O Útil e o Necessário - nem todos precisam participar de um grupo
Alexandre Martins, cm.
Após
o Concílio Vaticano II e as Conferencias Episcopais de Puebla e
Medellin, o protagonismo dos leigos1
foi elevado às últimas consequências. Nunca na História
Eclesiástica se proporcionou tantos direitos ao leigo católico, a
ponto de vários historiadores – e mesmo muitos leigos –
acreditarem que a Igreja Católica atuou como as igrejas
protestantes, eliminando ou depreciando a Hierarquia Eclesiástica. O
Cardeal Fernando Antonelli,
membro do Consilium, organismo
encarregado da reforma litúrgica lamentava-se: “Tenho a impressão
de que se concedeu muito, sobretudo em matéria de sacramentos, à
mentalidade
protestante”.
Mas
a preocupação com o apostolado leigo não provem de agora. Desde o
inicio do século XX os Papas tem insistido no apostolado dos leigos
mais efetivo. É parte do “ser cristão” e desdobramento do
Batismo. “E o próprio papa Pio XII, que propunha uma visão mais
abrangente da expressão ‘ação católica’, para poder
contemplar não somente uma determinada associação, mas todos os
cristãos envolvidos no apostolado, em suas múltiplas formas.” 2
Desde
o século XVI as Congregações Marianas foram exemplares na
orientação de leigos para o apostolado, tornando-se escolas do
apostolado organizado. Lembra o papa Pio XII que “se devem
denominar cooperadoras do apostolado hierárquico.”3
Ainda
que as irmandades de leigos fossem algo que remonta ao período
monástico da Igreja, quando s. Bento de Nursia admitia os leigos que
viviam próximo dos mosteiros beneditinos para participarem das
orações canônicas dos monges, tornando-se os “oblatos do
Mosteiro”, pouca atenção se dava ao apostolado próprio dessas
irmandades que eram apenas espectadoras da liturgia monástica ou
eclesial.
Com
o fim da Idade Média e o desenvolvimento dos centros urbanos, a
Sociedade mudou o seu modo de pensar da mesma forma que modificava
sua vida diária. Era necessário que houvesse uma atividade
evangelizadora para que pudesse servir ao homem urbano que nascia,
fruo do mercantilismo, da burguesia e do pensamento antropocêntrico
característico da Idade Moderna.
As Congregações Marianas, pioneiras no moderno movimento laical
A
Companhia de Jesus, famosa por suas missões evangelizadoras entre os
pagãos, era ao mesmo tempo especialista na evangelização do homem
das cidades.
As
Congregações Marianas foram o seu mais claro, eficaz e clássico
exemplo. Surgiram em colégios da Companhia que estavam no meio das
cidades e dentro da urbanidade. O apostolado leigo organizado no meio
urbano surge neste momento justamente com as Congregações Marianas.
A
partir delas surgem as diversas formas de apostolado organizado.
Algumas são frutos diretos das Congregações Marianas, outras são
criadas por influencia delas. De qualquer foram e fato histórico que
quase totalidade das agremiações de leigos a partir do seculo XVI
foram decorrentes das Congregações Marianas.
Curiosamente
somente as associações e movimentos surgidos após o Vaticano II
não possuem alguma ligação com as Congregações Marianas, em
especial as associações da chamada Renovação Carismática. As
associações desse movimento tem suas raízes no Protestantismo
pentecostal dos anos 1960.
Um
fato inédito que se desenvolveu nesses movimentos pós-Vaticano II é
uma atitude de proselitismo, isto é, de fazer seguidores. Isso
provem justamente de sua raiz protestante. Como uma “Igreja dentro
da Igreja” alguns movimentos insistem no recrutamento de todas as
pessoas para seu grupo. Alguns cegam a se achar com o” o melhor
modo de apostolado” ou “melhor espiritualidade” de toda a
Igreja. Tal pensamento leva seus seguidores a conseguir o maior
numero de fieis católicos possível para seus grupos. O que seria
uma atitude natural de uma maior vivencia do Evangelho torna-se uma
simples convocação para um clube.
Nesse
pensamento errôneo muitos acreditam que estar em um grupo ou
movimento é algo absolutamente necessário para viver a Fé Cristã.
Isso é um pensamento, repito, totalmente equivocado.
Devemos
entender o que é útil e o que é necessário para nossa vida
espiritual.
É
útil que estejamos unidas a outras pessoas que possuem o mesmo
desejo de progredir na Fé. È útil que o convívio com pessoas
piedosa nos incentive a sermos mais fervorosos. É útil que
estejamos trabalhando em equipe pelo reino de Cristo, pois é mais
produtivo e fácil do que estarmos sozinhos.
Mas
nada disso é necessário pra nossa vida espiritual.
É
necessário obedecermos os Mandamento e frequentar os Sacramentos. E
necessário sermos doceis e obedientes à Hierarquia Eclesiástica. É
necessário que sigamos a Liturgia com a mor e fidelidade. É
necessário que tenhamos comunhão de coração, pensamento de
atitudes, cm a Igreja.
Confunde-se
frequentemente útil com o necessário. Talvez seja por isso que
muitos grupos católicos tendem à mediocridade e não ao heroísmo,
Pessoas que foram recrutadas sem que tivessem sido avaliadas fazem
dos grupos aonde estão como reuniões sociais, tais com o um time de
futebol de fim de semana, Se há um culpado, não é a pessoa e muito
menos a associação, mas a pessoa que os colocou lá. Agindo como um
recrutador sem critério.
Critérios pra recrutamento a uma associação
E
qual o critério para haver o chamamento para um grupo ou associação?
O
critério é ajudar o outro a ser melhor cristão se este assim o
desejar. Mas a maioria não tem interesse mesmo que a eles seja
benéfico. Quanto a isso nada podemos fazer.
Portanto,
poderemos listar algumas etapas para um convite que tenha sucesso e
utilidade.
Primeiro,
a existência do caráter associativo, isto é, nem todos tem
vontade de pertencer a um grupo, seja ele qual for. Por exemplo, há
os motociclistas que desejam participar de um moto clube, pois querem
viajar em grupo, conversar sobre motos com outros que tem a mesma
paixão e vestir uma camisa do clube com orgulho.. Outros
motociclistas abominam isso, pois relacionam motociclismo com
liberdade total. É o que se chama de “vocação de grupo”. Se
alguém não possui esta vontade então nem adianta prosseguir para
as fases seguintes.
Em
segundo, a vontade de progredir. Há os que querem participar
de um grupo, mas apenas para se sentirem acolhidos pois tem baixa
auto estima. Se por um lado isso os ajudará psicologicamente, não
sera bom para uma associação religiosa que tem propósitos
diferentes de uma ajuda psicológica. Ajudara a eles mas prejudicara
os demais. Se escolhe chamar os que tem o firme desejo em ser mais
santos não aquele que deseja apenas vestir a camisa.
Em
terceiro lugar, a identificação com o espírito do grupo.
Cada membro de um grupo acredita que sua espiritualidade é a melhor
do Mundo. Isso é natural poisa a maioria das pessoas tende a ver o
entrono a partir de sua própria visão. Mas o que é bom para nos
nem sempre é bom para todos, assim como uma sopa de chuchu. Por mais
que nosso grupo ou espiritualidade seja bom e aprovado pela Igreja
isso não significa que todos se identifiquem com ele. De novo o
“útil e o necessário”. Para saber se a pessoas se identifica
com a espiritualidade do grupo basta um longa conversa com ela. Se a
acada história contada, a cada detalhe explicado o rosto dela se
ilumina, então é um bom sinal de identificação. O vocacionado
para algum grupo não se cansa em falar do grupo e quanto mais sabe
dele mais o quer viver.
A quem necessita
Ao
contrário de outros grupos da Sociedade, não é necessário ao
católico participar de algum grupo da Igreja, sejam eles pastorais,
movimentos ou associações. Não se deve recrutar a todos os que
frequentem a Santa Missa dominical para as associações da paróquia
e mitos menos fazer dos grupos de Catecismo ou Crisma uma organização
como a Congregação Mariana. Isso mais atrapalha do que ajuda.
Entendamos
que o caráter associativo da assembleia crista é somente uma
porcentagem daquela que frequenta a Santa Missa, assim como,
infelizmente, esta é uma parcela do número total dos batizados. Os
que desejam participar de grupos em geral não e´mais que vinte
porcento dos paroquianos.
Que
a Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos, nos ensine a usar das
associações da Igreja para ajudar ao s mais devotos a seguirem a
Cristo como o seleto grupo da Santas Mulheres. (1Pe
3,3-5)
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1-
“a Segunda Conferência Episcopal Latino-Americana, realizada em
Medellín (Colômbia), em 1968. Nessa Conferência ocorreu uma
tentativa de sistematizar e definir o papel do laicato na Igreja e
na sociedade, retomando as intuições do Concílio Vaticano II
(1962-1965) e a visão do Magistério Eclesiástico
latino-americano. O leigo na concepção do Magistério
Eclesiástico latino-americano teve uma evolução histórica e
doutrinal. O leigo é chamado a ter consciência dessa realidade e
a assumir sua responsabilidade diante dos desafios presentes na
própria estrutura da Igreja, assim como na relação com a
sociedade. Não se pode negligenciar a importância da Conferência
de Medellín, devido à sua contribuição doutrinal e pastoral
sobre o laicato, que será posteriormente retomada nos documentos
conclusivos das Conferências Episcopais latino-americanas de Puebla
(1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida” (2007). Prof.
Dr. Sávio Carlos Desan Scopinho in “O Laicato na
Conferencia Episcopal Latino Americana de Medellin 1968”.
2-
Fernando Rodrigues Francisco in “Aspectos fundamentais da
teologia do laicato a partir da exortação apostólica
Christifideles Laici” - São Paulo – SP,
2012