Nem todos... - o apostolado ao lado
Alexandre Martins, cm.*
Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito,
vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres,
e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me.
Mt 19,21
O chamado à santidade é dirigido a todos os Homens [1]. Todos, em seu estado de vida e de acordo com sua posição na Sociedade são chamados à santidade.[2]
Como chamados à santidade, também os cristãos são chamados pela Igreja ao apostolado: “Impõe-se a todos os cristãos o dever luminoso de colaborar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e acolhida por todos os homens de toda a parte”[3].”O membro que não trabalha para o aumento do Corpo, segundo a sua medida, deve considerar-se inútil para a Igreja e para si mesmo” [4]. Apostolado este que é levar o Cristo Ressuscitado a todas as camadas da Sociedade, a todas as pessoas sem exceção...e, muitas vezes, somente um leigo pode levar este Cristo em certos locais [5].
Por exemplo: somente um universitário pode levar o Cristo à Universidade.
Isto é muito comentado em círculos católicos dos mais variados matizes. Contudo, o que não é muito falado é algo que inconscientemente dirige-se a nós, membros da Congregação Mariana, “escola eficientíssima da Mãe de Deus” [6]. Como também não é falada sobre a “tendência de levar a todos para a Congregação”.
O que poderia ser o ideal para qualquer congregado -o levar as pessoas à santidade por meio da Congregação -, pode vir a cair em um certo “fanatismo” e a um certo “comodismo” que assola grande parte das associações e movimentos da Igreja contemporânea. Falo do fanatismo por achar que “somente eu e meu grupo estamos certos no servir a Deus”. Falo do comodismo por simplesmente arrastar alguém para uma reunião ou atividade religiosa para que lá ele seja evangelizado, ao invés de mim mesmo, amorosamente, amigavelmente, fale de Deus a ele.
Não, as Congregações Marianas não são as únicas depositárias da Verdade. Nós fazemos parte daqueles que falam a Verdade e escutam a Verdade. Mas não somos os únicos na Igreja. Achar que somente através de nós, as pessoas podem chegar ao perfeito conhecimento de Deus é heresia.
Somos um dos mais fáceis caminhos, pois nos apoiamos na doce intervenção da Virgem Maria. Somos a mais antiga associação de leigos da Igreja. Somos a que mais documentos pontifícios possui, louvando-a,recomendando-a [7]. Cerca de 75 santos canonizados são congregados marianos.
Mas: o Apóstolo Lucas não era congregado, embora tenha hospedado a Virgem Mãe de Deus em sua casa - que santa inveja temos dele...-; o padroeiro dos sacerdotes, s. João Maria Batista Vianney, não era congregado; [são] Josemaría Escrivá, fundador do Opus Dei, amoroso devoto da Virgem, também não; nem a beata Josefina Bakhita, exemplo de vida cristã na África muçulmana... Daí, achar que somos os “donos da verdade” é, além de puerismo, uma soberba idiota.
As Congregações Marianas são abertas a todos, mas nem todos podem delas participar.
E então, o que fazer? Bem, como nem todos podem participar das Congregações e os motivos são variados - capacidade intelectual, devoção desinteressada, identificação com o estilo, etc. -, todos, porém, sem exceção, são chamados a serem santos. E temos de assumir a responsabilidade pelo auxílio à salvação de nosso próximo. E este Próximo está bem próximo: em nossa casa, em nossa rua, na condução que tomamos, em nosso estágio..., ao nosso lado na sala de aula!
Temos uma grande responsabilidade em transformar o nosso círculo de amizades, o nosso círculo familiar, nosso local de trabalho... O cineasta Arnaldo Jabor, em entrevista, dizia que “o ideal democrático é fazer democracia em partes, ou seja, que cada um seja democrático, que democratize o seu espaço e não que apenas exija que o sistema, o governo, enfim, que outros sejam democráticos. Se quisermos que apenas os outros sejam democráticos, nós não seremos, e a democracia não se realiza”.[8] O que é dito aqui para a democracia podemos usar para a propagação do Reino de Cristo.
O Papa Pio XI gostava de ver congregados marianos. Perguntado se seria, porque ele mesmo era um deles, o Pontífice disse: “vejo atrás de cada um deles ao menos dez bons católicos!” [9]. Ele se referia ao exemplo que os congregados davam de sua vida aos seus amigos e parentes. Estes, vendo a piedade daqueles, procuravam ao menos serem bons católicos e conquistavam a santidade de acordo com suas vidas.
Meditemos: somos assim? “Afetamos” as pessoas a nossa volta, como uma gripe que pega, como uma música de trio-elétrico?
Levemos as pessoas à santidade. Somos os responsáveis por elas. Não deixemos para outros, aquilo que é o nosso dever. Só assim poderemos ser o sal da terra que fala o Evangelho[10], e de que tanto nos alertam nos cursos de liturgia.
Santa Maria, Espelho da Sabedoria, que possamos espelhar as graças e dons de Deus em nossos irmãos.
(*) - Publicado originalmente no Boletim “Salve, Rainha”
da Congregação Mariana da UFRJ em outubro de 1997.
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1 - 1Tes 4,3
2 - Concilio Ecumênico Vaticano II, Lumen Gentium 31
3 - Concilio Ecumênico Vaticano II, Apostolicam Actuositatem 1338
4 -Concilio Ecumênico Vaticano II, Apostolicam Actuositatem 1334
5 - papa Pio XI, Carta-Encíclica “Quadragesimo Anno”.
6 - papa Pio XI, Carta do Secretariado de Estado a Mons. Waizt ,2 de agosto de 1927
7 - são cerca de 130 documentos papais, incluindo Encíclicas, uma Bula Áurea e uma Constituição Apostólica, bem como citações no atual Código de Direito Canônico.
8 - programa “Conexão Internacional”, rede Record de TV, 29/09/1997
9 -Clemente Espinosa, SJ, “O Magistério Pontifício sobre as CC.MM.”, Espanha, 1955.
10 - Mt 5,13