Posturas no século XXI
Alexandre Martins,
cm.
Vemos
em fotos antigas a postura de congregados marianos de paletó e
gravata, trajando suas fitas e com postura adequada, até galante,
erguendo as bandeiras das CCMM.
Muitos
podem achar que é apenas uma compostura dos chamados “anos
dourados” e que nada teria a ver com a denominada “juventude
descolada” dos tempos atuais. Hoje, diriam eles, os jovens são bem
sem-cerimônia.
Ocorre
que estamos há mais de 40 anos da Revolução da Contracultura
ocorrida em 1968. Na época, jovens da Universidade de Sorbonne, na
França, fizeram manifestações para reivindicar a contestação de
uma Sociedade e de um sistema social que achavam injusto com os menos
favorecidos. Era contestar aquilo que estava “imóvel” por
décadas e mesmo séculos. Os “símbolos do conservadorismo”
começaram a sumir, como a gravata nos homens e o sutiã nas
mulheres. Os cabelos, antes bem penteados e com fixador, foram
deixados crescer até o meio das costas e as barbas sem penteio. As
festas jovens eram regadas a muita bebida e confusão, sendo usadas
drogas das mais variadas, sob o pretexto de “abrir os horizontes da
mente”. Era moda que em uma bolsa feminina existisse um tablete de
contraceptivos (mesmo que não fosse ser usado).
Mas
o lema “é proibido proibir”, usado em profusão desde aquela
época, está sendo colocado em cheque mesmo por jovens
contemporâneos. São filhos e até netos daqueles jovens de cabelo
liso e calça de veludo cotelê, de vestidos de tergal e sapatinhos
de lacinho... Um mundo que não existe mais há décadas.
Publicações
especializadas vem frequentemente com manchetes e artigos dizendo que
os jovens estão governando os pais ou aqueles a quem deveriam
obedecer ou se espelhar. Uma falácia que não corresponde a uma
realidade a não ser aquela realidade formada pela cabeça e visão
de publicitários em escritórios de ar-condicionado gelado, tomando
café de sachê e vendo o mundo pela tela de seus tablets e ou pelos
programas da televisão por assinatura.
Mas
como isso pode afetar as Congregações Marianas brasileiras? Por
exemplo, de uma forma bem peculiar: estamos tratando os jovens do
início do século XXI como os pais ou mesmo os avós deles!
Os
jovens do ano 2000 são mais cibernéticos do que os do passado. Os
que tem seus quinze, vinte anos nos anos 2010 nasceram na década de
1990 e tiveram sua juventude nos anos 2000. Internet, celulares e
inflação baixa são característicos. Muitos não sabem nem o que é
uma ditadura. Missa ? Só se for com violão e guitarra. Roupas?
Muito jeans e camiseta de algodão com cores fortes. Nenhum deles
jamais viu uma missa em latim ou canto polifônico. Daí o interesse
que muitos jovens tem em coisas “novas”, ou melhor, em coisas
“que lhes parecem novas”.
Atualmente
há muitas jovens de 17 anos que vão à missa de véu. Criou-se até
um pequeno movimento na internet sobre o assunto, dando as provas
reais da confirmação bíblica do uso do acessório e de uma
adaptação ao meio atual. Há rapazes que querem pertencer a grupos
que usem paletó e gravata “ao menos de vez em quando”. E sem
falar de dois casos característicos - e brasileiros - que são a
Toca de Assis e os Arautos do Evangelho.
O
primeiro, “ousa” vestir seus membros com roupas parecidas com
aquelas que a tradição popular diz que Francisco trajava. E estes
“audaciosos” usam dela frequentemente, em uma época onde os
religiosos ainda estão influenciados por uma doutrina pós-conciliar
- que esta fora de moda - como o uso de roupa secular ao invés do
habito. Os membros dos Arautos são mais audaciosos: vestem-se como
soldados medievais. E o que mais espanta a um observador descuidado é
justamente que são duas organizações com o maior numero de
jovens!
Será
que o jovem do seculo XXI esta sendo reacionário e querendo voltar
para a idade media? Primeiro, é necessário entender o que é
“novo”, “antigo”, “tradicional” e “antiquado”.
Por
“novo”, como a própria palavra afirma, é algo “inédito”.
Se lermos a Sagrada Escritura veremos que “nada há de novo embaixo
do Sol” (Ecl 1,9). Então, nada que possa o Homem fazer, necessitar
ou desenvolver em sua vida pessoal será inédito. Sempre haverá
usura, paixões, violência, enganos, traições e também amor
correspondido, seguimentos cegos, aspirações sublimes.. Se há
“novos movimentos” mesmo em famílias como os Franciscanos (o
caso da Toca de Assis) é porque no passado houveram renovações
para retornar ao espírito original do Poverello, como os Capuchinhos
e outros. Tudo se repete.
“Antigo”
é algo que “é tão bom que pode se manter enquanto outros
acabaram”. Diz um provérbio popular que “só o que é bom
permanece para ser chamado de antigo”. Então, os prédios que
foram feitos com cuidado e técnica adequada são os que resistiram à
ação do tempo e são vistos até hoje, como as basílicas de Roma.
“Tradicional”
é algo que permanece por épocas subsistindo a modas e modismos. Em
geral é algo bom em essência, que permanece numa tradição
benéfica. Como a aliança de casamento, usada há séculos e de tão
bom significado que a Igreja a adotou como parte da cerimônia de
casamento.
“Antiquado”
é o que um dia foi bom mas em outra época pode não servir ou ser
mesmo mau. Como os suspensórios para manter as calças masculinas em
certa postura. Com o desenvolvimento dos cintos, alguns até
elásticos, os suspensórios caíram de uso.
Por
incrível que possa parecer, quando alguma jovem deseja o véu ou um
rapaz quer usar um paletó, os primeiros opositores não são os
outros jovens mas os adultos – sim, aqueles jovens dos anos 1970 –
que criticam dizendo que “não são roupas de jovem” ou “parecem
velhos”. O jovem não é educado a procurar o melhor, mesmo que
esse “melhor” seja uma releitura visando a busca dos valores
clássicos.
O
que podemos entender é que não devemos tratar os jovens de hoje com
atitudes antigas. É e sempre será um desafio a suplantar: tratar
as novas gerações com a necessidade que eles tem de serem os
futuros adultos. Os jovens de hoje serão os que manterão o
mundo de amanhã. E este amanhã pode não ser tao longinguo assim.
Se
entendermos que os jovens de hoje estão sendo tratados com a mesmo
preconceito do passado, então é um inicio para uma mudança de
atitude. No passado queriam que os jovens usassem terno numa época
de jeans. Hoje, querem que sejam crianças quando eles querem
amadurecer mais rápido. Como resolver isso?
Cabe
a cada um de nos, dirigentes ou instrutores de Congregações
Marianas que avaliemos com a devida caridade e clareza a cada jovem
que esta a nosso lado. Tratá-lo com a individualidade que merece e
precisa. Nossas jovens querem usar véu nas Missas? Permitam e
incentivem. Querem ir nas missas festivas da CM de paleto? Digam qual
o melhor modelo. Não serão menos jovens do que aqueles que retomam
os bailes de debutantes dos anos 1950 ou daqueles que usam os trajes
orientais de uma arte marcial. Não pensemos que os jovens do celular
com foto e SMS são os mesmos daquela canção da “calça jeans
velha e desbotada”.
Os
jovens de hoje, como os de sempre, procuram um local firme e com
posições firmes. As Congregações Marianas sempre foram esses
locais. Quando elas deixaram sua firmeza para “adaptar-se aos
tempos” amargaram desistências e fechamentos. “Adaptar-se”
nunca quis dizer “rever conceitos”, mas “ser flexível”. Os
jovens do século XXI querem uma associação que seja genuína, que
não se deixe influenciar pelos ditames da moda. Uma moda que se
torna cada vez mais escandalosa. Tão escandalosa que fere os olhos
até de quem que nunca viu coisa melhor.
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