Dom Frei Antonio Cabral


 

Alexandre Martins, cm.


Uma grande personalidade da Igreja no Brasil que, embora não sendo efetivamente formado pelas Congregações Marianas, trabalhou com elas para sua atividade pastoral, fundando CCMM e contando com a colaboração de Congregados marianos na promoção da Dotrina Social da Igreja.

 

Antônio dos Santos Cabral nasceu em Propriá, estado do Sergipe, aos 8 de outubro de 1884. Era filho do coronel Antônio dos Santos Cabral e de Amélia Maria da Glória Cabral.

Fez os estudos primários em Natal, Rio Grande do Norte, e em fevereiro de 1899 ingressou no Seminário Arquiepiscopal de Santa Teresa, em Salvador (BA). Em 1904, em novembro, fez seu primeiro sermão em Propriá, na festa de Santa Cecília. Em 1905 foram-lhe conferidas as ordens menores1 e, no ano seguinte, as últimas ordens. Ordenado presbítero em Salvador, por dom Jerônimo Tomé, em novembro de 1907, regressou em seguida à cidade natal, onde rezou sua primeira missa em 24 de novembro, na mesma igreja em que fora batizado. Em janeiro 1908 foi nomeado Vigário da paróquia de Propriá, como Coadjutor2 do cônego Rosa Passos, a quem substituiu como Pároco por ocasião do falecimento deste em 17 de março seguinte.

Em 4 de agosto de 1912 foi elevado a cônego, assumindo então o lugar de Primeiro Presbítero no Cabildo3 da catedral de Aracaju. No mesmo ano recebeu as insígnias de monsenhor.

O título de Camareiro4 de Sua Santidade - então o papa Bento XV - foi -lhe concedido. Logo, aos 1º de setembro de 1917 foi nomeado bispo de Natal, sucedendo dom Joaquim Antônio de Almeida, o primeiro bispo. Sagrado bispo na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro em 14 de abril de 1918 pelo cardeal dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, tomou posse do bispado no dia 30 de maio do mesmo ano.


Um bispo incansável


Como bispo de Natal, empenhou-se no restabelecimento da Estrada de Ferro Mossoró e da linha de navegação do Lloyd Brasileiro para os pequenos portos do Rio Grande do Norte.

Deve-se igualmente à sua influência a fundação de várias instituições, como a Escola de Comércio de Natal e o Instituto de Proteção às Moças Solteiras e o Curso Comercial Feminino e a Sociedade Propagadora do Ensino Popular.

Entre as instituições religiosas e obras pias que fundou e incentivou contam-se a Congregação Mariana de Moços e o Círculo de Operários Católicos, ambos em 1918, o Dia da Boa Imprensa (18 de janeiro de 1919), o Seminário de São Pedro, fundado em 15 de fevereiro de 1919, e o Pão de Santo Antônio, em 1920.

Foi também responsável pela criação do órgão oficial da diocese, o Boletim de Natal, em março de 1919, e organizou em 1920, a Comissão Central das Obras da Nova Catedral.

Entre 1918 e 1922 criou na diocese oito novas paróquias e 30 escolas paroquiais.


Em terras de Minas


Em 21 de novembro de 1921, o papa Bento XV o transferiu para a nova diocese de Belo Horizonte, após seu desmembramento da arquidiocese de Mariana.

Chegou à capital mineira em 30 de abril de 1922, tomou posse do bispado na igreja de São José e instalou a catedral na igreja da Boa Viagem.

Em 1923 fundou o Seminário do Coração Eucarístico de Jesus, com apenas 27 alunos. Futuramente se tornaria o maior seminário diocesano da América do Sul.

Em 1º de fevereiro de 1924, o papa Pio X elevou Belo Horizonte a Arquidiocese, sendo então dom Antônio seu primeiro arcebispo.

Em 1930 foi inaugurado o primeiro edifício do atual Seminário Eucarístico, que já contava então com 176 alunos.

Na Ação Católica


Nos 25 anos de sacerdócio de dom Antônio Cabral em 1932, foi realizado o Congresso da Imprensa Católica, durante o qual surgiu a idéia da publicação de um diário católico. Ainda em 1935 teve início a publicação de O Diário - o maior diário católico do Brasil.

A partir de 1935, dom Antônio Cabral favoreceu o desenvolvimento da Ação Católica5 em sua arquidiocese, incentivando a participação dos leigos no apostolado da Igreja.

Em 1936 realizou-se o II Congresso Eucarístico Nacional em Belo Horizonte. Em 1937 dom Antônio Cabral instituiu a Obra da Adoração Perpétua na catedral da Boa Viagem.

Sempre empenhado em organizar a vida paroquial e em estimular o apostolado nos bairros e vilas, o arcebispo de Belo Horizonte criou em 1949 a Ação Social Arquidiocesana, para estudar, difundir e levar à prática a Doutrina Social da Igreja em toda a arquidiocese.

Em outubro de 1952 esteve presente à sessão de instalação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tendo sido eleito suplente de sua comissão permanente. Nos moldes da época, a justificativa da organização era “coordenar e subsidiar as atividades de orientação religiosa, de beneficência, de filantropia e assistência social” em todo o território nacional, representando uma tentativa de centralizar em uma instituição o que estava fracionado nas dioceses espalhadas pelo país.


Mais trabalho


Dom Antônio Cabral, ao longo dos 36 anos em que esteve à frente da arquidiocese de Belo Horizonte, criou o Colégio Arquidiocesano (futuro Instituto Arquidiocesano de Educação), o Colégio de Nova Lima, o palácio Cristo Rei, a Casa Cura D’Ars e diversas faculdades que dariam origem à Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais em 1958.

Ainda mais, organizou o Sínodo Diocesano e o Congresso das Vocações Sacerdotais.

Foi ainda membro titular da Academia de Letras do Ceará e membro honorário do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.

Entre as diversas cartas pastorais que escreveu, destacam-se a Carta pastoral do bispo de Natal saudando seus diocesanos (1918), a Carta pastoral do primeiro bispo de Belo Horizonte saudando seus diocesanos (1922), a Pastoral sobre a Igreja e o ensino e a Pastoral sobre a ação católica.


A doença


Em junho de 1956, dom Antônio Cabral sofreu um derrame cerebral, ficando impedido de exercer suas atividades pastorais.

A direção da arquidiocese passou ao Bispo auxiliar, dom Geraldo de Morais Penido, como Administrador Apostólico. Em 30 de novembro de 1957 foi este substituído por dom João Resende Costa, que assumiu a arquidiocese com o título de Arcebispo coadjutor com direito à sucessão e administrador apostólico sede plena.


Faleceu em Belo Horizonte no dia 15 de novembro de 1967.



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1Ordens menores: acólito, exorcista, leitor e porteiro (em ordem decrescente) Ordens maiores: sacerdote, diácono e subdiácono

2O vigário coadjutor ou vigário geral é um sacerdote designado pelo Bispo para ajudá-lo na administração da Diocese. No caso específico, era o subordinado ao Cônego.

Fontes: CASCUDO, L. História; CNBB; GARDEL, L.Armoiries; Grande encic. Delta; GUARANÁ, M. Dicionário; HIRSCHOWICZ, E. Contemporâneos; Minas Gerais (17/11/1967); VELHO SOBRINHO, J. Dicionário.

3Cabido, é um grupo de “conselheiros” do Bispo e se reunindo na Catedral. Nem todas as Dioceses têm Cabido, mas ainda assim, o Bispo pode recompensar um sacerdote com esse título dignatário, honorífico.

4Antes de 1968 existiam 14 classes de Monsenhor: Protonotários Apostólicos, Prelados Domésticos, Camareiros de Sua Santidade e Capelães de Sua Santidade.

5A Ação Católica Brasileira (ACB) foi um movimento da Igreja Católica, fundado pelo cardeal Sebastião Leme da Silveira Cintra em 1935, com o objetivo de formar leigos para colaborar com a missão da Igreja: "salvar as almas pela cristianização dos indivíduos, da família e da sociedade". Em 27 de outubro de 1935, o Papa Pio XI enviou uma carta ao Cardeal Leme e aos Bispos do Brasil, na qual afirmava que devido à escassez do clero, a Ação Católica (AC) seria necessária, sua primeira tarefa seria a formação para que existisse uma unidade orgânica, com coordenações em todas as associações; e que o objetivo da AC seja fazer de cada indivíduo um apóstolo de Cristo no ambiente social onde estivesse, portanto deveriam ser organizadas semanas de estudo e oração necessárias para a formação de militantes entre os jovens estudantes e operários; para que a AC pudesse ser o "exercício pacífico de Cristo, exército de justiça, amor e paz. Portanto, a intenção era que os leigos se tornassem o braço estendido da Igreja Católica no seio da sociedade como apostolado organizado e subordinado ao poder do clero

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