Enrique Ernesto Shaw (1921–1962) disciplina, fé e missão no serviço à pátria e à Igreja
Para o Congregado Mariano que serve na Marinha, a vida de Enrique Ernesto Shaw oferece um testemunho singularmente próximo e exigente. Oficial naval, homem de fé sólida, dirigente formado na espiritualidade mariana e apóstolo no exercício da autoridade, Shaw mostra que a vida militar não é obstáculo à santidade, mas pode tornar-se escola de entrega, fidelidade e serviço cristão.
Sua trajetória revela com clareza que o espírito mariano clássico — longe de qualquer sentimentalismo — forma homens capazes de unir disciplina, obediência e profunda vida interior, mesmo em ambientes marcados pela dureza, pelo risco e pela responsabilidade.
Formação mariana e espírito de corpo
Nascido em Paris, em 26 de fevereiro de 1921, filho de pais argentinos, Enrique retornou ainda criança à Argentina. A morte precoce de sua mãe marcou profundamente sua infância, mas também fortaleceu sua formação religiosa. Seu pai, fiel ao desejo da esposa, confiou sua educação espiritual a sacerdotes, lançando bases firmes para uma fé vivida com constância.
No Colégio La Salle de Buenos Aires, destacou-se como estudante aplicado, mas, sobretudo, como jovem de vida espiritual ordenada. Comungava diariamente e exerceu funções de responsabilidade na Congregação Mariana, onde aprendeu que a devoção a Nossa Senhora exige coerência, domínio de si e prontidão para o serviço.
Para o militar congregado, este ponto é decisivo: a formação mariana educa o caráter, prepara para a obediência legítima e fortalece o espírito de corpo iluminado pela fé.
A Escola Naval: disciplina exterior e apostolado silencioso
Ainda adolescente, apesar da resistência paterna, ingressou na Escola Naval Militar. Ali se revelou um oficial exemplar: disciplinado, estudioso e fiel aos deveres do estado militar. Destacou-se entre os melhores de sua turma e foi o mais jovem graduado até então na instituição.
Foi sobretudo nos mares austrais, em condições exigentes e frequentemente adversas, que Enrique exerceu um apostolado discreto e constante. Sem discursos fáceis, dava testemunho pela conduta, pela fidelidade aos sacramentos e pela serenidade diante das provações.
Para o Congregado Mariano da Marinha, sua experiência recorda que o apostolado militar não se faz principalmente por palavras, mas pela presença fiel, pela honra vivida e pela coragem silenciosa.
Busca da verdade e conversão interior
Mesmo plenamente integrado à vida naval, Enrique não cessou de buscar respostas profundas. Desde jovem leu avidamente obras de política, economia, história e filosofia. No entanto, foi somente ao entrar em contato com a Doutrina Social da Igreja que encontrou a síntese que procurava: uma visão cristã capaz de ordenar autoridade, justiça e bem comum.
Ele próprio chamou esse encontro de sua “conversão”. Para o militar mariano, trata-se de um ponto fundamental: a fé não se opõe à razão nem à ordem, mas as purifica e lhes confere sentido superior.
Discernimento vocacional e obediência interior
Já oficial e pai de família, Enrique compreendeu que Deus o chamava a um apostolado específico. Pensou inicialmente em abandonar tudo para tornar-se operário. Contudo, em atitude de humildade e obediência espiritual, aceitou o discernimento da Igreja, que o orientou a levar o Evangelho ao mundo da autoridade e da direção, para o qual fora preparado.
Essa atitude revela um traço profundamente mariano: disponibilidade total à vontade de Deus, sem apego à própria imagem nem às soluções fáceis.
Da farda à empresa: continuidade de missão
Ao deixar a Marinha, Enrique não rompeu com o espírito militar. Pelo contrário, levou consigo a disciplina, o senso de dever, a hierarquia interior e a responsabilidade aprendidas na vida naval. Esses elementos moldaram sua atuação posterior como dirigente empresarial e líder cristão.
A fundação da Associação Cristã de Dirigentes de Empresa (ACDE) foi fruto dessa mentalidade de serviço organizado, semelhante ao espírito de missão própria da vida militar: formar homens, estruturar ações, agir em comunhão com a Igreja.
Provação, fidelidade e entrega final
Em 1957, o diagnóstico de câncer marcou uma nova etapa de sua vida. Como bom militar cristão, enfrentou a doença sem revolta, com firmeza e espírito de oferta. Continuou trabalhando, escrevendo e formando outros, enquanto aprofundava sua união com Cristo.
Pouco antes de morrer, agradeceu publicamente aos trabalhadores da empresa, especialmente aos que haviam doado sangue para suas cirurgias. Esse gesto simples resume sua vida: autoridade exercida como serviço, até o fim.
Faleceu em 27 de agosto de 1962, aos 41 anos, após oferecer conscientemente sua vida a Deus, sustentado por uma fé serena, viril e profundamente mariana.
Um modelo para Congregados Marianos da Marinha
Para os Congregados Marianos militares, Enrique Shaw é um modelo particularmente próximo. Ele demonstra que a espiritualidade mariana forma homens de honra, disciplina e sacrifício, capazes de servir à pátria sem perder a alma e de obedecer sem abdicar da consciência cristã.
Sua vida ensina que:
a vida interior sustenta a obediência exterior;
a disciplina militar pode ser caminho de santidade;
a devoção a Maria educa para a fidelidade, o silêncio e a entrega.
Hoje, enquanto sua causa de beatificação avança na Igreja, Enrique Shaw permanece como sinal claro de que a Marinha também é terreno fecundo para o apostolado mariano, quando vivida sob o olhar de Nossa Senhora, Estrela do Mar.
IA

El Observador en Línea – “Enrique Shaw, empresario y candidato a santo” (2021)
https://elobservadorenlinea.com/2021/11/enrique-shaw-empresario-y-candidato-a-santo/Universidade La Salle Argentina – Suplemento La Salle, nº 37 (jun. 2021)
https://www.lasalle.edu.ar/sites/default/files/2024-08/10%20SL-37-Jun21.pdfACI Prensa – Dossiê biográfico de Enrique Shaw
https://www.aciprensa.com/vejemplares/shaw.htmMadrugadores de Buenos Aires – “Siervo de Dios Enrique Shaw” (2009)
https://madrugadoresbuenosaires.blogspot.com/2009/08/siervo-de-dios-enrique-shaw.html
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