A República Mariana - a cidade de Maria
Alexandre Martins,
cm.
A Sociedade humana se organiza em grupos. De acordo com a história
da humanidade, esses grupos se organizam de formas características.
As
irmandades católicas, e também as confrarias, se organizam de uma
forma familiar, como o próprio nome diz. Ou seja, são irmãos que
se consideram parte de uma mesma família. Daí o nome “irmandade”
(reunião de irmãos) e “confraria” (do latim, “frater”,
irmão, também é reunião de irmãos) serem nomeados esses
agrupamentos.
O usado na Idade Média
Como
as irmandades e confrarias foram concebidas na Idade Média, como a
primeira confraria mariana que se tem notícia, a fundada pelo início
do século XI, em Ravena, Itália, pelo Beato
Pedro de Honestis
(1049-1119), a sua organização era concebida como as guildas
medievais.
Uma
irmandade tem um chefe denominado Provedor que, como significa o
nome, é o que provê as necessidades do grupo, como um pai na sua
família, imitando outra instituição quase medieval: os mosteiros e
seus abades.
Nas
irmandades e confrarias a mesa diretora é composta em geral pelos
mais antigos que se revezam de acordo com o tamanho e necessidade da
confraria. Símbolos são usados amplamente para distinguir o grau e
a importância do Provedor e os membros da mesa de direção, mesmo
para os que não são membros da irmandade.
A Idade Moderna
Com o
advento das Congregações Marianas surge uma organização
diferente.
As
Congregações Marianas, embora taxadas de “medievais” até por
alguns jesuítas modernos, curiosamente surgiram na própria Idade
Moderna, no século XVI. A Idade Média havia terminado há várias
décadas atrás. Mesmo o famoso Concílio de Trento, renovador de per
si na história da Igreja, havia sido realizado poucos anos antes
da fundação da primeira Congregação Mariana.
Como
uma instituição moderna, portanto, as Congregações Marianas
adotaram uma organização também moderna.
O
governo das Congregações Marianas é entregue aos leigos, com a
supervisão de um sacerdote. As irmandades e confrarias também o
eram, mas com as Congregações Marianas a forma era algo de
“republicano” em comparação com as irmandades que eram, por sua
vez, mais “monarquistas” e “feudais”.
Leigos como diretores
Um
exemplo claro do citado acima é o título que o dirigente leigo
possui nas Congregações Marianas: o de Prefeito, ou Presidente,
títulos empregados na Europa e Brasil, respectivamente. Esse título
exemplifica bem o caráter comunitário da gestão administrativa das
Congregações Marianas. O diretor é alguém eleito por seus pares e
pode ser tanto um antigo Congregado quanto um mais novo. Além disso,
os demais diretores também são escolhidos do mesmo jeito. Se
compreende então que é a comunidade de Congregados que são
representados em um pequeno grupo que organizará a vida da
Congregação Mariana por um determinado período e que por sua vez
será substituída por outros em nova eleição interna.
O
sacerdote possui neste cenário uma posição e atuação bem
particular. Embora as Regras Comuns de 1910 tenham dado poderes
maiores aos sacerdotes, que possuíam o título de Diretor
Espiritual, na realidade essa autoridade era exercida mais num
sentido de amorosa orientação do que rígida disciplina.
Mesmo
o famoso pe. Coster, jesuíta que tanto utilizou das Congregações
Marianas para o trabalho de evangelização e apostolado nas cidades
europeias do século XVII, dava apenas as orientações gerais par
suas associações e para seus Congregados, deixando-os livres para a
ação.
Infelizmente,
no início do século XX, no Brasil, as Congregações Marianas eram
tratadas de forma mais rígida pelos sacerdotes, colocando os
dirigentes numa situação de praticamente dependência deles, sem
muita iniciativa particular. Com a mudança das Regras em 1967, e o
consequente retorno à posição mais colaborativa do sacerdote, os
dirigentes ficariam como que desamparados na orientação de seus
trabalhos administrativos e a consequência foi uma grande queda no
ímpeto apostólico das Congregações Marianas no Brasil.
Mas
as novas Regras que dirigem as Congregações Marianas no Brasil, se
por um lado não modificaram a posição colaborativa do sacerdote na
organização da associação, por outro lado não impedem que se
possa retornar à tradição das clássicas Congregações Marianas.
A Regra brasileira de 1994
A
Regra de Vida de 1994 nada se refere a não poder ser aceito na
Diretoria alguém ainda no Aspirantado, quando não há número de
Congregados marianos para isso, como se verifica nas Congregações
Marianas que são recentemente fundadas. O antigo costume de haver a
Consagração Perpétua aos primeiros fundadores de uma Congregação
Mariana caiu em desuso na década de 1970 no Brasil.
A
primeira diretoria é escolhida praticamente em um consenso pois em
geral o número inicial é pequeno. A Regra de 1994 até mesmo a
chama de “diretoria provisória” Daí a possibilidade de haver
aspirantes entre os diretores.
A
diretoria clássica era composta por um número considerável de
pessoas. Sua divisão era de “oficiais maiores” e “oficiais
menores”. O temo “oficial” dá-se porque a pessoa possui um
“ofício” um função, e não, como se pode pensar de primeiro,
alguma honraria ou prêmio.
Na
tradição das Congregações Marianas, os oficiais maiores são o
Presidente, o Vice-presidente, o Secretário e o Tesoureiro. O
assistente eclesiástico é uma função que, embora compunha o
elenco dos oficiais maiores, não é algo especial, pois não é
eleito, mas nomeado. Em paróquias, é uma função naturalmente
exercida pelo pároco.
Os
oficiais menores são os demais cargos que venham a existir, como o
de Porta-bandeira.
A
escolha da Diretoria, em especial os oficiais maiores se dá por
eleição simples entre os Congregados marianos. É um costume abster
o Aspirantado de votar.
A
duração do mandato se dá por um ou dois anos, E sempre foi feita
uma cerimônia especial de posse de diretoria, com um pequeno
juramento proferido pelos diretores perante o altar e o padre
assistente, aonde se sublinha o caráter serviçal da função de
diretor.
O protagonismo moderno das Congregações Marianas
As
Congregações Marianas, fundadas na Idade Moderna, sempre estiveram
à frente do seu tempo. Seu protagonismo se deu também através de
uma gestão participativa de escolha livre entre os membros. Algo
comparável a uma pequena república, ou mesmo uma pequena cidade
onde seus habitantes escolhem seu prefeito.
Os
diretores são os eleitos para organizar e guiar essa pequena
república, uma república que não segue as leis humanas mas as leis
do Evangelho. Uma república que tem como pátria a pátria celeste.
Uma república que usa as cores da Mãe de Deus. Uma república da
Virgem Maria.
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