Círculos e Quadrados
Alexandre Martins, cm.
Após
o Sagrado Concilio Vaticano II, vozes que pareciam quietas - e,
portanto, contentes com a situação da Igreja - se levantaram de uma
hora para outra.
Foi
a vez da “revolução interna” na Igreja, em especial na
atividade pastoral. Incentivados primeiramente por religiosos, grupos
de leigos foram formados quase sem nenhum critério, sem nenhuma
preparação prévia, amparados pelo pensamento da “atualização”
da Igreja. Os anos 1960 e 1970 eram tempos de novidades sociais, como
a mini-saia, o funk, o divorcio institucionalizado, a abolição da
gravata, etc. Era natural para todos que o que era feito até então
fosse modificado para se adaptado aos “novos tempos”.
“meu amigo JC”
Com
essa brecha aberta na tradição do apostolado leigo católico,
religiosos viram a oportunidade de aparecer na Igreja, alguns com
boas intenções de propagandear sua ordem religiosa, outros apenas
para promoção pessoal. Várias formas de espiritualidades surgiram,
atitudes de apostolado com cara nova, publicações feitas sem a
aprovação eclesiástica necessária e várias outras novidades.
Claro que algumas novas espiritualidades estavam influenciadas por
elementos do paganismo (que renascia na época dos hippies) algumas
publicações tinham claramente uma visão marxista do Mundo e
atitudes de apostolados com característica de sindicalismo operário.
É
após o Sagrado Concílio que aparecem nas paróquias os “encontros
de leigos”, isto é, finais de semana onde se reúnem pessoa para
pensarem em Deus de uma forma descontraída. Nada de reuniões ao pé
do altar usando velas acesas: as reuniões (ou “partilhas” como
se fazia questão de dizer) eram feitas em salões arejados, usando
cadeiras de plásticos ou sentados no chão. As roupas eram as mais
descontraídas possíveis, pois segundo eles Cristo era um operário
e não fazia sentido usar paletó ou vestido em encontros assim. E
por aí vai...
Claro
que essa mentalidade era somente de uso nas paróquias – locais
aonde os religiosos e seminaristas influenciados por uma visão
hippie da Igreja eram os agentes da mudança dita “conciliar”. Em
contrapartida, outras associações não quiseram aderir à nova moda
de pastoral e pouco se modificaram, como o Opus Dei, por exemplo.
No olho do furacão circular
Mas
as Congregações Marianas do Brasil estavam em sua absoluta maioria
em paroquias e , portanto, vulneráveis a essas mudanças pastorais.
É
importante lembrar que na época os jesuítas deixaram aquela famosa
assistência espiritual que proporcionaram à Congregações em
décadas passada. Os bispos por sua vez acreditavam que eram os
jesuítas que ainda assistiam as Congregações Marianas e os
sacerdotes queriam algo novo, que não lembrasse nada de antes do
Concílio.
Foi
o momento propicio para a descaracterização geral das Congregações
Marianas.
As
reuniões comuns – aquelas chamadas de “ordinárias”, de
formação semanal – foram “atualizadas” como era a moda da
época: cadeiras em circulo, roupas descontraídas, sem altar ou
coisa semelhante. A reunião da Congregação deixou de ter o seu
“clima” especial para ser, à primeira vista, apenas mais uma
reunião de grupo.
Mas
por que do circulo? Porque esta e não outra forma de organização
das cadeiras?
No
pensamento da época – comunitário e igualitário - ser diferente
era ser contra a comunidade. Era estar fora do padrão social jovem,
fora da socialidade, em uma palavra: ser egoísta.
Esse
é o significado de uma organização em circulo: não há alguém
superior, pois todos são iguais. As ideias de Paulo Freire, idolo
das pedagogas brasileiras eram cada vez mais utilizadas nas escolas
da época e a formação tradicional de cadeira em fila perante a
mesa do professor era abandonada sempre que fosse possível. E como
nas reuniões de leigos católicos o clima era de descontração, não
demorou para que todas as reuniões seguissem o modelo de circulo.
Mas,
se isso pode ser usado em alguns locais nas Congregações Mariana
surge como algo que deforma em dez de formar o Congregado mariano. A
organização das Congregações é militar, é uma herança dos
jesuítas, seus criadores e desenvolvedores - santo Inácio de Loyola
era um ex-militar que fez a sua ordem religiosa organizada como um
exercito; daí o nome de Companhia de Jesus, ou seja, um “batalhão
de Jesus. “...tudo que vossas Congregações Marianas tem
realizado como um grande exército de bondade nos vastos horizontes
do bem para socorrer as almas redimidas pelo Sangue de Jesus
Cristo”.1
Organização de quartel
Em
uma organização militar existem dois princípios que norteiam seu
dia-a-dia: a disciplina e a hierarquia. E nas Congregações Marianas
disciplinadas por excelência, a obediência a uma hierarquia não se
demonstra somente à obediência ao pároco, mas há uma hierarquia
na própria Congregação.
Em
cada Congregação existe uma diretoria, escolhida pelos
Congregados,.entre si para o governo de todos. Com raríssimas
exceções são escolhidos somente Congregados mariano que proferiram
sua Consagração perpetua. E um dos diretores tem uma função
especial: é o instrutor dos novatos. Ora, um instrutor em uma
organização miliar equivale a um professor. Um professor
necessariamente deve saber mais que o aluno. Evidente, não? E, se
ele sabe mais então tem certa superioridade perante o aluno, ou
seja, é diferente por saber mais. Em uma organização militar o
instrutor não é contestado, pois todos sabem que o cargo foi dado a
ele por ser alguem com competência para essa função. Isso é
“Obedecer à Hierarquia”. Por outro lado, não se escolhe um
instrutor entre novatos mas entre antigos. Ora, se há hierarquia em
uma reunião de formação da Congregação Mariana então o método
“circulo é correto de ser usado? A resposta é não para a maioria
das vezes.
Os modelos tradicionais de reunião
A
experiência nos mostrou que uma Congregação Mariana usa
basicamente três modelos de organização em suas reuniões.
O
modelo 1 é o modelo clássico, ou o “modelo em
quadrado”. A Congregação se agrupa em cadeiras em fila de
frente para a mesa dos diretores e esta por sua vez na frente ou
mesmo detrás de um altar ou imagem da Virgem Maria.
Essa
forma remete às antigas reuniões das Congregações em frente aos
altares das igrejas. Na mesa de diretoria é clássico o modelo do
presidente ao centro ladeado pelo sacerdote e pelo secretario.
Nota-se o sentido de “escola” nessa arrumação, lembrando a
todos que a Congregação Mariana é a “escola de Maria”. Em
sedes antigas vemos pequenos auditórios aonde eram realizados as
reuniões de Congregados. O modelo 1 era o usado.
O
modelo 2 em uma mesa grande, como é costume em reuniões de
empresas. É uma forma útil para Congregações de pequeno numero de
membros. Era usado em reuniões chamadas de “parlatórios” ou
“conversas”, em torno de uma mesa grande aonde o sacerdote
proferia as palestras da cabeceira, ladeado pelo presidente e pelo
secretario.
O
terceiro modelo “em circulo” é o mais recente, o
já falado, mais indicado para reuniões de apostolado da
Congregação, aonde cada Congregado tem sua contribuição a dar em
forma de relatório aos demais. Não é uma reunião de formação
mas uma troca de ideias entre todos. É usado em grupos anexos ou
seções das Congregações Marianas.
O clima favorece a formação
Em
conclusão, torna-se evidente que as Congregações Marianas sempre
proporcionaram aos que delas participavam um certo clima propicio em
suas reuniões e atividades. Esse clima, que só existe nas
Congregações, favorece a formação do cristão em um “cavaleiro
da Virgem”, isto é, em alguém disposto a lutar, individual ou em
grupo, pelos interesses da Santa Igreja e pela expansão do Reino de
Cristo, e uma das formas de estabelecer este clima é a arrumação
da assembleia dos Congregados.
“No fundo, as necessidades espirituais e temporais do individuo,
das famílias, da Sociedade, são sempre as mesmas. E as mesmas obras
de sempre são sempre atuais. E nada mais a fazer do que saber
adaptar-se às condições e circunstancias de tempos e lugares” -
pe. Emile Vilaret, SJ