A Formação da Ação
Alexandre Martins, cm
As
Congregações Marianas são tradicionais no apostolado e essa ação
fomenta a formação que se propõem a dar a seus membros. É uma
atitude retroalimentada: a ação urge da formação enquanto a
própria formação impele à ação.
Mais que uma escola, um exército
Um
equivoco bem comum, infelizmente, é ver uma Congregação Mariana
como somente uma escola - um local aonde apenas se obtêm formação
espiritual - e que a ação, o apostolado ou a caridade
sejam atitudes que são relegadas a outras associações ou
pastorais, ou mesmo somente ao foro pessoal de cada Congregado. Diz o
papa Bento XV: “não
basta haver dado o nome a uma Congregação, posto sobre os auspícios
da Virgem, para merecer o qualificação de “verdadeiros
congregados marianos”.1
Embora
possa acontecer isso, sem muito prejuízo para a Congregação
Mariana como um todo, a forma clássica das Congregações Marianas é
que as obras apostólicas – e mesmo as sociais e caritativas -
sejam fomentadas ou “capitaneadas” pelos Congregados nos locais
aonde estejam. “Quem dá o nome às Congregações Marianas, não
somente professa tender a um crescimento individual na virtude, senão
também querer ocupar-se no bem do próximo; e assim o avanço
espiritual como o zelo pelo bem dos outros ponha-os sobre o maternal
patrocínio da Santíssima Virgem.”2
Essa
atitude de primazia nunca deve ser entendida como alguma manifestação
de vaidade ou orgulho, mas como uma forma clássica da formação
pessoal apostólica e humana do Congregado. É um “estilo de ser”.
Somos uma elite e, como os antigos reis que saíam à frente de seus
exércitos, temos a atitude primeira. Lembra-nos o papa Pio XI:
“quando, unidos a vós e a vosso clero, trabalham em público e
particularmente para que Jesus Cristo seja conhecido e amado, é
quando sobretudo merecem ser chamados linhagem escolhida, sacerdócio
real, nação santa, povo resgatado.”3
A formação fomenta a ação
Somente
uma reunião ordinária da Congregação Mariana não proporciona ao
Congregado aquela formação que se preconiza a um “católico com
sinal mais”. Isso é comprovado. Por melhor e mais bem preparada
que seja a palestra e também as meditações, a formação só se
completará a contento quando for experimentada na prática. Por
exemplo, não basta uma palestra sobre caridade se a associação não
fomenta uma distribuição de brinquedos às crianças pobres no
Natal. “As Congregações Marianas (devem) claramente promover
nos fiéis a maior perfeição espiritual e também mais eficaz
espírito de zelo para o bem do próximo.”4
Em
alguns grupos católicos dá-se a essa ação o nome de “gesto
concreto”. Embora com outros nomes essa atitude é uma herança das
Congregações Marianas, uma contribuição sua à Igreja, sendo
usada por varias pastorais, mesmo que estas não saibam dar o devido
crédito.
Os benefícios para toda a vida
Como
exemplo de que forma o apostolado e as atividades praticadas na
Congregação Mariana podem ajudar na formação do Congregado,
podemos listar:
- O espírito de união – todas as atividades das Congregação Mariana pressupõem um grupo de Congregados mesmo sendo um grupo grande ou pequeno. Isso fomenta o espirito de colaboração entre pessoas e, mais ainda, pessoas cristãs. “Lhes desejamos recomendada com muito encarecimento a fraterna caridade, para que a guardem e exercitem continuamente, não somente com os demais congregados, senão também com todos os fiéis cristãos e, praticando assim sem cessar obras de piedade e misericórdia”.5
- O modo de obedecer – não se trata apenas de “ser obediente”, mas sim de “como exercitar essa obediência”. Não obedecer como um escravo ou um empregado assalariado, mas obedecer como um vassalo livre e fiel a seu rei, como uma filha que ama a seu pai. “uma total submissão e obediência, aquela tão recomendada, e para seu bem espiritual”6
- O sentido de disciplina – saber obedecer a alguém também é obedecer aos que foram colocados por essa pessoa a nos orientar. Um grupo tem um líder, que foi nomeado por alguém acima dele. A disciplina nos ensina que cada pessoa tem uma função e que cada um deve exercê-la corretamente para o bem de todos. “Não recusem obedecer com pronta e animada vontade aos mandamentos e conselhos dos particulares diretores designados em todas as coisas que pertencem ao estado e governo das mesmas Congregações”.7
- O sentido de ordem – as Congregações Marianas costumam agir com organização quase militar. É tradicional nelas e também seu carisma. Uma herança jesuíta. A ordenação é querida pelo próprio Deus e é um complemento da disciplina. Somos um “esquadrão em ordem de batalha sob a autoridade e obediência dos pastores da Igreja, não só em virtude da fervorosa e incondicional sujeição a Sé Apostólica, mas também pela humilde e dócil submissão às ordens e conselhos dos Ordinários.” 8
- O “sentir-se Igreja” - no apostolado o Congregado se sente com um “embaixador” da Igreja em certos ambientes e isso o ensina como agir com responsabilidade cristã também em outros momentos da sua vida. “Levem uma vida digna de seu nome de cristãos e própria de um congregado que se tem consagrado à Virgem.” 9
Ajuda no “discernimento dos espíritos”
São
vários os ensinamentos práticos que a ação apostólica ou social
das Congregações Marianas pode proporcionar aos Congregados. A
Lista é maior. “Que
congregado poderia dizer-se que mostra o suficiente zelo pelo bem do
próximo, se não concorre, como poderia, ao ensinamento do Catecismo
na paróquia, se não visita aos enfermos ou presos, se não favorece
do modo que possa, as obras de caridade sugeridas pela diferentes
circunstâncias dos tempos e do lugares?”10
Para
os Diretores, é também um campo de prova para os candidatos à
Consagração. É no seu desempenho nestas obras externas que se pode
medir o desprendimento, doação de sim mesmo e as retas intenções
dos aspirantes e candidatos. Numa palavra, se o espirito da pessoa
será o indicado para a Congregação, se é realmente o seu caminho.
Que
possamos entender corretamente a dupla missão das Congregações
Marianas na busca da santidade de seus membros transformação do
Mundo à Luz do Evangelho usando das obras de ação.
Admoesta
o papa Bento XV, mais um dos papas Congregados marianos:
“Que
proveito tão grande reportara para a família cristã, se os membros
dela atendessem, como devem os congregados, à própria santificação
e ao bem do próximo ! Não há quem não veja quanto se facilitaria
a finalidade da sociedade, tanto religiosa como civil.”11
Santa
Maria, Rainha dos Apóstolos, rogai por nós!
________________________________________________
1
- papa Bento XV - Discurso no 40º Aniversário de seu Ingresso na
Congregação Mariana - 9 de dezembro de 1915
2-
ibid nota 1
3-
papa Pio XI - Encíclica “Ubi Arcano” - 23 de dezembro
de 1922
4-
ibid Nota 1
5-
papa Bento XIV - Bula Áurea “Gloriosae Dominae” - 27 de
setembro de 1748
6-
ibid Nota 5
7-
ibid Nota 5
8-
papa Pio XII – Constituição Apostólica “Bis Saecularii”
sobre as Congregações Marianas - 27 de setembro de 1948
9-
ibid Nota 5
10-
ibid Nota 1
11-
ibid Nota 1