A Igreja dos Leigos Pecadores


Alexandre Martins, cm.



“A Igreja é santa e pecadora”. Lemos, ouvimos e pronunciamos essa frase várias vezes nos últimos tempos mas nem sempre compreendemos todo o seu significado. Talvez a falta de uma completa compreensão se deva ao fato de que não é somente um significado mas vários significados. E um deles é o relacionamento humano na esfera eclesial.
Alguns teólogos dão o nome de “invidia clericalis” (inveja clerical) ao ato de sentirmo-nos incomodados com o sucesso do outro no campo do apostolado.
Se nos acusamos no exame de consciência ou na Confissão de nos sentir tristes ou magoados quando alguém tem algum sucesso na vida pessoal - como uma promoção no trabalho ou o casamento com o galã da turma - por outro lado não nos acusamos da mesma forma sobre o incômodo que nos traz aquele retiro no qual foram muitos jovens e não fomos nós que o promovemos...
Esse é um dos significados da “Igreja pecadora”: temos tristeza pelo bem feito por outro.
Quantos homens não deixaram de escutar a Verdade por alguém achar que “aquele tal” não merecia que lhe fosse anunciada? Conhecemos pessoas que tem um grande conhecimeno da Doutrina Cristã, são ativos no apostolado leigo, mas não falam de Deus para seu colega de trabalho. Julga-se que aquele indivíduo “não merece” uma conversa espiritual por tal ou tal motivo. Se são questionados do por quê não o fazem respondem com a frase bíblica “não dar pérolas aos porcos” (Mt 7,6). Mas para estes “egoístas da Verdade” possa ser mais indicada a frase “Não julguem apenas pela aparência” (Jo 7 ,24)
Vemos que há grandes iniciativas de apostolado leigo como o Rosário em residencias, visitas porta a porta, shows nas praças, etc. Mas ao mesmo tempo não se fala de Deus ao colega da escola, ao funcionário da faculdade, ao garoto que entrega o almoço no escritório... A experiência nos mostra que a maioria dos que são ativos “de fim de semana” nas paróquias são diferentes “durante a semana”.
Eis a Igreja Pecadora: escolhemos quem queremos que seja salvo!
Triste isso, não? E pior ainda: é contra o mandato do Mestre: “ide por todo o Mundo” (Mc 16,15)
Jesus não nos disse algo como “anunciai aos escolhidos” mas “a todos”. Podemos entender como “a todos que passarem em meu caminho, em minha vida”. E quantos passaram por nós e não nos preocupamos em falar de Deus para eles? Não se trata de fanatismo, como algumas seitas que somente fazem apostolado para aumentar seu número de membros. Sua preocupação com a saúde espiritual do outro é mecânica como um médico de Hospital estatal, apenas receitando um remédio, sem preocupação real.
Se entendermos o apostolado como caridade com a alma do outro, veremos o seu real significado: levar as pessoas à felicidade do encontro com Deus.
Nada de ideias como “aumentar nosso grupo”, de “colocarmos mais gente na Capela”, de fazer “o time de católicos da Firma”. O que devemos desejar é que nosso próximo seja feliz, pois entendemos que a verdadeira felicidade é estar em comunhão com Deus na Sua Igreja.
Devemos refletir em nossos momentos de meditação olhando para o Santíssimo Sacramento do altar: agimos como o publicano ou como o fariseu? Agimos como o filho que criticou o pai por sua atitude com o filho que “gastou seu dinheiro com prostitutas”? (Lc 15,30) Agimos como o Levita que passou ao largo do homem assaltado e ferido na estrada? (Lc 10,32) Não repetimos esses tristes e condenáveis gestos quando não agimos com mansidão com as faltas do próximo, quando condenamos antes de corrigir, quando agimos com ar de superioridade na Liturgia?
Os exemplos são vários e poderíamos citá-los à exaustão. Veja em sua própria vida os exemplos vividos e vivenciados. Mas o que realmente interessa é o quanto de amor damos ou subtraímos de nossa rela~]ao como o nosso irmão, um filho de Deus como nós.
Se está certo o ditado chinês “se quiser conhecer o espírito de certa pessoa, mande-o governar”, então vemos que certas pessoas não deveriam ter certos ofícios, em especial o de leigos na Liturgia. Mas somos cristãos e as falhas daquele irmãos que está no comando de alguma associação servirá para nos mostrar nossa falta de atitude e desenvolver em nós a paciência com os erros dos demais e também servirá para ue ele possa se converter. O que não devemos permitir é que ele promova o que a Escritura chama de “escândalo”, pois o mal produzido será maior do que o bem conseguido.
Que possamos no Ato Penitencial, ao batermos em nosso peito, lembrarmos que a Igreja Pecadora também somos nós quando não nos preocuparmos com aqueles a quem Deus colocou em nosso caminho.
Que a Virgem Maria nos seja exemplo de solicitude como agiu nas Bodas de Caná. Que Ela peça em nosso favor junto a Deus, dizendo “Senhor, eles não tem o vinho da união e do amor”.


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