O Poder Jesuíta
Alexandre Martins, cm.
A
Companhia de Jesus teve um grande poder politico, cultural e eclesial
nos séculos XVI e XVII em todo o Mundo.
Nos
séculos que se seguiram varias organizações da Igreja desejaram
ter a mesma influência social e política que os seguidores de s.
Inácio de Loyola. Até grupos que não eram católicos ambicionaram
esse poder.
Tal
desejo é compreensível quando vemos, por exemplo, a biografia do
pe. José de Anchieta. Qual fundador de um grupo que não gostaria de
haver entre os seus uma pessoa com a laboriosidade que ele tinha?
Anchieta era poeta, escritor, filólogo, sacerdote, confessor,
missionário e até fundador de cidades! Outros jesuítas como Ticho
Brahe eram até amigos pessoais de imperadores...!
A
influencia jesuíta no Mundo foi tão grande e permanente que só
pode ser comparada à Ordem do Templo, os cavaleiros templários. Até
hoje ambas nos dão ecos de suas obras.
Associações
eclesiais das mais variadas ambicionaram ter ao menos essa influência
na Sociedade que os jesuítas tiveram até meados do século XX, tais
como o Opus Dei, o Sodalício de Vida Cristã, os Legionários de
Cristo, etc. E, ao largo de suas próprias espiritualidades e
carisma, quiseram viver de certo modo o jeito militar que a Companhia
de Jesus promovia nos seus membros.
Contudo,
o “poder jesuíta” no fundo se baseava no que era uma experiência
mística pessoal do fundador. Essa tal experiência foi a base de
toda a Companhia, foi o alicerce e o cimento que une os tijolos para
fazer o edifício do poderoso “exército de Inácio”. Ou seja, da
experiência de Inácio de Loyola na gruta em Manresa surgiam os
Exercícios Espirituais.
Todos
os jesuítas começavam o caminho inaciano a partir dos Exercícios
que levam o nome de seu criador. Uns, ainda jovens, faziam o retiro
por devoção ou indicação e bem depois, sem pressa, Deus suscitava
a vocação sacerdotal em seus corações e, naturalmente, a
maioria absoluta deles ingressava na Companhia. Outros, por sua vez,
impressionados com a laboriosidade e piedade profunda e prática dos
jesuítas, queriam saber de onde partia tanto amor à Igreja e
participavam dos retiros. Assim, imergiam na fonte verdadeira do
“sentir com a Igreja” de s. Inácio. De posse de uma certa
“Maturidade” espiritual e humana, estavam então estruturados
para serem os apóstolos espetaculares que o Mundo conheceu.
Com
os formidáveis frutos que os jesuítas deram ao Mundo não é de se
espantar que outros fundadores quisessem o mesmo para suas obras.
Todas as idéias foram criadas para tentar ter o “poder” jesuíta
e muitas sem sucesso.
Mas
o “segredo do poder” jesuíta reside justamente nos Exercícios
Espirituais – fruto da experiencia de Inácio e fundamento da
Companhia – e não nas práticas que foram desenvolvidas pelos
jesuítas com o passar dos séculos. Não foram as grandes igrejas
jesuítas, projetadas para centenas de pessoas, que faziam a grandeza
da Companhia e nem tão pouco a organização militar que enviava
missionários aos mais distantes confins da Terra, numa obediência
conhecida como “obediência de morto”. Foi, sim, a profunda
consciência de si próprio, de nossa amorosa dependência de Deus,
que fez do jesuíta um apóstolo tão ardoroso e fiel.
De
nada adiantam atitudes exteriores se não forem fruto de um coração
piedoso ou ao menos serem essas exterioridades um condicionamento,
uma preparação para um interior modificado.
Nisto
se resume a ruína de tantas associações que quiseram o “poder
jesuíta”: não buscam na raiz da Companhia de Jesus o seu
fundamento, mas miraram apenas nos seus frutos. São essas
associações como um arvore que quer ser frondosa e cheia de flores
e frutos mas sendo plantada em uma terra rasa ou estéril. Então,
essa planta, por mais que tenha adubo e podas, não terá o mesmo
desenvolvimento daquela plantada em terra boa e abundante. Quanto
mais podas mais a fará morrer. Por isso tantos grupos e associações
terminam e fecham, pois buscam o exterior, o que é visível aos
olhos e não ao fundamento, ao espiritual, àquilo que somente o
coração e o intelecto bem formado irão apreciar.
Se
desejarmos imitar os jesuítas então devemos ir à sua fonte: os
Exercícios Espirituais de s. Inácio de Loyola. Neles aprenderemos o
que levou Inácio e seus amigos aos altares, neles entenderemos a
razão das Congregações Marianas. Neles veremos que a Igreja e sua
mensagem de Salvação são atuais todos os séculos.
Salve,
Virgem da Anunciação!