Pietro Navarro e os Mártires do Japão

 

Alexandre Martins, cm.

 

Um destemido sacerdote que desde a juventude quis evangelizar o Oriente e deu sua vida alegremente cantando louvores à Virgem Maria. Este é o Padre Pietro Navarro, congregado mariano em Nápoles, Itália.

 

Primeiros anos e formação

Em 1560, Pietro Paolo (Pedro Paulo) Navarro  nasceu na pequena cidade de Laino, Basilicata, no sul da Itália.

Aos dezoito anos, em 1579, ingressou no Noviciado jesuíta de Nola, uma comuna italiana da região da Campania, província de Nápoles, também Itália. Nesse Noviciado, ingressou na Congregação Mariana do convento, como era comum entre os jovens jesuítas desses tempos. Era também a época de fervor missionário entre os jovens: um desejo de que os novos povos descobertos pelas navegações soubessem da Fé Cristã. Paolo queria ir ao longínguo Japão, do outro lado do mundo.

Seu pedido foi atendido e em 1584 ele foi enviado primeiramente para Goa, Índia, para seus estudos e foi ordenado em 1585.

 

No Japão

Em agosto de 1586, seus Superiores finalmente o enviaram ao Japão e ele chegou a Hirado, oeste do arquipélago. Passou um ano inteiro estudando a língua japonesa e serviu em postos missionários em nas aldeias de Shikoku e Honshu.  

O padre Navarro sabia que para ter sucesso na evangelização dos japoneses, ele próprio deveria se tornar um deles. Foi isso que o motivou a falar e escrever fluentemente a língua. Para provar que eles não precisavam abrir mão de seus costumes e tradições culturais para se tornarem cristãos, se vestia como um japonês, comia comida japonesa e usava a mobília japonesa em uma casa japonesa. Era os primórdios da "inculturação" que séculos mais tarde o Sagrado Concílio Vaticano II (1962-1965) iria usar como um meio para que o Evangelho fosse absorvido pelas nações:

...a sua ação faz com que tudo quanto de bom encontra no coração e no espírito dos homens ou nos ritos e cultura próprios de cada povo, não só não pereça mas antes seja sanado, elevado e aperfeiçoado, para glória de Deus.  (Constituição Lumen Gentium, 17)

Para poderem dar frutuosamente este testemunho de Cristo, unam-se a esses homens com estima e caridade, considerem-se a si mesmos como membros dos agrupamentos humanos em que vivem, e participem na vida cultural e social através dos vários intercâmbios e problemas da vida humana; familiarizem-se com as suas tradições nacionais e religiosas; façam assomar à luz, com alegria e respeito, as sementes do Verbo neles adormecidas. (Decreto Ad Gentes,11)

A Batalha de Sekigahara (a "Divisão do Reino") foi o conflito decisivo ocorrido em 1600. Ieyasu Tokugawa (ou Tokugawa Ieyasu, 1543 – 1616) foi o vencedor e se tornou o fundador do Xogunato Tokugawa do Japão, que governou desde 1603 até a Restauração Meiji em 1868. Foi um dos três "Grandes Unificadores" do Japão juntamente com o seu ex-senhor Oda Nobunaga e o seu colega subordinado do clã Oda, Toyotomi Hideyoshi.  Em 1614, Tokugawa assinou o Edito de Expulsão Cristã, que baniu a Cristandade, bem como todos os cristãos e estrangeiros, além de proibir os cristãos de praticarem a sua religião. Como resultado, muitos cristãos japoneses fugiram para as Filipinas, dominadas pelo Império  Espanhol.

Mas, o padre Navarro foi um das duas dúzias de jesuítas que se esconderam em vez de deixar o país. Quase uma centena de outros padres tiveram que abandonar o Japão.

 Por isso, o padre Navarro foi para o norte de Kyushu, e tornou o local o centro de seu ministério missionário. Pelos próximos sete anos, ele trabalhou como sacerdote em Shimabara, oeste de Kyushu, disfarçado de mendigo, vendedor de madeira, comerciante ou fazendeiro. Nesses disfarces, o padre Navarro conseguia entrar nas casas dos cristãos para celebrar a missa ou administrar os sacramentos à noite para evitar ser capturado. Durante esse período, ele escreveu em japonês o texto "Um pedido de desculpas da fé cristã contra as calúnias dos pagãos".

 

Ao fogo, cantando louvores à Virgem Maria

Peter Onizuka e Dennis Fujishima foram dois catequistas leigos que ajudaram o padre Navarro durante seus últimos anos em Shimabara. Peter era um adolescente cujo pai abrigava padres fugitivos. Dennis era um homem de quarenta anos, tendo sido cristão quando jovem. Ambos estavam com o padre Navarro e seu servo, Clement Yuemon, depois do Natal de 1621, quando todos foram capturados por "caçadores de padres". Foram levados ao Daimyo de Arima, que os tratos com grande respeito. O Daimyo os deteve em uma casa de um cristão, onde foram cuidado por cristãos. O Daymio até permitiu que o padre celebrasse a Missa. Ele também vinha frequentemente para conversar com o padre Navarro. O Daimyo pensava em libertá-los se eles pudessem renunciar ao cristianismo, mas eles recusaram. Ele queria transferi-los secretamente para Macau, onde poderiam ser libertados. Mas antes disso, ele recebeu ordens do Shogun de que os três deveriam morrer por fogo lento.

Quando o Pe. Navarro foi informado de sua morte iminente, ele ficou feliz que suas preces tinham sido atendidas e escreveu ao seu amigo jesuíta, Pe. João Batista Zola, dizendo: “Eu dou infinitas graças ao Senhor e peço que você o agradeça comigo. Também peço suas orações por perseverança até meu último suspiro.”

No dia da execução, 1º de novembro, o Padre Navarro celebrou a Missa de Todos os Santos e os dois catequistas, Peter e Dennis, que pediram para entrar na Sociedade de Jesus, pronunciaram seus votos jesuítas durante a missa final. Enquanto esperava pelos carrascos, o Padre Navarro escreveu sua última carta ao Padre Matthew de Couros: “Por muitos anos, rezei por esta grande graça de Deus, mas sempre com algum medo, de que eu não seria ouvido por causa dos meus muitos pecados. O Pai das misericórdias agora me dá esta graça há muito desejada. Que ele seja abençoado para sempre.”

À tarde, os quatro prisioneiros escoltados por cinquenta soldados para o local da execução. Uma grande multidão de cristãos seguiram o translado. O padre Navarro cantava a Ladainha de Nossa Senhora e seus companheiros cantavam com alegria as respostas. Ao se aproximarem da costa, os mártires viram as estacas de pé os aguardando. O Daimyo instruiu os soldados a colocar a madeira ao redor das estacas para não prolongar o sofrimento dos prisioneiros.

Os três jesuítas, padres Peter Paul Navarro, Peter Onizuka e Dennis Fujishima e seu fiel servo, Clement Yeumon, em chamas, deram o último testemunho heróico de seu grande amor a Deus.

Todos foram beatificados pelo Beato Papa Pio IX junto com outros 201 Mártires do Japão em 7 de maio de 1867. Sua festa é 1º de novembro.

Que o Padre Navarro interceda por nós para sermos felizes quando nos perseguirem.

 

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