O mais importante é o amor
Vemos
por vezes que alguns tem predileções, paciências, afetos por
pessoas que achamos tolos, até mesmo insuportáveis. Não
conseguimos entender como se pode perder tempo com aqueles que
escarnecem do Sagrado, das boas obras...
Contudo,
amigos nossos, pessoas queridas, tem grande amor para com eles e nós,
vendo a vida por nossos próprios olhos, até mesmo criticamos a
aparente “perda de tempo” de “nossos queridos” com aqueles
que seriam então “nossos desafetos”.
O
que ocorre é que todos somos uma grande família, a Humanidade, que
possui um único Pai: Deus. Como na maioria das grandes famílias, há
os irmãos que se amam por serem irmãos mas há também os que se
amam mais do que somente a irmandade, a consanguinidade: é o amor
por identificação. São aqueles irmãos que se ajudam, se apoiam,
que tem paciência e mesmo a defesa perante a outros irmãos que
perdem essa mesma paciência perante a visão de tantos erros e
falhas cometidas tantas vezes. São esses irmãos, digamos, “mais
amorosos” que fazem com que aquele irmão “ovelha negra” não
se perca por completo, abandonando a família.
No
trabalho apostólico de levar as almas a Deus, vemos isso
frequentemente e não nos damos conta.
Há
os que possuem uma visão deturpada da vida cristã. Escola,
faculdade, família, amigos, foram os que lhes deturparam para as
coisas de Deus. Essas pessoas não tem culpa do que pensam e agem.
Logo que se aproximam do ambiente eclesial, surge aquele que age como
um inquisidor, um “defensor da Fé”, como um “santo” que vê
com “sentimento de justiça” o diácono Estêvão ser apedrejado.
Chesterton alertava que “apenas a palavra de um Católico pode
mantê-lo fora do Catolicismo. Uma palavra estúpida de um membro da
Igreja faz mais estrago que cem palavras estúpidas de pessoas de
fora da Igreja.” 1
Mas,
pela bondade, de Deus surge alguém que age como Cristo perante a
Samaritana: escuta, tem paciência, não condena, mas procura que ela
mesma veja o quão está afastado da verdadeira Fé e isso modifica o
seu coração: ela se converte e busca a Água-Viva.2
São
Francisco de Sales, congregado mariano em Ravena (Itália), é autor
de uma frase lapidar tão difundida que muitos nem sabem de sua
autoria: “pegam-se mais moscas com uma colher de mel do que com
barris de vinagre”3.
Uma frase simples, prática e com uma eficácia surpreendente.
Como
poderemos ser essa “colher de mel” com todos? Isso é tão
difícil que os santos que o conseguiram são homenageados com essa
lembrança em suas hagiografias: “Passou fazendo o bem”.
Quantos, mesmo os santos, podem ter essa frase no fim de sua vida
como característica de suas existências?
Sim,
é por demais difícil essa atitude, por nossas personalidades,
caráteres, afinidades, mágoas escondidas... Mas podemos deixar tudo
isso de lado quando estamos perante certas pessoas. A elas temos
paciência, mansidão, uma palavra amiga. A outras não temos tempo,
mas para essas temos todo o tempo do Mundo. São a essas que somos
chamados a levar a Deus, a mostrar o amor do Pai, a fazê-las
participar e amar a Igreja fundada pelo Messias esperado.
Mas
e as que não amamos, isto é, as que não conseguimos amar? Peçamos
a Deus que envie a elas, em certo momento de suas vidas, aquelas
pessoas que as amem, que tenham paciência com elas, que façam com
elas o que fazemos com estas, para que toda a Humanidade possa
realizar o desejo de Nosso Senhor Jesus Cristo: “que todos
sejam um”.4
Alexandre
Martins, cm.
2-
Jo 4,14
3-
in "Filotéia - Introdução à Vida Devota"
4-
Jo 17,21
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