bem-aventurado Ernesto Shaw

 



Alexandre Martins, cm.



A história das Congregações Marianas sempre se caracterizou pela formação de leigos capazes de unir, de modo orgânico e coerente, vida interior profunda, devoção mariana sólida e compromisso apostólico concreto no seio do mundo.

Nesse horizonte espiritual e eclesial, a figura de Enrique Ernesto Shaw se impõe como um testemunho singular de santidade laical vivida com responsabilidade, disciplina e espírito de serviço.

 

Leigo mariano, dirigente cristão e testemunha de santidade no mundo


Nascido em 26 de fevereiro de 1921, em Paris, filho de pais argentinos, Enrique perdeu a mãe ainda na infância. Essa experiência precoce de dor contribuiu para amadurecer nele uma confiança filial especial na Virgem Maria, que se tornaria eixo silencioso, porém constante, de sua vida espiritual. De volta à Argentina, recebeu formação no Colégio La Salle, ambiente decisivo para sua educação humana, intelectual e cristã.

Durante os anos de formação escolar, Shaw participou da Congregação Mariana vinculada ao colégio, inserindo-se, desde jovem, numa espiritualidade marcada por práticas estáveis: vida sacramental regular, devoção mariana ordenada, exame de consciência e senso de responsabilidade apostólica. Esse período não foi episódico, mas estruturante, lançando bases sólidas para sua compreensão da fé como compromisso permanente e exigente.

Ainda adolescente, ingressou na Escola Naval Militar, onde se destacou pela seriedade, disciplina e retidão moral. Mesmo no contexto da vida militar e das longas viagens marítimas, manteve fidelidade à oração e à prática religiosa, organizando momentos de catequese e formação cristã para os companheiros de bordo. Já então se manifestava um traço típico do ideal congregacional: a fé vivida publicamente, com naturalidade e espírito apostólico, sem concessões nem ostentação.

Em 1943, contraiu matrimônio com Cecilia Bunge, com quem formou uma família numerosa, acolhendo nove filhos. O lar foi, para Enrique Shaw, lugar privilegiado de vivência cristã: oração em família, educação religiosa dos filhos, confiança cotidiana na Providência e devoção sincera a Nossa Senhora. A vida familiar não foi vista como obstáculo à santidade, mas como campo próprio de fidelidade a Deus.

Ao deixar a carreira naval, discerniu que sua vocação se realizaria no mundo empresarial, assumindo responsabilidades de direção na empresa Cristalerías Rigolleau. Nesse contexto, procurou aplicar de modo concreto os princípios da Doutrina Social da Igreja, promovendo relações de trabalho baseadas na justiça, no respeito e no diálogo. Para Shaw, o dirigente cristão não é mero administrador de recursos, mas servidor do bem comum, responsável pela dignidade das pessoas que lhe são confiadas.

Em 1952, fundou a Associação Cristã de Dirigentes de Empresa (ACDE), com o objetivo de formar empresários capazes de integrar fé, ética e vida profissional. A iniciativa representou um passo significativo no apostolado laical argentino, oferecendo estrutura, formação e acompanhamento espiritual a dirigentes cristãos chamados a agir no coração da vida econômica.

Um episódio frequentemente recordado ilustra de modo eloquente o espírito com que viveu essa missão: durante sua grave enfermidade, necessitando de transfusões de sangue, centenas de trabalhadores se apresentaram espontaneamente como doadores, expressão concreta de reconhecimento, respeito e comunhão humana. Tal fato revela não apenas sua competência profissional, mas a qualidade profundamente cristã de sua liderança.

Enrique Shaw faleceu em 1962, aos 41 anos, após prolongada doença, vivida com serenidade, abandono confiante em Deus e espírito de oferta. Sua fama de santidade permaneceu viva, levando à abertura de sua causa de canonização em 2001. O processo foi aberto na Argentina sob o cardeal Jorge Mario Bergoglio - o futuro Papa Francisco. O Papa Leão XIV autorizou o Dicastério para as Causas dos Santos a promulgar o decreto referente ao milagre atribuído à intercessão do Venerável Servo de Deus Enrico Ernesto Shaw, em 18 de dezembro de 2025. Assim, Shaw será reconhecido como beato pela Igreja Católica.

 

Enrique Shaw como modelo para Congregações Marianas de adultos e dirigentes

 

Para as Congregações Marianas de adultos e dirigentes, a figura de Enrique Shaw apresenta-se como referência particularmente fecunda. Nele se harmonizam, de modo exemplar, os elementos centrais do ideal congregacional: vida interior disciplinada, devoção mariana discreta e firme, fidelidade à Igreja, espírito de obediência e zelo apostólico exercido no próprio estado de vida.

Shaw demonstra que a formação recebida na Congregação Mariana não se esgota na juventude, mas pode frutificar ao longo de toda a existência, iluminando decisões familiares, profissionais e sociais. Seu testemunho confirma que o dirigente cristão é chamado a exercer autoridade como serviço, a viver a responsabilidade como vocação e a transformar estruturas temporais segundo o espírito do Evangelho, sob a proteção de Maria.

Assim, Enrique Shaw não é apenas um exemplo edificante, mas um modelo concreto de maturidade congregacional, especialmente para aqueles que, no mundo adulto, assumem funções de liderança e desejam permanecer fiéis ao espírito mariano clássico, integrando fé, dever e apostolado na vida cotidiana.



IA

 

 

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