Muitos e Poucos
Alexandre Martins,
cm.
É
comum se referir à Congregação Mariana como um pequeno grupo,
alegando que mais do que a quantidade, importa a qualidade. Mas, no
caso específico delas, a quantidade ajuda na qualidade.
Desde
a primeira Congregação Mariana, a quantidade era uma constante: a
primeira teve 70 jovens1
no primeiro ano de existência. As primeiras Congregações Marianas
possuíam diretorias com cerca de doze diretores2
que cuidavam de todo o funcionamento da associação e também dos
Congregados. As clássicas Congregações Marianas tinham número bem
grande: a Congregação de Munique (Alemanha) possuía mais de três
mil Congregados em 1773.
Porque pequeno grupo
À
partir da segunda metade do século XX no Brasil se foi criando uma
mentalidade do “grupo pequeno”. As justificativas foram várias,
inclusive a passagem bíblica do “muitos são chamados e poucos os
escolhidos” (Mt 22,14). As Congregações Marianas foram diminuindo
de quantidade de membros até possuir cerca de uma dúzia ou menos de
Congregados. Mas os reais motivos dessa mentalidade do “menos é
mais” surgiu com a mudança das Regras das Congregações Marianas
na década de 1960, fruto de uma turbulência3
na Companhia de Jesus.
Com a
criação das Comunidades de Vida Cristã, incentivadas pelos
jesuítas como forma de se adaptarem à atualização pastoral
proposta pelo Sagrado Concílio, as Congregações Marianas se
sentiram de certa forma fora de contexto por serem associações com
um grande número de membros. Os anos tumultuados após o Vaticano II
foram de abandono das associações de leigos tradicionais para
migração a novos grupos que, naturalmente por serem iniciantes,
tinham poucos membros. As Congregações Marianas que ficaram ainda
abertas tiveram o seu número de membros radicalmente diminuído.
Algumas foram reduzidas a apenas quatro Congregados! A redução do
número de Congregados criou a ilusão de que este era um sinal dos
novos tempos, de que as Congregações Marianas estavam atualizadas e
que finalmente tinham acolhido o apelo4
do papa Pio XII quando clamava “seleção, seleção,
seleção”... Mal sabiam que a redução do número de membros
era o sinal do início do fim de sua associação, como a queda de
folhas de um arbusto significa a doença crescendo na planta até que
a mate por completo.
A quantidade ajuda
Mas a
quantidade influencia no funcionamento e desenvolvimento de uma
Congregação Mariana? Sim, e muito.
Congregação
Mariana com um bom número de membros – algo acima de vinte pessoas
– possui uma atividade bem diferente das Congregações Marianas
pequenas, com menos de dez pessoas. Nas maiores se pode dar ofícios
a um maior número de Congregados e fazer com que a associação
trabalhe como um todo e não se sobrecarregue apenas alguns membros.
Com um bom número de membros não haverá falta de presença em
nenhum ato que exija alguma presença da Congregação Mariana, por
exemplo. Além do que, há pessoas que são naturalmente motivadas ao
ver um grande número de participantes em um evento e um número
grande de Congregados faz que esse tipo de pessoas se interesse em
participar da Congregação Mariana. Isso tudo sem contar que é
psicologicamente benéfico para cada um dos Congregados ver a sua
própria Congregação Mariana se desenvolvendo e crescendo.
Elasticidade e adaptação
Mas,
e nos locais aonde uma Congregação Mariana não poderá ter muitos
membros facilmente, como por exemplo empresas, capelas distantes,
etc? Isso significa que a Congregação Mariana estará fadada a ser
grande para para ter sucesso? A resposta é não. A Congregação
Mariana se adapta a qualquer lugar que tenha as três condições
básicas. E uma delas supões as pessoas. Em nossa experiencia, o
número de quatro é a quantidade inicial. Importa saber até quantos
membros uma Congregação Mariana poderá alcançar naquele local. E
deve almejar conseguir essa meta, não ficando reduzida a apenas um
grupo de amigos.
Embora
se afirme comumente o contrário, a quantidade é de grande
importância. É pela quantidade de membros que pode se medida a
força que os Congregados despendem em fazer apostolado. Atualmente,
em praticamente nenhuma paróquia justifica-se um pequeno número de
Congregados caso lá exista uma Congregação Mariana. O papa Pio XII
já nos orientava5
para a necessidade de promovermos mais Congregados: “muitas
vezes falanges de congregados que, ou no estado eclesiástico ou no
religioso, aspiram à perfeição cristã para si e para a comunicar
aos outros.” E complementa S.
Afonso de Ligório: “Quando um leigo me pergunta como
santificar-se no meio do mundo, lhe respondo: faz-te Congregado e
seja fiel à Congregação Mariana”.
O tempo dirá
Em
conclusão devemos entender que a busca de mais Congregados para o
aumento da Congregação Mariana com a adição de pessoas sinceras e
piedosas faz parte do apostolado do bom Congregado. Procurar com
todas as forças que nossa Congregação Mariana cresça em número
faz com que deixemos de lado a maléfica tentação de fazer um
pequeno grupo de “escolhidos” no qual nossa vaidade cresça a
ponto de nos acharmos parte de um “clube de seletos” aonde só os
melhores estão e não qualquer um. Esta é a diabólica deturpação
do caráter seletivo da Congregação Mariana. Essa forma de pensar é
perversão e não mérito.
Convoquemos
mais e mais pessoas piedosas para ingressar na Congregação Mariana
e deixemos o tempo fazer a seleção. Só os realmente vocacionados e
identificados com o ideal da Consagração à Virgem Maria irão
continuar e permanecer. E não serão poucos, com certeza.
Estrela
da Evangelização, ajude-nos a aumentar o reino de Cristo na Terra!
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1-
pe. Emile Vilaret, “Les Congrégations Mariales”, Roma, 1954.
2-
Antonio Martinez: Areneros 1940-1960. La educación espiritual en un
Colegio de Jesuitas, Ediciones ICAI, Madrid, 1983.
3-
“Depois do Vaticano II, ocorreu uma verdadeira hemorragia na
Ordem. Em pouco tempo, ela perde cerca de dez mil membros. Deixam a
Ordem os que se acham desiludidos com o Concílio por ter dito pouco
demais, e também saem aqueles segundo os quais o Concílio havia
dito coisa demais e teria iniciado caminho para um modelo de Igreja
no qual já não mais se reconheciam. Alguém fala de um novo
início, que se agregará ao conceito de refundação. Os anos 1960
foram muito diferentes daqueles em que a nascia a Companhia” -
Felice Scalia in “A Companhia de Jesus e o Vaticano II”
4-
Discurso no Aniversário da CM “da Scalleta”, 1949.
5-
in “Bis Saecularii ("Duas vezes secular")- Constituição
Apostólica. do Papa Pio XII sobre as Congregações Marianas, em 27
de setembro de 1948, comemorando o 200° aniversário da Bula
"Gloriosae Dominae" ("Da gloriosa Senhora"), do
Papa Bento XIV (Texto de "Documentos Pontifícios", Ed.
Vozes, 1955).