Congregados de Fita nº1 – os sacerdotes e religiosos
Alexandre Martins, cm.
Na Congregação Mariana aonde proferi minha Consagração Perpétua,
eram comuns certos “ditos” ou “chavões” de uso comum entre
os Congregados. Eram “frases de efeito” que faziam chamar a
atenção de todos para algo importante.
Um
desse “chavões” era: “devemos de ser Congregados de fato e
não Congregados de fita”.
Isso
queria lembrar a todos que não bastava ter uma medalha numa fita
pendurada no pescoço, mas deveríamos ser de fato o que a fita
significava. Deveríamos agir e pensar como Congregados em todos os
momentos de nossa vida, em nosso dia a dia, em nosso ambiente
familiar, em nossa escola, em nosso trabalho, perante nossos
amigos... Não bastava ostentar a fita azul nas Missas de Domingo,
dizer um “Salve, Maria” no pátio da igreja, se não agíssemos
como “cristãos de sinal mais” em nossos ambientes pessoais.
“Congregado
de fita” ficou, então, um termo pejorativo. Refere-se àquele que
não age como um Congregado, embora tenha ingressado em uma
Congregação Mariana. Os motivos são vários para essa atitude, mas
são muito pouco aceitáveis.
A
partir da década de 1990, os sacerdotes que estavam à frente das
paróquias não eram aqueles que haviam estado de paletó e gravata
nas reuniões das Congregações Marianas e se confessavam com o
Padre Diretor. Na época, os padres que eram párocos tinham
participado de grupos de jovens cheios de Teologia da Libertação e
somente no Seminário tinham uma vida sacramental mais adequada.
Ninguém conhecia as Congregações Marianas a não ser os que o pai
ou um tio foram vistos usando uma fita azul.
Pois
bem, eram justamente esses “padres da Pastoral da Juventude” que
eram agora os Párocos a quem os Congregados deveriam se reportar e
seguir “como cadáver”.1
Então, em muitos dirigentes da Congregações e mesmo de Federações,
surgiu a ideia de “presentear a fita” para o padre local.
Ora,
sabemos que o Diretor Espiritual de uma Congregação Mariana
paroquial é o próprio Pároco. Antigamente os sacerdotes eram em
sua maioria Congregados que descobriram sua vocação sacerdotal e
deixaram suas Congregações para ingressarem no Seminário, seja
diocesano u religioso. Colocar uma fita azul nos ombros de homens
assim era apenas relembrar aquilo que já foram e eles tinham pleno
entendimento de sua atuação na Congregação a partir de agora:
bastava que lembrassem o que seus diretores antigos realizavam em
suas antigas Congregações.
Mas
e no caso do sacerdote “pejoteiro”? - apelido dos participantes
das Pastorais da Juventude, as PJ - Ele nada sabia daqueles homens (e
agora também mulheres) que usavam uma fita bonita e diferente no
pescoço. Como agir? “O Congregado recita o Rosário” - então
façamos como os Grupos do Terço e deixemos eles rezar seu terço em
paz. “O Congregado é cristão com sinal mais” Opa! Isso é
“triunfalismo” e o triunfalismo está fora de moda. Afinal, na
Pastoral da Juventude há democracia e ninguém é mais do que
ninguém. Então a Congregação não pode ter nenhum privilégio e
deve ser tratada como qualquer grupo da Paróquia. “A Congregação
é o exército de Maria” - mas a Legião de Maria também atua como
um exército. Se tenho uma Legião de Maria em minha Paróquia, para
quê mais outro exército?
Pensamentos
assim e atitudes tais eram comuns em todas as Paróquias desde os
anos 1980.
Pois
foi a partir do pontificado de João Paulo II que os Congregados
marianos resolveram agir, cansados de uma perplexidade que acometeu
toda a Igreja nos anos após o Vaticano II.
Foi
a partir de 1990 que algumas Congregações começaram a perceber que
os elogios e apoio que recebiam dos sacerdotes e bispos não iriam
mais acontecer e que novos leigos convertidos estavam tomando de
assalto Coordenações e Conselhos paroquiais. Não haveria nenhum
espaço para as Congregações Marianas a partir daí se algo não
fosse feito.
Com
a criação da Regra de Vida em 1994, houve um certo choque: as
Congregações que tinham lutado por décadas para não sucumbir e
fechar tiveram de se adaptar às novas regras que eram seguidas como
novidade por Congregações recém-fundadas. A euforia era grande,
ainda mais que tínhamos um jesuíta à frente das Congregações do
Brasil em melhor, um Bispo: D. José Carlos de Lima Vaz, SJ, então
bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro. O número de
Congregados começava a aumentar, Congregações eram reabertas,
outras até eram fundadas e os jovens – pasmem! - queriam pendurar
uma fita no pescoço pois achavam diferente, um certo ar “vintage”...
Tudo
muito bom, mas e os padres? Aonde estavam os famosos “diretores de
Congregação” de quem tanto se falava? Aonde estariam um Cardeal
Leme, um padre Leme Lopes? Eles não estavam mais por aqui. Então,
tratou-se de “criar novos diretores”, ou seja, qualquer padre era
chamado para a Congregação Mariana – querendo ou não.
Evidentemente, nenhum sacerdote - seja ele uma pessoas dedicada ou
não - deixaria de amar a Virgem Maria e ficar feliz de ostentar uma
fita azul de Nossa Senhora. Ao mesmo tempo, um pároco deve ser
agradável aos fiéis de sua paróquia e procura estar em todas as
atividades que nela acontecem.
Daí
que todos os padres que permitiram que os leigos fundassem ou
reabrissem Congregações em suas igrejas não se oporam a serem
convocados para serem Diretores (Assistentes Eclesiásticos) das
mesmas. Mas eram o que se diz: Congregados de fita, isto é, não
pensam como um um Congregado mariano.
E
isso importa? Claro que sim, se quisermos uma real Congregação
Mariana e não apenas um grupo de devotos. Os desejos de santidade, a
fome de apostolado a hierarquia amorosa, só são entendidos por
aqueles que foram formados em uma Congregação Mariana ou se
aproximaram dela posteriormente com humildade e se cativaram por
elas.
Não
se trata de preguiça, dolo ou mesmo malícia, mas apenas um
não-conhecimento. Daí em algum momento de um trabalho pastoral na
Paróquia alguns Congregados, desejosos de “homenagear” o
sacerdote, “presentearam” o padre com a fita azul. A tão
propagada Consagração Perpétua à Virgem Maria, recomendada com
entusiasmo pro tantos Papas, transforma-se então em um simples
“presente”, como um relógio que é dado ao padre no Natal.
Aonde
isso acontece vemos o quão pouco significa uma Consagração mariana
naquela comunidade. Não que a depreciem ou desrespeitem, mas não
tem a associação aquela magistral importância que tantos santos
ensinaram e recomendaram. É um dos motivos de serem as Congregações
Marianas tão pouco respeitadas e consideradas em alguns lugares.
Nesses locais, a diferença de um jovem Congregado mariano de
qualquer outro é que o primeiro usa uma fita pendurada no pescoço...
Cardeais
da Igreja pediram no passados para serem admitidos na Congregação
Mariana, Bispos ingressaram nelas em solenidades em suas Catedrais
acompanhados de vários de seus sacerdotes. Príncipes assinaram seus
nomes de próprio punho nos livros das Congregações Marianas.
Sabendo desse passado glorioso, como podemos “presentear” um
sacerdote com a fita azul?
Pensemos
na tradição das Congregações Marianas e lembremos dos sacerdotes
e bispos que honraram a Virgem Maria em seus ingressos na associação.
Que seja para qualquer um, até ao sacerdote, algo muito importante,
que seja marcante em sua vida. Isso converte, isso mantem no Caminho,
isso acalenta nos momentos difíceis da vida.
Santa
Maria, Rainha dos sacerdotes, rogai por nós!
________________________________________________
1-
Lema da Companhia de Jesus referente à obediência sem
questionamento que deveria o Jesuíta exercer perante seus
superiores. Deveria ser como o cadáver, que é trocado de lugar sem
ter reação.
Comentários