Congregações, Celeiros, Chuva e Vocações



Alexandre Martins, cm.

 
“Celeiro de Vocações” é um dos apelidos das Congregações Marianas por vários papas e que demonstra a utilidade destas associações em fomentar e proporcionar à Igreja suas vocações sacerdotais e religiosas.
Exemplos não faltam: desde proporcionar o aumento das fileiras da Companhia de Jesus até ser o embrião de novos conventos, como o clássico exemplo de Madre Teresa de Calcutá que, com companheiras de sua Congregação Mariana na sua Albânia natal, foram o primeiro grupo das Missionárias da Caridade.

A atualidade da formação para o vocacionado

 

Nos tempos atuais, as Congregações Marianas tornaram-se um importante instrumento de orientação vocacional. Por mais que o apostolado leigo tenha se desenvolvido e tomado formas, o estilo de formação espiritual do Congregado ainda é muito útil às novas gerações de vocacionados. “A atualidade dessa espiritualidade é importante para o mundo atual, e sua regra de vida conduz a pessoa na Escola da Santidade.” afirma1 D. Orani Tempesta, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ).
As atividades espirituais comuns das Congregações Marianas produzem na alma vocacionada o gosto crescente das coisas do alto. É a partir dessas “janelas para o Céu” que o vocacionado sente crescer seu amor pelo serviço do altar ou pelo convento em uma vida recolhida. Os que não são chamados à vida religiosa apenas sentem manter em seus corações a chama da piedade e o apelo à conversão, mas não o crescimento do amor de Deus até à paixão como a alma vocacionada. É uma boa oportunidade de discernir entre um apenas “bom Congregado” e uma futura vocação religiosa. Quantos enganos não seriam evitados se algumas Congregações Marianas tivessem mais atividades espirituais frequentes e profundas!

A Direção Espiritual do Congregado como fundamento do discernimento vocacional

 

A Direção Espiritual é uma prática comum a toda a Igreja. É algo dos primórdios do Cristianismo e uma pratica naturalmente oriental. Busca sempre conselho junto ao sábio” (Tob 4,19). No Oriente, é tradicional e comum a relação “mestre e discípulo” era fundamental em qualquer filosofia2 e absolutamente necessária em qualquer religião. Nas Congregações Marianas desde as primeiras regras3 insiste-se que o Congregado tenha um diretor espiritual. Os benefícios são imenso e, se para os jovens são utilíssimos, para os adultos também são necessários. Em toda a vida do Congregado a presença de um Diretor Espiritual4 deve permanecer.
Não se entende o discernimento vocacional em uma alma sem diretor espiritual. Embora nem todos os sacerdotes – confessores em sua essência – tenham vocação para uma correta e frutuosa direção espiritual, a uma alma vocacionada o diretor espiritual é imprescindível.“E que grande coisa é, filhas, um maestro sábio, temeroso, que prevê os perigos. É todo o bem que uma alma espiritual pode desejar, porque é grande segurança. Não poderia encarecer com palavras o que isto importa”.5 Podemos ate dizer, sem medo de errar, que um vocacionado sem um diretor espiritual não é um vocacionado de verdade. Afirma s. João Paulo II: “para poder descobrir a vontade concreta do Senhor sobre a nossa vida, são sempre indispensáveis (…) a referência a uma sábia e amorosa direção espiritual”.6
De fato, quantos procuram a vida religiosa como um escape do mundo, com uma forma de fugir dos naturais compromissos seculares como o trabalho assalariado, o progresso no estudo e uma família e filhos? Quantos querem “fazer carreira” na Igreja, como se ela fosse um empresa multinacional ou uma ONG? E isso é tão frequente em nossos dias que mereceu um pronunciamento especial do papa Francisco: ““E quando a Igreja quer se vangloriar da sua quantidade e cria organizações, escritórios e se torna um pouco burocrática, a Igreja perde a sua principal substância, e corre o perigo de se transformar numa organização não-governamental, numa ong. E a Igreja não é uma ong. É uma história de amor ... Os escritórios são necessários, mas até um certo ponto: o importante é como ajudo esta história de amor. Mas quando a organização fica em primeiro lugar, o amor desaparece e a Igreja, coitada, se torna uma ong. E este não é o caminho”.7
Acreditamos que, para o coração honesto e amoroso de Deus, a Direção Espiritual serviria para um correto discernimento vocacional.

Regras seguidas antes e depois do chamado vocacional

 

A disciplina e hierarquia tradicionais nas Congregações Marianas servem para educar a alma vocacionada a compreender sua vida religiosa futura.”nos congregados de Maria, esta como que ingênita "reverência e humilde submissão aos pastores sagrados" brota necessariamente das suas próprias regras”, afirma o papa Pio XII.8
Cada ordem ou comunidade religiosa possui sua própria regra. Todos os que ingressam em alguma delas tem conhecimento das regras ou estatutos e prometem segui-los amorosa e filialmente. A um Congregado mariano, que por bom tempo leu, aprendeu e seguiu a Regra das Congregações Marianas torna-se mais fácil seguir a regra da ordem religiosa à qual ingressa.
A hierarquia das Congregações Marianas não é seguida sob pena de pecado, mas pela consciência de que uma casa deve estar arrumada e que a organização leva à eficiência e ao sucesso. Obedecer à hierarquia é, para um bom Congregado, algo natural e espontâneo. Os votos de obediência, tanto na vida religiosa quanto sacerdotal, são naturais para o Congregado habituado à vida na hierarquia da Congregação Mariana.

Sem preocupação com o futuro das vocações

 

A priori, não é necessário que uma Congregação Mariana se preocupe com “jornadas vocacionais” ou atividades do gênero, tão em moda em algumas dioceses para o recrutamento de vocações sacerdotais se religiosas. Como dito acima, uma vida de Congregação Mariana levada a sério naturalmente conduz ao discernimento vocacional. Lembremos que, quando as Congregações Marianas eram chamada de “celeiros de vocações” não haviam os encontros vocacionais diocesanos e nem as comemorações do Mês das Vocações Sacerdotais e Religiosas.
Será que a Igreja criou essas atividades porque as Congregações Marianas deixaram de ser fornecedoras de vocações? É algo a se pensar.
Os sacerdotes que se preocupam com o declínio das vocações sacerdotais deveriam por sua vez fomentar a vida espiritual das Congregações Marianas e ver nelas um terreno fértil de vocacionados.
As Congregações Marianas sempre foram e sempre serão celeiros de vocações. Basta ser a regra cumprida e a piedade dos Congregados aumenta. As vocações irão surgir como capim no solo depois da chuva.
Santa Maria, rainha dos vocacionados, rogai por nós!


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1- Mensagem pelo Dia Nacional do Congregado Mariano 2013, disponível em http://www.cnbb.org.br/articulistas/dom-orani-joao-tempesta/9336-avante-congregados-marianos, visitado em 17/1/15
2- Uma relação mestre-discípulo que incluia não somente a transmissão de idéias, pensamentos e conceitos por meio da palavra, mais também que além do mais a presença exemplar do mestre, exercia uma grande influência sobre o discípulo. Considerados como mestres de vida, não só transmitiam conceitos teóricos, senão que sua instrução abarcava todos os aspectos da vida e do comportamento moral. E o discípulo? Ele era o aprendiz. Dele se esperava a vontade de aprender, assimilar e modelar-se conforme uma doutrina e estilo de vida. Esperava-se uma atitude de abertura de consciência, de confiança e de disponibilidade com relação ao seu maestro.O modelo do mestre é Jesus: “Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que procurais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras? Vinde e vede, respondeu-lhes ele. Foram aonde ele morava e ficaram com ele aquele dia. Era cerca da hora décima”. ( Jo 1,38-40) – Guadalupe Magana, disponível em es.catholic.net, visita em 17/1/15
3- Regras Comuns, 36; Bis Saecularii,4; Regra de Vida 12,a,4.
4- São Inácio de Loyola, influenciou decisivamente sobre a direção espiritual dado que ela representava a coluna vertebral durante os Exercícios Espirituais. É necessário para Exercício Espirituais: - discernir as disposições pessoais do exercitante; suas emoções internas; ajudá-lo em suas dificuldades; dispôr conforme a elas a matéria dos puntos para meditar; e ajudar a abrir sua alma a voz de Deus, máxima ao realizar a eleição o reforma de vida, respeitando sempre a liberdade do exercitante. Neste contato pessoal, tanto o exercitador como o exercitante devem mostrar-se dóceis às moções do Espírito Santo: afinal o exercitador se lhe concede um carisma especial pelo que desempenha eficazmente seu ofício para ajudar o exercitante; e a este se comunicam as luzes e graças adequadas à situação de sua lama através do exercitador: para fazê-lo caminhar pela via da fé, da humildade, da simplicidade do espírito. Finalmente, por tanto, coloquio na fé. – Guadalupe Magana, disponível em es.catholic.net, visita em 17/1/15
5- S. Teresa de Jesús, Obras Completas. Ed Aguilar, Madrid, Camino de Perfección. N. XXXVII, p. 369.
6- in, Christifideles Laici, n 58, p. 175.
7- papa Francisco em homilia na Missa com funcionários do Instituto de Obras da Religião, Casa Santa Marta, Vaticano, 24/4/2013 24
8- Bis Saecularii, 11.
 
 

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