“Ser Congregado”


Alexandre Martins, cm.


Em uma Igreja de “dons e carismas” torna-se quase obrigatório ser rotulado por um suposto “carisma” que será o diferencial de outros grupos de leigos. As Congregações Marianas necessitariam de ter um “carisma”?
Desde a primeira Congregação Mariana, no seculo XVI, o ideal é o de unir fé e vida”. Pode parecer genérico à primeira vista, mas para a classe de pessoas a qual eram dirigidas as primeiras Congregações Marianas, era necessário. Eram estudantes do que hoje seria nosso Ensino Médio. E nem era um problema da época pois mesmo hoje em dia vemos muitos jovens católicos que são assíduos nas atividades paroquiais mas são irresponsáveis ou mesmo péssimos nos seus estudos. Esse antigo “ideal”, portanto, se torna mais moderno do que nunca.
Então seria esse o “carisma das Congregações Marianas”? Elas seriam um lugar para formar ou abrigar “católicos conscientes”?
Basicamente, sim, mas com o diferencial de uma intensa devoção mariana. A devoção à Virgem Maria nas Congregações Marianas começa desde as primeiras reuniões em sala de aula, quando improvisaram um altar com flores e um ícone da Mãe de Deus, perante o qual recitavam as Vésperas do Ofício Divino. Com o passar do tempo, a Consagração à Virgem Maria seria o sinal absoluto e concreto da pertença ao grupo. Era a sua real admissão à Congregação Mariana.
Uma real Congregação Mariana traça suas reuniões e atividades para fazer o Congregado entender sua posição singular no Mundo e agir em seu dia-a-dia como um católico digno, ciente de seus compromissos com sua família, trabalho, estudos e sua roda de amigos. A formação continuada o faz saber como agir cristãmente nas mais variadas ações do seu dia.
Essa “formação continuada” da qual tanto se fala desde o final do Sagrado Concílio Vaticano II, não são reuniões intensas de Catequese até a exaustão, como se quisesse formar cada leigo católico um mestre em teologia e liturgia. Esse pensamento equivocado foi, infelizmente, a ruína de muitos grupos de leigos e até o motivo de desanimo de muitos Congregados em varias Congregações Marianas.
Nas Congregações Marianas, a “formação continuada” não são somente palestras bem organizadas ou grupos de estudo, mas também, principalmente, da vida comunitária na Congregação Mariana. É pelo bom exemplo dado continuamente entre os Congregados que as consciências são formadas corretamente. Não basta apenas “abolir o palavrão” e não contar “piadas sujas” (como se faz em Congregações Marianas de jovens) mas repensar o que se conversa, o que se manifesta, como se age. Tudo isso visa fazer da Congregação Mariana um ambiente santo, acolhedor, sincero, sadio e puro. Entende-se que se não conseguirmos realizar isso na Congregação Mariana, um grupo de irmãos, muito menos conseguiremos isso no meio do Mundo.“Propagar por todo o mundo a integridade e a santidade da fé e unidade católicas, a doutrina e piedade cristãs, juntamente com o Nome Divino e o da Santíssima Virgem Maria.1
“Ser Congregado”, portanto, é viver cristãmente a própria vida tendo a Virgem Maria como modelo, advogada e protetora. A fita azul que os Congregados ostentam em alguns lugares do Mundo é o sinal externo dessa singular devoção. “Vendo estes [jovens] a pessoas de idade madura, distintos advogados, avantajados médicos, cavalheiros de alta posição, que eram verdadeiramente exemplares, que antes de tudo ouviam a divina palavra, cantavam aos louvores da Virgem e se aproximavam dos Santos Sacramentos, os jovens se sentiam impelidos a seguir seu exemplo e a aproveitarem das lições que recebiam.” 2
“Ser Congregado” é seu bom filho, boa mãe, bom pai, bom estudante, bom empregado, bom patrão, bom namorado, bom marido, boa esposa... O Congregado aprende na vida congregacional como um bom cristão age em cada momento da vida. “A todos e cada um dos congregados lhes desejamos recomendada com muito encarecimento a fraterna caridade, para que a guardem e exercitem continuamente, não somente com os demais congregados, senão também com todos os fiéis cristãos.” 3
“Ser Congregado” é, para um religioso, vive o máximo possível a regra de sua Ordem ou de seu instituto, pois a totalidade das Congregações religiosas é entregue à proteção da Bem-aventurada Virgem Maria. Natural é que, quando leigo o Congregado serve à Mãe de Deus na Congregação Mariana, ao ingressar na vida religiosa, A serve também sob a invocação de seu instituto. Foi essa compreensão óbvia que fizeram muitos religiosos – freiras, frades, monges, cônegos, sacerdotes e até bispos – continuaram a serem Congregados até depois dos Sagrados Votos ou, mais ainda, fundarem Congregações Marianas dentro de mosteiros e conventos. Temos o exemplo no Colégio Pio Latino-Americano:“iniciativa do reitor Francisco Vannutelli, que decidiu a criação de uma Congregação Mariana através do qual os seminaristas foram convidados diariamente para rezar o rosário e cantar a canção Ave Maris Stella. Os frutos foram imediatos: mais intensa vida espiritual, a observância das regras, visitar os doentes nos hospitais, dedicação ao serviço da Missa e trabalho doméstico.”4
Devemos entender o que é “ser Congregado” como s. João XXII, Congregado5 em Bérgamo, Itália, que, após sua eleição como Sumo Pontífice pediu – veja: pediu – para ser inscrito na Congregação Mariana de Nobres6 de Roma. O “Papa bom” quis se manter como Congregado até mesmo na custódia das Chaves de Pedro.
Santa Mãe de Deus, ensinai-nos a ser verdadeiros Congregados marianos.

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1 - papa Bento XIV in Bula Áurea “Gloriosae Dominae” - 27 de setembro de 1748
2- São Pio X in Discurso no Primeiro Congresso das Congregações Marianas da Itália - 7 de setembro de 1904
3- ibid. 1
5- Angelo Roncalli foi Congregado na Congregação Mariana do Seminário de Bérgamo, proferindo sua Consagração em 8/12/1897

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