As Reuniões das Congregações Marianas

Reunião da CM da Anunciação. Santos, SP.


Alexandre Martins, cm.



As Congregações Marianas possuem um rito de reunião especial. Essa forma de agrupar os Congregados marianos segue em base a concepção de “composição de lugar” citada frequentemente nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola.

Para Santo Inácio, é necessário que escolhamos um lugar adequado para podermos realizar o exercício espiritual pretendido e a escolha desse local influenciará a profundidade da meditação.

Mas não somente a escolha de um local define a reunião da Congregação mas sua estrutura segue basicamente um tripé: oração, meditação e ação.


O lugar


A primeira Congregação Mariana se reunia em uma sala de aula, depois das aulas, onde montavam um pequeno altar com a imagem de Nossa Senhora, com algumas flores1. Depois, com a quantidade maior de participantes, se reuniam na igreja do Colégio.

Era comum que as Congregações Marianas tivessem um altar especial nas igrejas e os Congregados se reunissem diante dele para escutar a meditação proposta pelo sacerdote.

Como se percebe, não será qualquer local que poderá ser realizada uma reunião de Congregação Mariana.

Isso posto, uma CM em paróquia deveria ter sua própria sala reservada. Caso isso não seja possível devido a número pequeno de membros ou as salas da paróquia estarem ocupadas, então para as reuniões da CM deve-se escolher uma sala que possa fechar a porta quando houver reunião.

Não se use o salão paroquial, a nave da igreja ou lugares aonde há muitas pessoas transitando. A reunião da CM deve ocorrer em um ambiente calmo, que favoreça a oração e a meditação.

Escolhido o lugar, disponha-se uma mesa com uma imagem (ou quadro) de Nossa Senhora de certo tamanho, o maior que puder. Coloque-se velas acesas em castiçais. Use uma toalha branca para cobrir a mesa. Uma imagem menor do padroeiro secundário e flores também podem ser usados. Isso tudo favorecerá a “composição de lugar” mencionada acima.

A posição das cadeiras, tradicionalmente, é como uma sala de aula: uma atrás da outra, em fileiras. A diretoria pode ficar em uma mesa na frente, entre o altar e a platéia mas somente sentam o presidente e o secretário, a não ser se há algum convidado palestrante, que sentará com eles. O leitor faz as leituras de pé, ao lado da mesa.


A Reunião antiga das CCMM


Segundo as antigas Regras de 19102, a reunião da CM obedecia ao seguinte programa:


  • Invocação do Espirito Santo com o hino Veni Creator;

  • Leitura de um livro piedoso durante dez ou quinze minutos, enquanto se reúnem os Congregados;

  • Anunciar as festas dos Santos e o Calendário de cada semana, quer seja comum, quer o próprio e aprovado para estas Congregações;

  • Cantar Oficio de Nossa Senhora.

  • Recitação das Ladainhas de Nossa Senhora, de alguma oração do Padroeiro secundário da Congregação, ou as que o costume tiver introduzido.


Mais coisas poderiam ser adicionadas mas a estrutura era basicamente essa.


A Reunião pela atual Regra de Vida


A Regra de Vida das CCMM do Brasil (RV)3 é ligeira no trato das reuniões. Há citações como “as reuniões ordinárias, nas quais deveria haver sempre uma parte destinada à formação, ao lado das orações e dos assuntos próprios da pauta da reunião” (RV29) a entrega do documento de transferência do Congregado deve ser feita nessas reuniões (RV53) que “deve o Congregado Mariano participar, com fidelidade e entusiasmo, (…) das orações próprias das reuniões ordinárias (RV23)


A Reunião da CM da UFRJ


A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) possui uma CM para alunos da graduação desde 1995. As reuniões são semanais dentro do Campus no período das aulas, havendo algumas atividades durante as férias, fora.


As reuniões seguem este programa:


ORAÇÕES INICIAIS 


℣. Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.

℟. Amém.


VENI CREATOR Spíritus

Méntes tuórum visita,

Ímple supérna grátia,

Quae tu creásti, péctora.


Qui dicéris Paráclitus,

Altíssimi dónum Dei

Fons vívus, ígnis, cáritas,

Et spiritális únctio.


Deo Pátri sit glória,

Et Fílio, qui a mórtuis 

Surréxit, ac Paráclito

In saeculórum saécula. Amen.


℣. Enviai, Senhor, o Vosso Espírito e tudo será criado

℟. E renovareis a face da terra



Oremos:
Ó Deus que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo Senhor Nosso. Amém.


PEQUENO OFÍCIO

Recita-se o Pequeno Oficio da Imaculada Conceição em 2 Coros.


LEITURA DO CALENDÁRIO MARIANO

O Secretário faz a leitura do calendário da semana


LEITURA / PALESTRA

Feita pelo Leitor ou Palestrante


ORAÇÕES FINAIS


INTENÇÕES... (AVE MARIA...)



LEMBRAI-VOS, ó piíssima Virgem Maria, / que nunca se ouviu dizer / que algum daqueles que tenham recorrido à vossa proteção, / implorado a vossa assistência, / e reclamado o vosso socorro, / fosse por Vós desamparado./ Animado eu, pois, com igual confiança, / a Vós, Virgem entre todas singular, / como a Mãe recorro, / de Vós me valho / e, gemendo sob o peso dos meus pecados, / me prostro aos Vossos pés. / Não desprezeis as minhas súplicas, / ó Mãe do Filho de Deus humanado, / mas dignai-Vos de as ouvir propícia / e de me alcançar o que Vos rogo. / Amém.


LEMBRAI-VOS, mãe amorosíssima, desta Congregação, / que instituístes como cidade de refúgio / para salvaguardar da corrupção geral / os descendentes não-degenerados / daqueles que vos amaram e serviram tanto. / Fazei que as vossas Congregações/ se multipliquem nesta Terra, / que é vossa, / neste Brasil, / que nossos antepassados vos consagraram. /  Não permitais que o demônio lance a desunião / entre os que estão unidos no vosso amor, / que prometeram vos servir / e de quem sois mãe. / Perdoai-nos por último, / mãe piedosíssima, / a nossa tibieza, / a nossa frouxidão /  e negligência no vosso serviço: / Alcançai-nos de vosso divino Filho / o perdão dos nossos pecados, / dai-nos o vosso amor / e abençoai-nos / em nome do Pai, † e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.


ANTÍFONAS DE NOSSA SENHORA 


Tempo comum


SALVE REGINA, mater misericordiae / Vita, dulcedo, et spes nostra, salve. / Ad te clamamus, exsules, filii evae. / Ad te suspiramus, gementes et flentes / in hac lacrimarum valle. / Eia ergo, Advocata nostra, / illos tuos misericordes oculos / ad nos converte. / Et Iesum, benedictum fructum ventris tui, / nobis post hoc exsilium ostende. / O clemens, O pia, O dulcis Virgo Maria.


Tempo pascal


REGINA COELI, laetare, Alleluia / Quia quem meruisti portare, Alleluia / Resurrexit, sicut dixit, Alleluia / Ora pro nobis Deum, Alleluia.


Tempo quaresmal


AVE REGINA CAELORUM, Ave, Domina Angelorum / Salve, radix, salve, porta / Ex qua mundo lux est orta / Gaude, Virgo gloriosa / Super omnes speciosa, / Vale, o valde decora, / Et pro nobis Christum exora.


Tempo do advento


ALMA REDEMPTORIS MATER, quæ pérvia cæli / Porta manes, et stella maris, succúrre cadénti, / Súrgere qui curat pópulo: tu quæ genuísti, / Natúra miránte, tuum sanctum Genitórem / Virgo prius ac postérius, Gabriélis ab ore / Sumens illud Ave, peccatórum miserére.


℣. Nossa Senhora Rainha da Paz 
℟. Rogai por nós 
℣. São Tomás de Aquino
℟. Rogai por nós 
℣. Nos cum prole pia
℟. Benedicat Virgo Maria 



Conclusão


Pelo disposto, percebe-se a preocupação das CCMM em reunir-se para a oração em comum, para a formação espiritual dos Congregados e, naturalmente, seu apostolado no meio.

As CCMM são de certo modo livres para as adaptações ao ambiente aonde estejam, a cultura do lugar, as pessoas que as compõem, etc. O importante é que se tenha em mente o objetivo de uma reunião de CM que é muito mais do que apenas uma confraternização de amigos ou um grupo para oração. Nossas tradições dizem muito mais aos jovens do que a maioria dos grupos atuais e percebe-se um grande interesse das novas gerações nesses costumes piedosos dos Congregados de outrora. Como diz a Regra de Vida, “a vida de piedade do Congregado Mariano se manifesta em alguns exercícios que se tornaram tradicionais, recomendados pelas antigas Regras Comuns, e continuam plenamente válidos.”(RV20)

Façamos de nossas Congregações diferentes do que vemos em outros movimentos e pastorais para que tenhamos o clima que Santo Inácio de Loyola desejava para os leigos da Igreja.



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1Maia, Antonio in “Breve História das CCMM”, Rio 1955

2As Regras Comuns de 1910 foram redigidas pelo Prepósito Geral dos Jesuítas, pe. Wernz, e estiveram em vigor até 1967. A Regra de Vida das CCMM do Brasil usa várias partes dela no seu texto atual.

3A Regra de Vida das CCMM do Brasil, organizada e redigida por D. José Carlos de Lima Vaz, SJ, foi aceita pela CNBB em 1991.

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