O Tripé das Reuniões
Alexandre Martins, cm.
Uma
Congregação Mariana tem características próprias. E são parte de
sua tradição secular, como as reuniões ordinárias, ou seja, as
reuniões comuns e frequentes.
Uma
reunião comum de Congregação Mariana, erroneamente chamada há
alguns anos de “reunião de formação” tem três pilares básicos
e absolutamente necessários: oração, meditação e ação
(ou apostolado). A Regra de 19941
apenas sugere, sem obrigação, esses pilares. Mas, a nosso ver, são
os pilares que são essenciais para dar forma a uma reunião
autêntica de Congregação Mariana.
O método das Congregações Marianas é diferente das demais associações
O
método Ver-Julgar-Agir2
não se aplica a uma reunião de Congregação Mariana pois a raiz
delas está na espiritualidade de S. Inácio de Loyola. Além disso,
“são três os objetivos principais da Congregação Mariana:
apostolado, vida interior e o culto à Virgem Maria.”3
Para
s. Inácio, a oração é a base da ação. E a oração necessita da
meditação para que possa ser sentida no interno do coração. A
partir dessa meditação pessoal4
se poderá fazer a ação pretendida ou necessária.
Os três pilares
O
“tripé” das reuniões das Congregações Marianas é seguido da
mesma forma desde a primeira, a Congregação da Anunciação, de
1563. Poucas modificações foram feitas, mas sempre os pilares foram
mantidos. O descaso desta forma tradicional ocasionou a ruína de
muitas Congregações, resultando em seu fechamento.
A
“oração” da reunião compreende as orações
tradicionais5
ou até outras que o Tempo Litúrgico ou a piedade dos Congregados
suscitar. As orações tradicionais a uma reunião são: a invocação
do Espírito Santo (recitada ou cantada), o Pequeno Ofício da
Imaculada Conceição (rezado, ou melhor, semitonado segundo o
Manual dos Congregados) as orações pelas intenções dos presentes
e pelas do Santo Padre. O período de tempo que todas essas orações
devem durar é de 20 minutos.
Por
“meditação” entende-se o período de tempo dado à
palestra ou à leitura de algum texto piedoso. Também faz parte
desse período os debates ou perguntas sobre ele, feitas pelos
Congregados ao palestrante ou mesmo entre si. O tempo é de 30
minutos aproximadamente.
Por
“ação” ou apostolado, entende-se as atividades6
a serem propostas pela diretoria a todos ou as sugestões espontâneas
surgidas na ocasião. Cumpre-se a leitura da ata para que as
propostas já discutidas não sejam novamente faladas e que os atos
propostos sejam cobrados e avaliados. O tempo dedicado a isso é de
15 minutos aproximados.
As Indulgências
Uma
reunião de associação religiosa possui suas indulgências
especiais. É por isso tão útil para o bom católico participar de
reuniões assim. As Congregações Marianas possuem suas próprias
Indulgências7
e das quais os Congregados participam mesmo apenas nas reuniões:
- Pela presença à Reunião semanal, ganhando-se a Indulgência Plenária8 durante a semana em dia à escolha.
- Pela presença à Reunião semanal, ganhando-se a Indulgência Parcial no dia, no ato.
- Os candidatos participam de todas as Indulgências.
- As orações semanais que se rezam durante as reuniões, oferecidas pelas intenções do Sumo Pontífice, bastam para lucrar as Indulgências das reuniões.
- Estas Indulgências podem ser lucradas com reuniões quinzenais.
O Testemunho dos Santos
Os
santos foram testemunhas oculares do bem que as reuniões das
Congregações Marianas produziam nos fiéis. Muitos sentiram isso em
suas próprias vidas, como Congregados marianos. O exemplos são
muitíssimos, mas, para não nos alongarmos, fiquemos apenas com o
que nos indica Santo Afonso9
de Ligório: “Lembra-te
das últimas coisas e não pecarás jamais” (Eclo 7,40). Se tantos
pecadores se perdem é porque não as meditam. “Tem sido desolada
inteiramente toda a Terra, porque não há nenhum que considere no
seu coração” (Jr 2,ll). Ora, os associados das Congregações são
levados a pensar nelas, por tantas meditações, leituras e sermões
que aí se fazem. “Minhas ovelhas ouvem a minha voz” (Jo 10,27).
Em segundo lugar, para salvar-se é necessário encomendar-se a Deus.
Fazem-no os membros das Congregações continuamente, e Deus os
atende com mais facilidade, porquanto Ele mesmo declarou que de boa
vontade concede suas graças às preces feitas em comum. “Ainda vos
digo que, se dois de vós se unirem entre si sobre a Terra, qualquer
coisa que pedirem, ser-lhes-á concedida, por meu Pai que está nos
céus” (Mt 18,19). Aqui observa Ambrosiasta: “Muitos fracos
tornam-se fortes quando se mantém unidos, e a oração de muitos não
pode ficar desatendida”.10
Um dinamismo secular que não se restringe a apenas um tipo
Uma
reunião de Congregação Mariana, como se pode perceber, é dinâmica
e prática. O tempo de duração total é aproximadamente de uma
hora, mas pode ser um pouco aumentado vez ou outra de acordo com a
necessidade. Reuniões muito extensas não são o comum nas
Congregações.
Essa
é uma reunião típica de uma genuína Congregação Mariana e se as
circunstancias pedirem, outras reuniões, de outros tipos, poderão
ser criadas e oferecidas aos Congregados, mas sem substituir essas
Reuniões Ordinárias.
As
Reuniões Ordinárias são a base da vida de toda a Congregação
Mariana e são o alimento espiritual e moral para todos os
Congregados marianos. O principio do fim de uma Congregação é
quando essas reuniões são desprezadas ou feitas sem cuidado.
Uma
boa Congregação Mariana tem essas reuniões todas as semanas.
Não
significa que a vida de uma Congregação se reduza a somente a essas
reuniões, pois, como foi já indicado, outras atividades –
reuniões de estudo do catecismo, horas santas, etc – fazem parte
da programação da Congregação, mas que dizer que elas são o
minimo que uma associação necessita ter para ser chamada de
Congregação Mariana.
As
reuniões ordinárias são o modo tradicional e comprovadamente
eficaz de formação da personalidade do verdadeiro Congregado. “Seja
fiel em comparecer às reuniões marcadas, que não se devem perder
para atender aos negócios do Mundo. Pois na Congregação se trata
do mais importante de todos os negócios: a Salvação Eterna.” -
S. Afonso Maria de Ligório.
* * *
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1-
“as reuniões ordinárias, nas quais deveria haver sempre uma
parte destinada à formação, ao lado das orações e dos assuntos
próprios da pauta da reunião” (Regra 29)
2-
O método da Ação Católica de origem belgo-francesa compreendia
três momentos: ver a realidade sócio-econômica-política-cultural,
julgar a mesma realidade a partir da Palavra de Deus e da Igreja e
agir de acordo com a ação de Deus para transformar a história.
Seu idealizador foi o Cardeal belga Josef-Léon Cardijn. As raízes
desta abordagem se fundamentam na crítica moderna e no uso de uma
visão moderna antropocêntrica e no valor das realidades terrestres
(C. Perani, La revisione di vita. Strumento di evangelizzazione
alla luce del Vaticano II, Torino 1968; A. Brighenti,, «Raíces de
la epistemología y del método de la teología latinoamericana»,
Medellín 20 (1994) 207-254).
3-
Servo de Deus Franciszek (Francisco) Blachnicki, in “palestra na
Congregação Mariana de Alunos do Seminário (Czestochowa,
Polônia, 29 de julho a 2 de agosto de 1948)
4-
" Chamo consolação, quando na alma se produz alguma moção
interior, com a qual vem a alma a inflamar-se no amor de seu
Criador e Senhor; e quando, conseqüentemente, nenhuma coisa criada
sobre a face da terra pode amar em si mesma, a não ser no Criador
de todas elas. E também, quando derrama lágrimas que a movem ao
amor do seu Senhor, quer seja pela dor se seus pecados ou da Paixão
de Cristo nosso Senhor, quer por outras coisas diretamente
ordenadas a seu serviço e louvor. Finalmente, chamo consolação
todo o aumento de esperança, fé e caridade e toda a alegria
interior que chama e atrai às coisas celestiais e à salvação de
sua própria alma, aquietando-a e pacificando-a em seu Criador e
Senhor". (s. Inácio de Loyola, livro dos Exercícios, artigo 316)
5-
Regras Comuns
6-
“...as
Congregações Marianas, como as suas regras aprovadas pela Igreja
altamente proclamam, são associações imbuídas de espírito
apostólico, que, ao incitar os seus membros, por vezes arrebatados
até aos cumes da santidade, a procurar também a perfeição da
vida cristã e a salvação eterna dos outros, sob a direção dos
pastores sagrados, e a defender os direitos da Igreja, conseguem
também preparar incansáveis arautos da Virgem Mãe de Deus e
adestradíssimos propagadores do reino de Cristo. ”
Papa Pio XII, Const. Apost. Bis Saecularii, § 13.
7-
Observação:
Embora a Lista da Sagrada Penitenciária Apostólica esteja datada
de antes do Manual das Indulgências – o qual reformou a aplicação
das mesmas a toda a Igreja – algumas delas são de uso universal.
Estas
fazem parte do Resumo
da Lista de Indulgências e Privilégios aprovados pelo Papa Pio XII
anexa à Constituição Apostólica “Bis
Saecularii Die”, de
27/IX/1948, incluindo as relações das reformas feitas pela
Constitução Apostólica “Indulgentiarum
Doctrina”, do
Papa Paulo VI, de 01/01/1969, revista
à luz do “Enchiridion
Indulgentiarum”: Manual
de Indulgências da Penitenciária Apostólica, em sua 3ª edição
de 18/05/1986. “Perguntas a um Congregado”, do mesmo autor, São
Gonçalo, 2005, pág. 70.
8-
só uma vez cada dia, exceto “in articulo mortis” - E.I., norma
21, § 1° e 2°
9-
Bispo
e Doutor da Igreja, fundador dos Redentoristas, congregado mariano
na Congregação Mariana de Nápoles (Itália)
10-
“Perguntas a um Congregado”, do mesmo autor, São
Gonçalo, 2005, página
93