A real oração
Alexandre Martins,cm.
Rezar, orar, ou seja, falar com Deus,
sempre foi a meta de todas as religiões praticadas pelo Homem. Como a
palavra “religião” provém de “religar”, desde a Queda do primeiro homem
seus descendentes buscaram formas de retomarem as divinas conversas que o
primeiro humano tinha com seu Criador. Diz s. Joana Francisca de
Chantal que “a maior felicidade neste mundo é poder conversar com Deus
por meio da oração”.
As formas de oração variavam – e
ainda variam – em cada religião ou pensamento seguido pelo Homem, mas
com Jesus Cristo essa oração adquiriu uma forma especial e completamente
nova na História da Humanidade: conversamos a sós com nosso verdadeiro
Pai. “Aquele que ora trata com a Causa Primeira. Opera diretamente
sobre Ela. Tem, desta sorte, na mão, todas as causas segundas, visto
como estas somente desse Princípio superior recebem a sua eficácia.”1
Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou que devemos orar – conversar – com Deus Pai em segredo e silêncio em um local recolhido.2
Conversamos – oramos – com nosso Criador pessoalmente. Colocamos a ele
nossas angústias, necessidades, desejos e Ele, como Pai amoroso, nos
atende de acordo com o nosso benefício. Nos ensina o Padre Pio de
Pietrelcina: “Ore, espere, não se preocupe. A preocupação é inútil. Deus
é misericordioso e ouvirá sua prece. A oração é a melhor arma que
temos, é a chave para o coração de Deus. Você deve falar com Jesus, não
só com os lábios, mas com seu coração. De fato, em certas ocasiões você
deve falar com Ele só com o coração.”
Deus é onipotente e onisciente e, se
não atender nossas súplicas na hora e do modo que pedimos não significa
que não possa fazer aquilo ou que não queira nos atender por algum
capricho pessoal. Ele não nos atende conforme pedimos porque sabe que o
que pedimos não é bom para nós, cegos neste mundo.“A oração é árida à
primeira vista por que falamos com o invisível”.3
A Santa igreja, desde tempos remotos,
organizou formas de oração para ajudar os iniciantes na Fé a adaptarem
coração e mente ao propósito real da oração:o contato pessoal com Deus.
“As fórmulas que emprego não foram escolhidas por mim. É a Igreja que as põe em meus lábios.
Portanto é a Igreja que ora pela minha boca, que fala e opera por meu
intermédio, como o rei fala e opera por intermédio do seu embaixador.
Eu, então, sou verdadeiramente, segundo toda a expressão de s. Pedro
Damião, a Igreja inteira.”4
“Enquanto pronuncia as palavras,
eleve o seu pensamento até Mim, considere seus defeitos em geral, medite
sobre a Paixão de meu Filho. No Sangue de Cristo encontrará a plenitude
do amor e a remissão dos pecados.” ensinou Deus-Pai a s. Catarina de
Sena.5
Como duas pessoas que se amam verdadeiramente, a conversa toma rumos
próprios e o contato verbal é o fundamento desse amor, porquanto externa
o intimo de seus corações.
Com Deus e a alma devota acontece o
mesmo: Deus mostra Seus desígnios par ao nosso bem e nós externamos a
Ele o nosso amor, dedicação e confiança. Não se trata, como no contato
humano, que somente falando a outro ele nos entenderá mas Deus,
onisciente e conhecedor do intimo de nosso coração, sabe que precisamos
vocalizar nosso sentimento para que este seja compreendido por nossa
mente e espírito e que esse amor possa ser completamente vivido por nós.
Deus quer que façamos atos de Fé e amor não para saber algo de nós, mas
para que nós mesmo saibamos de nós mesmo. Lembra-nos s. Bernardo de
Claraval6 “Estas três coisas permanecem: a palavra, o exemplo e a oração; mas a maior das três é a oração.”
“O que torna a oração difícil e
penosa, ao homem vulgar, é o tédio; porém o tédio se encontra
precisamente nesse mesmo homem que é um ser material e de espírito
apoucado, e nunca na oração.”7
Devemos sempre rezar. Mas devemos rezar como conversamos com Alguém que
nos ama incondicionalmente e que nos conhece mais do que qualquer
pessoa, mais do que nós mesmo nos conhecemos ou iremos nos conhecer.
Um desafio? Ora, mas o amor é por definição desafiador.
***
1– Jean Baptiste Chautard, in “A Alma de todo Apostolado”, pág. 31.
2– Mt
3– D. Estêvão Bettencourt, OSB, homilia em 26/7/1998
4– Jean Baptiste Chautard, in “A Alma de todo Apostolado”, pág. 157
5– in “O Diálogo”, ed. Paulinas, página 141
6– citado por Jean Baptiste Chautard, in “A Alma de todo Apostolado”, pág. 82.
7– pe. Meschler, OP, in “A Vida Espiritual reduzida a Três Princípios”, pág. 14