A Confissão do Congregado
Alexandre Martins,
cm.
A
recepção dos Sacramentos pelos Congregados marianos não é
diferente dos demais católicos, apenas deve o Congregado ser mais
dedicado e fiel do que os demais. O que não é pouca coisa.
Em
1563 o jesuíta Pe. João Leunis reunia os melhores alunos do Colégio
Romano da Companhia de Jesus para os exercícios de piedade na
primeira Congregação Mariana. Desde 1541 existiam confrarias de
leigos que continham em suas regras o dever de se reformar a si mesmo
diariamente, dando bom exemplo e procurando a edificação do
próximo, confessando e comungando cada 15 dias, visitando e servindo
aos pobres nos hospitais e assistindo reuniões no colégio. Desde
1470, as Confrarias do Rosário criadas pelos dominicanos regulavam
para seus membros a confissão semanal e comunhão mensal além dos
dias de Festa litúrgicas da Virgem e de Jesus. Fomentava-se a
oração, em especial o terço, e o mínimo de meditação diária,
uso do cilício e até a flagelação em público ou em particular e
a reunião semanal. Ao mesmo tempo, a vida pública dos membros era
cuidadosamente regulada. Não era novidade para os Congregados
marianos a rigidez de uma Regra, mas para eles se revestia de um
caráter mais incisivo.
O
Sacramento da Penitência - ou simplesmente, “a Confissão” - é
um momento em que o Congregado mariano deve ver como uma nova
oportunidade de emenda de vida e/ou de aprimoramento da vida em
busca da santidade. E tem a sua própria História para dar
testemunho. Como diz a Regra 21:
“É recomendável que cada Congregado Mariano tenha um confessor
certo e "a ele manifeste, com toda sinceridade, o estado de sua
consciência e por ele se deixe guiar e dirigir em tudo que respeita
à vida espiritual", e se aproxime frequentemente da Confissão
Sacramental e, ao menos uma vez ao ano, por ocasião do Retiro
Espiritual, faça a Confissão Geral.” 1
A frequência à Confissão
Há
sacerdotes que indicam a Confissão somente pela Páscoa, ou , quando
muito, apenas uma vez ao mês. Mas isso não se aplica aos
Congregados. Para um bom Congregado mariano a frequência deve ser
semanal. E isso, claro, se não há consciência de pecado mortal.
Neste caso, deve-se procurar o sacerdote o quanto antes. Não se
trata de - como dizem alguns, com suposto zelo - “tratar o
sacramento como lata de lixo” ou de usar do sacramento coo algo sem
critério. O congregado vê nessa procura frequente uma forma de
ficar o menor tempo possível em pecado mortal.
Como
nos lembra o pe. Américo Maia, SJ:
“A imaginação, potência errante (vagabunda), por excelência,
deve ser dominada. Importância considerável é a gravidade
incalculável de um ato como a confissão. Ser Congregado é saber
confessar-se. Da imaginação dominada ao espírito de análise
aplicado ao conhecimento de si mesmo, é uma linha diretriz que quer
fazer do devoto "um homem interior". Num processo de
transformação que modifica o homem radicalmente, o corpo tem seu
lugar: atos de penitência e mortificação física, procissões e a
romaria, em especial. Pureza pessoal em relação aos outros e nos
outros. 'O mal que ameaça a Cidade de Deus, após o pecado original,
é a sexualidade compreendida como o sinal da presença demoníaca no
homem. A alma pertence a Deus mas o corpo ao demônio. Então, a vida
cristã reduz-se a uma única palavra de ordem: a fuga do pecado e
uma guarda feroz da castidade. "2
Sabe
ele que o pecado mortal tem esse nome porque mata a vida da Graça em
nossa alma. Não é à toa que a cor dos paramentos no Sacramento da
Penitência é a mesma que nas Exéquias... O Congregado, portanto,
não deseja andar pelo mundo como um morto, como um zumbi. Um
verdadeiro filho de Maria não pode dar desgosto a sua amantíssima
Mãe.
O
critério para essa frequência à Penitência se dá pela ação do
Exame de Consciência diário. É nesse momento que as faltas
pessoais se tornam relevantes e os pecados mortais aparecem como
caroços indigestos num mingau. Se vê então a necessidade de
Confissão sacramental.
Os tipos de padre
A
busca de um sacerdote piedoso pode ser difícil em alguns lugares,
por vários motivos. Mas deve-se sempre compreender os três tipos
básicos de sacerdotes para confissão:
a) O
sacerdote que atende uma confissão apenas pelo fato de ser
sacerdote. Neste caso, qualquer um pode ser procurado pelo
Congregado, em qualquer, lugar, a qualquer hora.
b) O
sacerdote que é o confessor do Congregado. É aquele escolhido pelo
Congregado para receber sua Confissão frequente. Essa escolha se dá
por uma certa afinidade ou compreensão entre ambos. As Regras da
Congregação indicam um “confessor fixo”: é este o caso.
- O Diretor Espiritual. Não se engane: o Diretor Espiritual é um sacerdote com vocação específica para isso. E nem todos a possuem. Devemos pedir a Deus que nos coloque no caminho um sacerdote “douto e santo” - como s. Teresa D'Ávila indicou como características de um real Diretor espiritual.
Como confessar
Conseguido
o sacerdote, deve o Congregado, lembrando a citada Regra 21, se
confessar “como Congregado”. Algumas atitudes são uteis para
demonstrar ao sacerdote, caso esta não nos conheça, com quem está
lidando, para que a Confissão possa ter mais fruto. Muitos
sacerdotes nada sabem da existência dos Congregados e muitos não
acreditam que sejamos diferentes dos demais devotos marianos.
Lembre-se que um Congregado mariano é o católico que sabe como se
confessar.
Primeiramente,
avise que é um Congregado mariano e frequenta assiduamente as
reuniões da Congregação: Logo, ao se apresentar ao confessor,
diga-lhe: "Abençoa-me ó padre, porque pequei". O
sacerdote lhe responde: "O Senhor esteja no seu coração e nos
seus lábios para que possa confessar os seus pecados" Logo
depois dirás: "Faz ... (semanas, meses, anos) que não me
confesso". Alguns acrescentam (e é um excelente hábito) a qual
associação pertencem: "Faço parte da Renovação Carismática,
pertenço ao Movimento dos Focolares, aos Catecúmenos, sou
escoteiro, pertenço à Congregação Mariana, à Irmandade do
Sagrado Coração de Jesus...". Agora acuse todos os seus
pecados, sem precipitação, sem medo, de maneira que se faça
entender. É inútil enganar o sacerdote: não se pode enganar a
Deus. 3
Segundo,
confesse seus pecados dos mais graves aos menores, usando a lista
mental que foi descoberta em seu Exame de Consciência.
Terceiro,
acuse também alguma falta do caráter pessoal ou de temperamento.
Escute
com atenção as admoestações do sacerdote e cumpra o mais rápido
possível a Penitência dada. Para um soldado, ordem dada é ordem
cumprida. Para um Congregado, soldado de Maria, a penitência deve
ser cumprida ainda com amor e disposição. Lembre-se que
“arrepender-se é próprio dos santos”.4
Frequência dos santos
Na
História da Congregações marianas existem vários relatos da
Confissão frequente. São esses fatos, vividos por santos
Congregados, que devemos imitar e com os quais refutaremos as
criticas daqueles que nos criticam por nos confessarmos “a toda
hora”, de sermos “Puritanos”, de “abusar do Sacramento”,
etc.
São
Luiz de Gonzaga, padroeiro da Juventude, Congregado mariano em Reims,
confessava-se todos os dias antes da Missa e Comunhão diárias.
São
Vicente de Paula, Congregado na Itália, confessava-se duas vezes por
semana.
São
Felipe Néri, Congregado italiano, confessava-se um dia sim e outro
não, e o mesmo queria que fizessem os seus religiosos.
Os
Congregados marianos S. Vicente Ferrer, S. Carlos Borromeu, S. André
Avelino e muitos outros se confessavam diariamente.
São
Leonardo de Porto Maurício, o infatigável apóstolo italiano e
fundador de várias Congregações Marianas, depois de ter tido o
belo hábito de se confessar diariamente com constância, chegando
aos quarenta e dois anos, pensou em duplicar a dose e escreveu no seu
regulamento particular: "De agora em diante confessar-me-ei
duas vezes por dia, para aumentar a graça que espero tornar maior
com uma única confissão do que com muitas boas obras, de qualquer
espécie".
Conclusão
A
vida sacramental é uma das bases do bom Congregado mariano. E é
essa frequência piedosa a eles que deram exemplo a outros católicos,
influenciando positivamente a vida da Igreja. Se quisermos reformas
no laicato e, até mesmo, no Clero, esse é o caminho mais eficaz.
Como
nos ensina s. Teresa de Calcutá, Congregada mariana missionária:
“A
confissão é um ato magnífico, um ato de grande amor. Só aí
podemos entregar-nos enquanto pecadores, portadores de pecado, e só
da confissão podemos sair como pecadores perdoados, sem pecado. A
confissão nunca é mais do que humildade em ação. Dantes
chamávamos-lhe penitência mas trata-se na verdade de um sacramento
de amor, do sacramento do perdão. Quando se abre uma brecha entre
mim e Cristo, quando o meu amor faz uma fissura, qualquer coisa pode
vir preencher essa falha. A confissão é esse momento em que eu
permito a Cristo suprimir de mim tudo o que divide, tudo o que
destrói. A realidade dos meus pecados deve vir primeiro. Quase todos
nós corremos o perigo de nos esquecermos de que somos pecadores e de
que nos devemos apresentar à confissão como tais. Devemos
dirigir-nos a Deus para Lhe dizer quão pesarosos estamos de tudo o
que possamos ter feito que O tenha magoado. O confessionário não é
um local para conversas banais ou para tagarelices. Aí preside um
único tema – os meus pecados, o meu arrependimento, como vencer as
minhas tentações, como praticar a virtude, como crescer no amor a
Deus.”5
Nossa
Senhora dos Penitentes, rogai por nós!
***
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1-
veja também as Regras Comuns das Congregações Marianas 36, 37
e 39.
2-
Reyn., Geneviève. "Convents de Femmes (La Vie des Religieuses
Cloitrées dans la Fran. das XVII et XVIII siécles). Fayard, Paris,
1987, pág. 125. citado por pe. Pedro Américo Maia, SJ, in
“História das congregações Marianas no Brasil”, Edições
Loyola, São Paulo , SP, 1992.
3-
pe. Eugenio Maria Pirovano,FDJ in “Exame de Consciência:
Preparação para o Sacramento da Penitência”, Ed. Loyola, 5ª
edição, 2005, pág 11
4-
“Pecar é comum a todos os homens, mas arrepender-se é
próprio dos Santos”. s. Ambrósio de Milão in “Apologia
David ad Theodosium Augustum”, II 5-6
5-
in "Não há maior amor" (a partir da trad. de Il n'y a
pas de plus grand amour, Lattès 1997, pág. 116)