais fielmente
servida e amada”5
a Virgem Santíssima. Nós congregados prometemos isso em nossa
Consagração. Não basta amar, precisamos fazer com que os outros
amem. Assim nosso amor será sincero e perfeito.“Das suas criaturas
que associa ao seu apostolado, exige Nosso Senhor de maneira formal
não só que se conservem na virtude, como também que nela
progridam.”6
Que
a Virgem, diligente em servir a Isabel, nos ensine a servir o próximo
em sua busca pela felicidade, mostrando-lhe o real Caminho: o Cristo.
Alexandre
Martins, cm.
31/12/1998
_________________________________________________________
1
- Ortega
y Gasset, “a rebelião das massas “
2
- s. Teresa d’Avila, “caminho de perfeição”, pág. 21
3
- b. Jorge Matulaitis, “diário espiritual”, pág. 52
4
- Platão, “apologias”
5
- antigo Ato de Consagração perpétua do Congregado mariano,
atribuído a s. Francisco de Sales.
6
- J.B.Chautard, “a alma de todo apostolado”, pág. 53
Comentários