Amores




 Quem nos purifica, senão Deus?
Mas se não quiseres, Ele não te purifica. 

 É pois unindo a tua vontade a de Deus que tu te tornas puro.
S. Agostinho de Hipona [1]



O desejo de ser amado é inerente à natureza humana.  E quanto mais hoje, mundo da tecnologia, cada vez mais  afastado do contato material com o próximo -afinal, pede-se  pizza pelo telefone,  informações por gravações, pesquisas  pela Internet -, pois este mesmo Mundo precisa de um contato cada vez maior com alguém que seja o nosso amor. 

A falta de um contato amoroso se reflete até mesmo  em nossas relações com os demais. É verdade que muitos nem sabem como se portar no supermercado ou mesmo para pedir uma informação a um guarda...

Em grupos existentes na Igreja, é bem conhecido o processo de maior interesse de jovens por estes grupos: as moças e os rapazes vão para conseguir um namorado. É uma afirmação genérica, é verdade, mas muito significativa, uma vez que a maioria dos jovens abraça a “militância religiosa” justamente na fase de descoberta do namoro e da afetividade à flor da pele. Os rapazes procuram moças “decentes”, que não tiveram aventuras amorosas anteriores e as moças procuram rapazes “sérios”, que não vão se preocupar em levá-las a um motel depois de uma noitada. Em resumo, o que ambos querem são pessoas normais e que possam lhes dar um amor sincero e puro.

Se isto lhe pode parecer escandaloso, reflita: Por que a maioria dos jovens entra num Grupo Jovem na adolescência ou na juventude e sai quando se casa ou fica noivo? Por que tantos dirigentes de  movimentos deixam até a Igreja quando passam para a Faculdade ou arranjam um emprego mais  “exigente”? Por que a mais freqüente atividade de Grupos Jovens são as confraternizações e festas? Por que a maioria dos participantes dos grupos namora os outros participantes? Por que, se algum jovem tem namorado, não o leva às atividades do seu Grupo?

Às moças tão ávidas em eleger seus “ídolos”, estes atos são mais nocivos. É conhecido que muitas se “apaixonam” pelos líderes de grupos ou por aqueles que tem “dons” que os diferenciam dos demais. Quando declaram seu “amor” a eles, se são recusadas, passam a odiá-los, sentem-se envergonhadas perante o grupo e fogem da Igreja.

Aos rapazes famosos, por acharem que “tudo o que reluz é ouro”, deixam as “simpáticas” moças piedosas por outras, modelos de beleza. Esquecem de que muitas vezes são sepulcros caiados: sua beleza é exterior, enquanto no interior são horríveis e mundanas. Resultado: as “belas”, geralmente mundanas, os afastam da vida da Fé e os perdem no Mundo.

Quanto a nós, congregados marianos - defensores e propagadores da pureza, virtude esta que tanto nos aproxima da imitação da Mãe de Deus -, que podemos fazer de concreto para evitar que em nossa Congregação aconteça este triste quadro?

Em primeiro lugar, respeitar o próximo. Evitemos conversas exageradas e imprudentes com aqueles que possam se escandalizar. Mantenhamos uma postura à altura de imitadores da Virgem Puríssima.

Depois, retificar nossa intenção de participar da Congregação e de evangelizar. Perguntemo-nos: para que vim aqui, senão para me unir a outros que me ajudarão a entender melhor a minha Fé e a me amparar neste caminho para a santidade? Para que devo levar a Palavra de Deus ao meu próximo, e este à recepção dos Sacramentos senão para, amorosamente, cumprir aquele mandato batismal: “Ide e evangelizai” ? [2] Tudo o que foge ao dito aqui, é passível de ponderação e até de refutação...

Numa palavra: falta a muitos uma maturidade emocional. Esta se consegue com o passar dos anos e a força de experiências, às vezes, dolorosas. Na Congregação, podemos ter bons amigos a quem possamos “desabafar” e até pedir ajuda. O sacerdote é o amigo íntimo a quem podemos dizer tudo e quem não divulgará nada, nem ficará com inveja de nós. Recorramos a ele mesmo nestas “infantilidades”...

Peçamos à Virgem Pura que nos mantenha na inocência ou nos dê a pureza necessária para bem viver e louvar a Trindade Santa:

“Ó Deus, que pela Imaculada Conceição da Virgem Maria, preparastes a Vosso Filho digna habitação, nós Vos rogamos que, como a preservastes de todas a mancha pela previsão da morte de Seu mesmo Filho, nos concedais por sua intercessão que também puros cheguemos até Vós” [3].


Alexandre Martins, cm.
(Publicado originalmente no Boletim “Salve, Rainha” da
Congregação Mariana da UFRJ em setembro de 1997)



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1 -s. Agostinho de Hipona, “Confissões”, ed. Quadrante, SP, 1997, pág,. 98
2 - Mc 15,16
3 - Oração da Novena da Imaculada Conceição.

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