Almirante Dan Callaghan, o Almirante mariano

A man in uniform stands on the bridge of a ship. 

 

Alexandre Martins, cm.

Nos últimos anos do século XIX, um casal com seu pequeno filho estabelecia uma rotina que marcava as manhãs na comunidade católica de Oakland, Califórnia. Era às 5h50 que eles se dirigiam à igreja. O menino, ainda sonolento, mantinha os olhos pesados enquanto tentava acompanhar a Missa, lutando para não se perder nas palavras em latim. Cada tropeço era suavemente corrigido pela mão atenta de seu pai ou de sua mãe, sempre prontos para guiá-lo.

Esse menino era Daniel Judson Callaghan, filho de Charles William Callaghan e Rose Wheeler. Nascido em 26 de julho de 1890 em San Francisco, Daniel herdou dos pais um fervoroso catolicismo e o ardente temperamento irlandês. Desde pequeno, ele se destacou não apenas por sua inteligência, mas também por um senso de responsabilidade que o acompanharia durante toda a vida.

Sua educação teve início sob os cuidados das Irmãs Dominicanas na Escola de São Elizabeth. Após concluir o curso primário, Dan deu um passo significativo ao ingressar no Colégio de São Inácio, onde os Padres Jesuítas moldaram sua formação acadêmica e espiritual, inclusive, ingressando na Congregação Mariana de Alunos. Embora fosse um aluno brilhante, ele precisava dedicar-se intensamente aos estudos, aproveitando as viagens diárias entre Oakland e San Francisco para revisar suas lições. Sua paixão pelos esportes também floresceu nesse ambiente, onde começou a participar ativamente de várias atividades, incluindo baseball.

A vida de Dan como um jovem congregado mariano foi marcada pela disciplina e pela busca dos ideais que lhe foram ensinados. Com uma postura inabalável em relação à castidade e ao respeito, ele se destacou entre seus colegas, conquistando o respeito de todos à sua volta. Sua determinação levou-o a concluir o curso secundário com distinção, e o seu desejo de servir ao país na marinha, embora inicialmente relutante em relação à oposição do pai, acabou sendo realizado quando, em 1907, ele entrou na Academia Naval de Annapolis.

Na Marinha

Durante seu tempo na Academia, Dan continuou a se destacar. Ele se dedicou com entusiasmo aos estudos e foi escolhido como capitão da equipe de baseball. Ao longo de sua trajetória, demonstrou habilidades de liderança, sendo encarregado de cuidar da disciplina dos colegas mais velhos e organizando missas dominicais para os cadetes católicos. O esforço e a dedicação valeram a pena, pois ele se formou com notas excepcionais.

Após a graduação, Dan foi designado para servir como "ensign" (oficial comissionado) no encouraçado “Califórnia” e, em seguida, transferido para o destroyer “Truxtun”. Durante esse período, enfrentou desafios inesperados, incluindo uma acusação injusta relacionada a um defeito na maquinária do navio, que o levou a uma corte marcial. No entanto, sua inocência foi rapidamente reconhecida e ele foi absolvido.

Em 23 de julho de 1914, Dan casou-se com Mary Tormey, formando uma nova unidade familiar. Logo após, foi promovido a Oficial Comandante do “Truxtun”. Sua carreira ascendeu rapidamente devido aos seus excelentes serviços prestados à Marinha. Ele trabalhou brevemente no Ministério da Marinha e, mais tarde, tornou-se Professor de Ciências Navais na Universidade da Califórnia. Sua experiência e competência chamaram a atenção do Presidente Roosevelt, que o nomeou Ajudante Naval, cargo que ocupou entre 1938 e 1941.

Com a crescente tensão que precedeu a Segunda Guerra Mundial, Dan foi designado para comandar o cruzador pesado San Francisco. Apesar da pressão e das expectativas, ele manteve sua humildade e firmeza de caráter. Mesmo diante da possibilidade de promoção a Almirante, ele rejeitou qualquer noção de favoritismo, preferindo conquistar seus postos pela meritocracia.

Pearl Harbor

No dia 7 de dezembro de 1941, Callaghan estava em Pearl Harbor preparando seu navio para uma reforma completa de armamento. Antes do ataque surpresa japonês, ele havia se levantado cedo, como de costume, para assistir à Missa. Quando as sirenes soaram e as bombas começaram a cair, Dan não hesitou. Ele correu de volta para seu navio, onde encontrou sua tripulação em boa ordem. O San Francisco não estava em condições de lutar, então Dan fez uma escolha crítica: transferiu homens e oficiais para o USS New Orleans.

Após a batalha, ele preparou o San Francisco para as ordens subsequentes e foi destacado para servir como Chefe do Estado Maior em Auckland, Nova Zelândia. Seu trabalho árduo e comprometido não passou despercebido, levando à sua promoção a Contra-Almirante.

Enquanto isso, o cenário da guerra no Pacífico se intensificava. As forças japonesas estavam desembarcando em Guadalcanal, e a necessidade de uma ofensiva americana se tornava evidente. O Almirante Callaghan optou por usar o San Francisco como sua embarcação de comando e, na noite de 12 de novembro de 1942, ele liderou sua divisão contra uma força inimiga substancial.

Na ponte de comando, Callaghan sabia que a situação era perigosíssima, mas estava preparado. Mês antes, durante uma conversa com seu pai, tinha recebido um conselho vital: “Uma preparação para a Vida Eterna é teu dever mais necessário”. Assim, ele se sentia pronto para enfrentar o que viesse, sempre com a sua fé católica como guia.

No dia 8 de novembro, ele assistiu à Missa mais uma vez antes de zarpar para Guadalcanal. A batalha naval ocorreu na noite de 12 para 13 de novembro, resultando na morte heroica do Almirante Callaghan, atingido por uma granada inimiga enquanto liderava sua equipe.

Homenagens póstumas

O impacto da morte de Dan foi sentido profundamente, tanto em sua família quanto nas instituições que ele havia deixado para trás. Thomas A. Lahey escreveu sobre seu sacrifício: “O Almirante Dan Callaghan, lutando contra dificuldades sobre-humanas e com o sacrifício da sua vida, arrancou a vitória ao Japão, na batalha naval, qualificada como a mais espetacular e crucial da última guerra. Foi o feito decisivo”.

Por ordem do presidente Roosevelt, o contra-almirante Callaghan recebeu a Medalha de Honra. A Marinha dos EUA também lhe concedeu póstumamente a Coração Púrpura, a Medalha da Campanha Ásia-Pacífico e a Medalha da Vitória na Segunda Guerra Mundial .

Após sua morte, o Presidente da Congregação Mariana do Colégio de São Inácio, em San Francisco, enviou uma carta de condolências aos pais de Dan, ressaltando a importância de sua fé e a lembrança eterna de seu heroísmo:

“Certamente, Nossa Senhora, a Estrela do Mar, cuidou dele e levou-o para a companhia daqueles que se aventuraram nos navios pela honra dela, pela honra de seu Filho e pela honra de sua pátria. As cores de Maria foram as cores dele — azul e branco”.

O legado do Almirante Dan Callaghan perdura como um símbolo de coragem, devoção e integridade. Seu nome é lembrado não apenas por suas conquistas militares, mas também pela fé inabalável que guiou sua vida e seus princípios. Em momentos de incertezas, ele se tornou um exemplo do que significa servir ao país com honra e devoção, um verdadeiro herói cujas ações ressoam até hoje.

 

ⒾⒶ

 

 

fontes:

SOELL, Werner, SJ in "Marianos Célebres", Rio, 1955, pág. 112 

www.defense.gov/News/Feature-Stories/Story/Article/3583983/medal-of-honor-monday-navy-rear-adm-daniel-j-callaghan/ Acesso em 13/5/2025

Comentários