O Papai Noel, São Nicolau e a Coca-Cola
Alexandre Martins*
Odiado
por alguns, amado por todos. Assim é o Papai Noel, o simpático
velhinho que há mais de um século é o garoto propaganda do Natal,
deixando a festa cristã mais agradável aos ateus e agnósticos.
A
figura de alguém que usa a caridade na época do nascimento do
Cristo vêm das histórias contadas na Legenda Áurea1
em especial as referentes à caridade escondida praticada por um
bispo católico, são Nicolau de Mira.
Quem foi Nicolau de Mira
Nicolau de Mira, o original |
São
Nicolau, cujo nome significa "protetor e defensor dos povos"
foi tão popular na antiguidade que lhe consagraram no mundo mais de
dois mil templos. Era invocado pelos fiéis nos perigos, nos
naufrágios, nos incêndios e quando a situação econômica ficava
difícil, conseguindo estes favores admiráveis por parte do santo.
Por
ter sido tão amigo da Infância, em sua festa dá-se presentes às
crianças, e como em alemão se chama "São Nikolaus",
começaram-no a chamar Santa Claus, sendo representado como um ancião
vestido de vermelho, com uma barba muito branca, que ia de casa em
casa repartindo presentes e doces às crianças. De São Nicolau
escreveram muito belamente São João Crisóstomo e outros grandes
Santos, mas sua biografia foi escrita pelo antigo Arcebispo de
Constantinopla, São Metódio.
Desde
criança se caracterizou porque tudo o que conseguia o repartia entre
os pobres. Os pais de Nicolau morreram cedo. Então, por recomendação
de um tio, que o aconselhou a ir visitar a Terra Santa, Nicolau
decidiu viajar até à Palestina e depois ao Egito. Durante a viagem,
houve uma tempestade, que segundo a lenda, acalmou milagrosamente,
quando Nicolau começou a rezar com toda a sua Fé. Foi este episódio
que o transformou no padroeiro dos marinheiros e pescadores.
Quando
voltou da sua viagem, decidiu que não queria viver mais em Patara e
mudou-se para Mira, onde viveu na pobreza, já que tinha doado toda a
sua herança aos mais pobres e desfavorecidos.
Na
época do imperador romano Licino, perseguidor dos cristãos, Nicolau
foi encarcerado e açoitado. Com o governo do imperador Constantino
foram liberados ele e outros prisioneiros cristãos. O santo morreu
em 6 de dezembro do ano 345. Em meados do século VI, o santuário
onde este foi sepultado transformou-se numa nascente de água. Em
1087, os seus restos mortais foram transferidos para a cidade de
Bari, na Itália., que se tornou num centro de peregrinação em sua
homenagem. Milhares de milagres foram creditados como cedo sua obra,
actualmente S. Nicolau é um dos Santos mais populares entre os
cristãos e milhares de igrejas por toda a Europa receberam o seu
nome (só em Roma existem 60 igrejas com o seu nome, na Inglaterra
são mais de 400).
Seu
culto chegou a ser extremamente popular em toda a Europa. É
Padroeiro da Rússia, da Grécia e da Turquia. São Nicolau virou
também padroeiro das crianças e dos marinheiros.
Depois
da Reforma Protestante, os protestantes germânicos decidiram dar
especial atenção a “ChristKindl” - ao Menino Jesus,
transformando-o no “distribuidor” de presentes e transferindo a
entrega de presentes para a Sua festa a 25 de Dezembro. Quando a
tradição de S. Nicolau prevaleceu, esta ficou colocada no próprio
dia de Natal. Os católicos continuam a comemorar seu dia na data de
sua morte, 6 de dezembro.
Os nomes do Papai Noel
O
nome Santa Claus vem da evolução paulatina do nome de São
Nicolau: Nicklauss, Klaus e
Santa Claus. O nosso Papai Noel vem do francês Père
Noel. Em Portugal, ele é chamado de “Pai Natal”. Dizem que
“Noel” provem de “Emanoel” (em hebraico “Deus conosco”) e
seria referencia à pessoa que anuncia a presença do Menino Jesus entre os Homens.
A figura do imaginário popular
Clemente
C. Moore, um professor de literatura grega em Nova Iorque, em 1822
escreveu um poema a seus filhos, “Uma visita de São Nicolau”,
era a versão de que Noel viajava num trenó puxado por renas e
entrava pela chaminé das casas. More hesitou em publicá-lo porque
achou que dava uma imagem frívola do Pai Natal. Contudo, uma
senhora, Harriet Butler, teve acesso ao poema através do filho de
More e decidiu levá-lo ao editor do jornal Troy Sentinel, em Nova
Iorque, o qual publicou o poema no Natal do ano seguinte em 1823. A
partir daí, vários jornais e revistas publicaram o poema, mas
sempre sem se mencionar o seu autor. Só em 1844, é que More
reclamou a autoria do poema...
A
explicação da chaminé vem da Finlândia, uma das fontes de
inspiração do poema. Os antigos lapões viviam em pequenas tendas,
como iglus, cobertas com pele de rena. A entrada era um buraco no
telhado. De personagem real da Turquia, o Papai Noel imaginário
passou a vir do Polo Norte.
cartões de Natal do início do seculo XX |
A
última e mais importante característica incluída na figura de
Papai Noel é sua roupa vermelha e branca. Antigamente, ele vestia-se
como bispo ou usava cores próximas do marrom, com uma coroa de
azevinhos na cabeça ou nas mãos. Mas não havia padrão. Seu visual
foi obra do cartunista Thomas Nast, na revista Haper's Weeklys,
em 1886, numa edição especial de Natal. em alguns lugares na Europa
e no Canadá ele ainda é representado com os paramentos
eclesiásticos de bispo e, ao invés de gorrinho vermelho, tem uma
mitra episcopal.
de Nicolau a Noel |
O Papai Noel já apareceu com essas roupas na obra de Thomas Nast e em publicidades da Colgate, RCA Victor e Michelin, muito antes das campanhas da Coca-Cola.
A
Tradição de pendurar meias na lareira ou deixar sapatos na janela
originou-se de uma das muitas histórias sobre São Nicolau, em quem
se inspira a figura do papai Noel. No passado, para uma moça era
indispensável dispor de um dote para se casar. São Nicolau sobe da
triste situação de uma família, sem recursos para o dote de suas
filhas secretamente, ele jogou três pequenos sacos com moedas de
ouro pela chaminé da casa da família. Os sacos caíram dentro das
meias das moças, penduradas na lareira para secar. A história mais
confiável é a que conta que Nicolau, sabendo que três pobres moças
não tinham os dotes para o casamento e por isso o próprio pai, na
loucura, lhes aconselhou a prostituição, atirou pela janela da casa
das moças três bolsas com o dinheiro suficiente para os dotes das
jovens.
As
renas do Papai Noel ou de o Pai Natal são as únicas renas do mundo
que sabem voar, ajudando o Papai Noel entregar os presentes para as
crianças do mundo todo na noite de Natal. Quando o Papai Noel ou o
Pai Natal pede para serem rápidas, elas podem ser as mais rápidas
renas do mundo. Mas quando ele quer, elas tornam-se lentas. A
quantidade de renas que puxam o trenó é controversa, tudo por causa
da rena conhecida como Rudolph. Existe uma lenda que diz que Rudolph
teria entrado para equipe de renas titulares por ter um nariz
vermelho e brilhante, que ajuda a guiar as outras renas durante as
tempestades. E, a partir daquele ano, a quantidade de renas passou a
ser nove, diferente dos trenós tradicionais, puxados por oito renas.
Tal lenda foi criada em 1939 e retratada no filme Rudolph, a Rena
do Nariz Vermelho (1960 e 1998). O nome das renas, em inglês
são: Rudolph, Dasher, Dancer, Prancer, Vixen, Comet, Cupid, Donner e
Blitzen. E em português são: Rodolfo, Corredora, Dançarina,
Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago.
Cartas
para santos ou de cunho religioso são uma prática existente desde a
antiguidade, mas apenas a partir do século XX surgiu no mundo o ato
de enviar cartas ao Papai Noel como um cunho familiar, ou seja, os
pais da criança leem as cartas dela, e com a condição de serem bem
comportadas durante o ano, recebem o presente como sendo de autoria
do Papei Noel; às vezes de forma tão ensaiada que chegam a
acreditar fielmente em sua existência. Há versões oficiais ou
semioficiais de papais noeis no mundo receptoras de correspondências,
e correspondem de acordo com algum critério de seleção. É comum
encontrá-los em shopping centers, praças centrais das cidades,
hospitais e estabelecimentos públicos, etc. Na maioria destes
lugares as cartas são entregues presencialmente ou depositadas no
próprio ambiente.
No
Brasil, os Correios oficialmente recebem cartas endereçadas ao Papai
Noel desde 2001. As mensagens são enviadas aos funcionários do
Correios, mas todos os brasileiros podem se voluntariar como um Papai
Noel diretamente nas agências dos Correios do país. Os correios dos
países escandinavos também têm programas parecidos, mas preparados
para correspondências de todo o planeta, uma vez que a Lapônia é
terra dada como sendo oficialmente da origem do Papai Noel. Na
Finlândia inclusive, todas as cartas dirigidas a Papai Noel ou Santa
Claus e com endereço Lapônia ou Pólo Norte são direcionadas para
a agência em Rovaniemi (capital da província laponesa). As cartas
recebidas com remetente recebem uma resposta em oito idiomas
diferentes.
O garoto propaganda do Natal da Coca Cola
O Papai Noel da Coca-Cola, por Sundblom |
Haddon
Hubbard "Sunny" Sundblom (1899-1976) foi um ilustrador
estadunidense mais conhecido pelas imagens de Papai Noel que criou
para a The Coca-Cola Company. Sundblom nasceu no Michigan, e estudou
na American Academy of Art. Destacou-se por seu trabalho
publicitário, mais precisamente as propagandas estreladas por Papai
Noel pintadas para a The Coca-Cola Company na década de 1930. Foi
também criador da imagem do Quaker Oats (velho da Quaker) em 1957,
que continua sendo utilizada nas embalagens de aveia Quaker até os
dias de hoje.
Em
meados dos anos 1930, Sundblom começou a pintar pin-ups para
calendários, trabalho que exerceu uma grande influência para muitos
artistas do gênero, como Gil Elvgren, Joyce Ballantyne e Art
Frahm. Sua última obra foi uma pintura para a capa da edição de
Natal de 1972 da revista Playboy.
Conclusão
Não
se trata de demonizar nem de materializar a figura do Papai Noel. Sua
figura tornou-se parte do imaginário gráfico mundial e totalmente
relacionada ao Natal. É uma cultura cristã que influenciou a toda a
Civilização do Ocidente, tornando-se tema de várias obras de arte,
seja gráfica, musical ou outra.
Os
críticos defendem que sua figura eclipsou a do Cristo, pois o Natal
é uma festa religiosa cristã, mas como vimos acima, é por
justamente a figura real de um bispo cristão que existe a figura
alegórica.
Os
defensores alegam que o Papai Noel faz com que o Natal possa ser
“digerido” por todos, sem exceção, sejam eles católicos,
protestantes ou mesmo ateus. Até o famoso ateu John Lennon compôs
sua música “Happy Xmas (War Is Over)” em 1971 propositalmente
colocando um “xis” no nome de Cristo. O Natal de Cristo passa a
ser apenas mais um feriado e, com isso, mais comercial do que todos.
Não é difícil ver mulheres nuas com o gorro de Papai Noel, coisa
impensável num Presépio, por exemplo.
A
festa do Natal é religiosa por si mesma. Os que não partilham da Fé
Cristã podem ter algo dela, como a solidariedade e a paz. Se
beneficiam com isso. É melhor do que simplesmente abolir o Natal.
Feliz Natal a todos! Ho, ho, ho!
***
(*) publicado originalmente no blog da
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1-
A Legenda Áurea ou Lenda Dourada (em latim: Legenda aurea ou
Legenda sanctorum) é uma coletânea de narrativas hagiográficas
reunidas por volta de 1260 d.C. pelo dominicano e futuro bispo de
Gênova Jacopo de Varazze e que se tornou um sucesso durante a Idade
Média.
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