As Congregadas Marianas
Alexandre Martins,
cm.
Com
a Revolução de Costumes dos anos 1960, com o “é proibido
proibir”1,
com a queima de sutiãs2
em praça pública pelas mulheres da época e com a reformulação
das leis de trabalho, as mulheres em todo o mundo ocidental passaram
a ser consideradas de outra forma.
O
que havia sido iniciado nos países comunistas, especialmente a União
Soviética e China pós Mao-Tsé Tung3,
as mulheres começaram a sere tratadas como “um camarada”. Nada
mais de damas e donzelas, jovens puras e frágeis à espera de seu
príncipe, mães preocupadas em educar suas crianças. A partir do
ideal socialista, a mulher é a companheira de luta do homem, seu
braço direito no trabalho, onde duas cabeças (ou duas calças)
pensam melhor que uma. Pura logística de trabalho em equipe. A
família então deixa de ser a célula-mãe da Sociedade para ser a
escola de futuros operários do sistema.
Isso
se desenvolve por décadas vagarosamente a partir de 1917 até que
nos anos 1960-1970 atinge seu apogeu na chamada Contracultura4,
isto é, uma Cultura contra a Cultura usada até então. É uma nova
Cultura revolucionária, que seria vista com esperança de um mundo
diferente e mais justo pelas pessoas da época.
A
Igreja, preservadora dos reais valores de dignidade da pessoa humana,
tornou-se vulnerável a essa Contracultura logo após o Concílio
Vaticano II. Com o Apostolicam Actuositatem5,
dando mais autonomia aos leigos, sem querer deu brecha para que
pessoa da época, influenciadas pela Contracultura, sem o saber,
tivessem voz e comando sobre outros fins em todas as classes de
apostolado leigo.
Um
exemplo claro e clássico foram as turmas de Catequese infantil: se
antes do Concílio o trabalho de ser catequista era entregue a
religiosas (com formação doutrinal suficiente) ou a senhoras
piedosas (como as Filhas de Maria ou Zeladoras do Apostolado da
Oração) após o término do Vaticano II e mais ainda após as
Conferências de Medellin6
e Puebla7,
as turmas de catecúmenos foram entregues a jovens de
aproximadamente 17 anos de idade, de simples boa-vontade mas com
muito pouco conhecimento catequético.
Na
onda da Contracultura, homens e mulheres foram nivelados em toda a
Sociedade. No vestuário surgiram mais modelos de calças para as
mulheres, evidenciando que era a mulher que deveria se igualar ao
homem e não o contrário.
Entre
os leigos, como de hora para outra, acabaram grupos de gênero,
transformando todos os movimentos e associações em grupos mistos.
Os
grupos de moda da época, como os Cursilhos de Cristandade e Grupos
Jovens já haviam começado mistos e todo o grupo que fosse
exclusivamente masculino ou feminino era visto com estranheza e até
mesmo com censura. E a condenação não vinha somente da Sociedade
ou dos leigos católicos mas também de padres e até mesmo de alguns
bispos.
As
Congregações Marianas, como não havia à época um órgão
centralizador forte que pudesse avaliar as mudanças da Sociedade e
da Igreja sob a ótica de nossa Tradição, sofreram muito com isso.
As
poucas Congregações Marianas femininas que existiam no Brasil
fecharam (como a Congregação Mariana de Alunas do Colégio Sion, no
Rio de Janeiro) e suas Congregadas se transferiram para Congregações
Marianas masculinas que se tornaram mistas quase que por obrigação.
Com
esse movimento de “uniformização masculina” das Congregações
Marianas houve duas modificações no agir dos Congregados: uma
“suavização” do apostolado e uma total falta de formação
adequada das jovens Congregadas Marianas.
Antes
das Congregações Marianas mistas o apostolado das Congregações
Marianas masculinas era evidentemente mais determinado, aguerrido,
ofensivo até. Em uma palavra: másculo. Coma entrada de mulheres no
grupo certas atitudes deixaram de ter sentido, pela própria natureza
suave das mulheres. Se o andor do santo padroeiro ficou mais bonito e
enfeitado, em contrapartida aquela marcha com a bandeira pelas ruas
do bairro cantando o Hino a plenos pulmões não seria seguida pelas
Congregadas...
Mas
o pior, a nosso ver, foi que deixou-se de fornecer uma formação
adequada à psicologia feminina. Se nas palestras nas Congregações
femininas a vocação para o lar e filhos, bem como a postura decente
e virtuosa nos ambientes da Sociedade era os pontos mais falados,
isso foi deixado de lado nas palestras das Congregações mistas, que
ficaram com temas rasos e superficiais que não diziam muito às
jovens ou às recém-casadas. A solução para muitas foi procurar
essa formação em outros grupos e carismas, descaracterizando o
ambiente das Congregações Marianas com modos de agir e rezar que
não eram inacianos ou de nossa Tradição. Evidentemente, uma
decorrência lógica foi o abandono das Congregações Marianas por
essas moças para se transferirem para outras associações.
No
início do século XXI, as netas das moças dos anos 1960, além de
voltar a usar sutiã, quiseram voltar certas práticas que suas avós
condenavam. Muitas até voltaram a usar o véu nas Missas! Uma
demonstração do que todo historiador sabe: a História é cíclica.
Nas
Congregações Marianas se percebe uma vontade, mesmo uma
necessidade, de pensar a vida na Congregação pela ótica feminina:
as moças desejam ser Congregadas marianas.
Nada
de calças jeans, mas saias bonitas; querem palestras sobre
virgindade, pureza, castidade; querem saber como ir na praia sem ser
vulgar; querem ser trabalhadoras sem serem masculinizadas; querem
saber como ser mãe católica e Congregada; querem educar seus filhos
para a Congregação Mariana; querem ser mães, mulheres e
Congregadas.
Somente
com certa separação na formação e em atos de piedade as moças e
mulheres poderão ter essa real dimensão do “ser uma Congregada
mariana”:
“Todas nós queremos ser moças de nosso tempo, queremos ser
modernas.
Muita gente pensa que moça moderna é aquela que anda de calças
compridas, gesticula com o cigarro entre os dedos, adquire músculos
retesados, pratica toda espécie de esporte, compete com os homens em
força e audácia, exibe-se despida aos olhares do público nas
praias e nos estádios, renuncia aos ônus da maternidade, desfaz-se
das obrigações familiares, torna-se o ídolo de todo rapaz
simpático, ingressa nas carreiras políticas, ascende aos cargos
públicos.
... Ser mulher moderna significa “colaborar com o homem, porém
de forma própria à sua inclinação natural” - são palavras de
Pio XII. “A esfera da mulher, a sua maneira de vida, sua inclinação
é a maternidade. Toda mulher foi feita para sei mãe no sentido
físico da palavra ou no mais espiritual e elevado sentido, embora
não menos real.”
“Uma mulher, verdadeiramente mulher, só pode ver todos os
problemas da vida humana na simples perspectiva da família. Um
delicado senso de dignidade a põe em guarda toda vez que uma ordem
social ou política ameaça prejudicar sua missão de mãe ou atinge
o bem da família.” - Que fazer então?. .. Responde-nos Pio XII
(que Papa para os tempos modernos!): “Vosso dia chegou, mulheres e
jovens católicas! A vida pública necessita de vós! A cada uma de
vós poderíamos repetir: vosso destino está em jogo.”
A mulher moderna não é a que reproduz em seus trajes e em suas
maneiras o modo de pensar e de agir dos figurinos de Hollywood. É
aquela que, saindo do seu comodismo e da sua apatia, vive e sente as
necessidades da atormentada hora que vivemos, trabalha por salvar do
naufrágio, em que todas as instituições estão sossobrando, as
virtudes e as prerrogativas tradicionais da mulher cristã. A mulher
para ser moderna deve conservar-se, acima de tudo, mulher.”8
Se
em certos lugares uma Congregação Mariana feminina não puder
existir, não significa que em outros lugares ela não possa ser
fundada ou reaberta.
Mesmo
em Congregações Marianas mistas deve haver um momento somente para
as moças e senhoras. Talvez separando ainda por idade – jovens de
idosas – mas mesmo assim proporcionando formação específica para
o ser feminino. Quantas dúvidas seriam sanadas! Quantos corações
seriam abertos! Quantos exemplos seriam compartilhados beneficiando a
tantas outras pessoas!
Pensar
o feminino nas Congregações Marianas: isso é cumprir nossa
tradição e nossa Regra aplicando-as à moça católica.
Que
a Virgem Pura nos ensine a Pureza e o “ser mãe”.
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1-
frase atribuída a Daniel Marc Cohn-Bendit, líder estudantil
protagonista da massiva movimentação popular em maio de 1968 em
Paris. Atualmente é um político francês de nacionalidade alemã
do partido ecologista Die Grünen, atualmente deputado
europeu e co-presidente o grupo parlamentar Grupo dos Verdes/Aliança
Livre Europeia. Daniel Cohn-Bendit nasceu na França em 4/4/1945,
filho de judeus alemães refugiados na França em 1933 fugidos do
Nazismo. Aos 14 anos, optou pela nacionalidade alemã porque,
segundo ele, não queria se sujeitar ao serviço militar francês.
Membro da Federação Anarquista, ele se definiu mais tarde como
liberal-libertário. Em 1967, enquanto é estudante de Sociologia da
Universidade de Nanterre, começa o movimento de contestação que
levará ao Movimento de 22/3/1968. Na seqüência da evacuação das
salas pela polícia em 2 de maio, está entre os estudantes que
ocupam a Sorbonne em 3 de maio. Será, junto com Alan Geismar e
Jacques Sauvageot, uma das principais figuras de Maio de 68. Em 21
de maio, enquanto está em Berlim, é proibido de retornar à
França. Em 2010 declarou apoio à candidatura de Marina Silva a
presidência do Brasil1 No segundo turno das eleições assinou
documento em apoio à candidatura de Dilma Rousseff. O documento
dizia que "por trás de José Serra, a direita brasileira vem
mobilizando tudo o que há de pior em nossas sociedades"2
2-
O episódio conhecido com Bra-Burning (a queima dos sutiãs),
foi um protesto com cerca de 400 ativistas do WLM (Women’s
Liberation Movement) na realização do concurso de Miss America em
7 de setembro de 1968, em Atlantic City, EUA. Com o objetivo de
acabar com a exploração comercial realizada contra as mulheres, as
ativistas se aproveitaram do concurso de beleza que era tido como
uma visão arbitrária e opressiva em relação às mulheres. Assim,
elas colocaram no chão do espaço, sutiãs, sapatos de salto alto,
cílios postiços, sprays de laquê, maquiagens, revistas,
espartilhos, cintas e outros objetos que simbolizavam a beleza
feminina. Embora a ‘queima’ propriamente dita nunca tenha
ocorrido, a atitude das manifestantes foi incendiária. Este nome
“queima dos sutiãs” foi dado pela mídia. Germaine Greer,
jornalista e escritora australiana, declarou nos anos 60 “que o
sutiã é uma invenção ridícula”, declaração que repercutiu
em muitas mulheres que questionavam o papel do sutiã como objeto
anti-sexista da liberação feminina. Depois disso, aconteceram
queimas de sutiãs em vários cantos do mundo.
3-
líder chinês criador da Grande Revolução Cultural Proletária
(conhecida como Revolução Cultural Chinesa), uma profunda
campanha político-ideológica levada a cabo a partir de 1966 na
República Popular da China, para neutralizar a crescente oposição
que lhe faziam alguns setores menos radicais do partido, em
decorrência do fracasso do plano econômico Grande Salto Adiante
(1958-1960), cujos efeitos acarretaram a morte de milhões de
pessoas devido à fome generalizada, fato conhecido como a fome de
1958-1961 na China. A campanha foi acompanhada por vários episódios
de violência, principalmente instigada pela Guarda Vermelha, grupos
de jovens, quase adolescentes, oriundos dos mais diversos setores,
organizados nos chamados comitês revolucionários, atacavam todos
aqueles suspeitos de deslealdade política ao regime e à figura e
ao pensamento de Mao, a fim de consolidar (ou restabelecer) o poder
do líder onde fosse necessário. Os alvos da Revolução eram
membros do partido mais alinhados com o Ocidente ou com a União
Soviética, funcionários burocratas, e, sobretudo, intelectuais
(anti-intelectualismo). Como na intelectualidade se encontravam
alguns dos potenciais inimigos da revolução, o ensino superior foi
praticamente desativado no país.
4-
Contracultura é um movimento da década de 1960. Um estilo de
mobilização e contestação social. Jovens inovando estilos,
voltando-se para o anti-social, com espírito libertário, uma
cultura underground, cultura alternativa ou cultura marginal, focada
nas transformações da consciência, dos valores e do
comportamento, na busca de outros espaços e novos canais de
expressão para o indivíduo e pequenas realidades do cotidiano. A
contracultura pode ser definida como um ideário altercador que
questiona valores centrais vigentes e instituídos na cultura
ocidental. Justamente por causa disso, são pessoas que costumam se
excluir socialmente e algumas que se negam a se adaptarem às visões
aceitas pelo mundo. A contracultura desenvolveu-se na América
Latina, Europa e principalmente nos EUA onde as pessoas buscavam
valores novos. Na década de 1950, surgiu nos Estados Unidos um dos
primeiros movimentos da contracultura: a Beat Generation (Geração
Beat). Os Beats eram jovens intelectuais, principalmente artistas e
escritores, que contestavam o consumismo e o otimismo do pós-guerra
americano, o anticomunismo generalizado e a falta de pensamento
crítico que resultaria em um movimento de massa, o movimento
Hippie.
5-
decreto aprovado em 18 de novembro de 1965, onde se "reconhece
o papel essencial que cabe aos leigos na vida da Igreja, a sua
responsabilidade e autonomia em função de sua vocação
específica". Faz parte dos Documentos do Concílio Vaticano
II.
6-
A Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-americano
realizou-se em Medellín, na Colômbia no período de 24 de agosto a
6 de setembro de 1968, convocada pelo Papa Paulo VI para aplicar os
ensinamentos do Concílio Vaticano II às necessidades da Igreja
presente na América Latina. A temática proposta foi “A Igreja na
presente transformação da América Latina à luz do Concílio
Vaticano II”. A abertura da Conferência foi feita pelo próprio
Papa que marcou a primeira visita de um pontífice à América
Latina. Medellín apresentou-se como uma releitura do Concílio
Vaticano II para a Igreja na América Latina. Em seu discurso
inaugural, pronunciado no dia 24 de agosto em Bogotá, Paulo VI
sublinhou a secularização, que ignorava a referência essencial à
verdade religiosa, e a oposição – pretendida por alguns –
entre a Igreja chamada institucional e a Igreja denominada
carismática. O pontífice também evidenciou sua preocupação com
os problemas doutrinários que se percebiam no imediato
pós-concílio. Insistiu em promover a justiça e a paz, alertando
diante da tática do marxismo ateu de provocar a violência e a
rebelião sistemática, e de gerar o ódio como instrumento para
alcançar a dialética de classes.
7-
A Terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano
realizou-se em Puebla de los Angeles no período de 27 de janeiro a
13 de fevereiro de 1979. Foi realizada em Puebla de los Angeles, no
México, em 1979. Os bispos acolheram com entusiasmo a notícia e
iniciaram os trabalhos preparatórios ao evento eclesial. Paulo VI
apontou como documento de referência a Exortação Apostólica
Evangelii Nuntiandi, de 1975, na qual o pontífice analisava
o que é evangelizar, qual é o conteúdo da evangelização, quem
são os destinatários da evangelização, quem são seus agentes e
que espírito deve presidi-la.
8-
texto da Congregada mariana Beatriz Varela Guedes, publicado na
revista Estrela do Mar, citado pelo autor in “Regra 45 – As CCMM
especializadas”, págs. 63-64.
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